Dr.ª Lèlita Santos*
Sobre o impacto do encerramento do SNS, a pretexto da pandemia, no agravamento do número de diabéticos não diagnosticados, diminuição no rastreio da retinopatia diabética e redução nas consultas do pé diabético.
Estes números são devidos, sobretudo, aos
hábitos sedentários e à má alimentação, sendo a obesidade uma das causas mais
associadas a esta patologia.
Portugal é, de entre os países europeus,
aquele que regista uma das mais elevadas taxas de prevalência da diabetes,
sendo que cerca de 13,3% da população portuguesa entre os 20 e os 79 anos de
idade tem diabetes, o que corresponde a mais de um milhão de indivíduos, de
acordo com os últimos dados do Observatório Nacional da Diabetes. O mais grave
ainda, é que existem muitos diabéticos que desconhecem que o são, o que vai
condicionar o aparecimento de complicações da doença não controlada, aumentando
o risco de morte prematura e diminuindo a qualidade de vida.
Atualmente, não existem números muito recentes
sobre a diabetes, mas é expectável que a crise de saúde pública devida à
pandemia COVID-19 tenha agravado o número de casos de diabéticos não
diagnosticados. Estima-se que, em Portugal, cerca de 20 mil pessoas possam não
ter tido acesso às condições para um diagnóstico precoce da patologia.
Igualmente e de acordo com o Relatório Anual
de Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades
Convencionadas 2020, não só houve menos novos casos de diabetes diagnosticados,
mas, também, diminuição no rastreio da retinopatia diabética e redução nas
consultas do pé diabético.
Também é preocupante que neste período, o
número de internamentos por condições agudas da diabetes tenha aumentado e que
milhares de consultas e tratamentos tenham sido adiados, o que, a médio e longo
prazo, poderá ter consequências graves na saúde dos doentes.
Percebendo a dificuldade de acesso dos doentes
aos cuidados de saúde durante a pandemia, foi criado um serviço de linha
telefónica pelo Núcleo de Diabetes Mellitus da SPMI, pela Sociedade Portuguesa
de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e pela Sociedade Portuguesa
de Diabetologia (SPD), com o objetivo de proporcionar informações sobre
“COVID-19 e Diabetes”. Este serviço foi muito útil no apoio às pessoas com
diabetes e recebeu, só num espaço de dois meses, mais de 500 telefonemas de
cuidadores, familiares e doentes com diabetes.
Assim, é bem apropriado o tema escolhido pela Federação
Internacional da Diabetes para comemorar o Dia Mundial da Diabetes no período
2021-2023 que foca o acesso aos cuidados para a diabetes pois, mesmo sem a
pandemia, ainda existem milhões de pessoas no mundo que não têm os cuidados de
saúde que necessitam.
Este ano, o Dia Mundial da diabetes é ainda
mais simbólico, pois associa-se à comemoração dos 100 anos da descoberta da
insulina, que surgiu da investigação conjunto de Frederick Banting e Charles
Best, em 1921.
É não só fundamental proporcionar às
populações o acesso fácil aos cuidados de saúde, mas, também, ter os meios para
que a diabetes seja diagnosticada e tratada precocemente. A sua prevenção tem
por base as campanhas de sensibilização e de prevenção junto das populações,
fornecendo as ferramentas para as alterações ao estilo de vida, com o objetivo
de atingir e manter um peso saudável, uma atividade física adequada e uma dieta
equilibrada que evite os açúcares e as gorduras saturadas. Estas medidas podem
ser muito eficazes na prevenção a diabetes tipo 2 e no atraso no aparecimento
das suas complicações.
* médica especialista em Medicina Interna e
presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI),
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