quinta-feira, 30 de junho de 2016

Problemas de comportamento e de saúde disparam nos lares de crianças


Andreia Sanches (Público)

«Há mais jovens com comportamentos problemáticos e de saúde. Há mais adolescentes. E tudo isto são desafios às casas de acolhimento. Governo promete mudanças. Medidas anteriores à retirada às famílias biológicas podem não estar a ser eficazes.

No final de Outubro de 2015 viviam em instituições de acolhimento 8600 crianças e jovens. O número dos que foram identificados como tendo problemas de comportamento, de saúde mental, de debilidade mental, de consumo de substâncias ou de algum tipo de deficiência física ou mental aumentou 38%, num só ano em 2014 já tinha existido um aumento de 10% face a 2013.

A maioria (5032) das crianças e jovens era acompanhada em psiquiatria e/ou pedopsiquiatra um aumento de cerca de 22% face a 2014. E um em cada quatro tomava medicação prescrita por um psiquiatra ou por um pedopsiquiatra. "São crianças que trazem percursos de vida extremamente traumatizantes e que precisam de um grande apoio para poderem reencontrar o seu equilíbrio", sublinhou nesta quarta-feira a secretária de Estado da Inclusão Ana Sofia Antunes durante a apresentação do relatório CASA 2015 Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens, feita aos jornalistas.

O relatório nota que se mantêm "os gravíssimos constrangimentos já registados nos anos anteriores nas situações que carecem de internamento/acolhimento em resposta específica de saúde mental". Lembra que há seis anos que está prevista a criação uma rede de Cuidados Continuados de Saúde Mental, mas que esta "ainda não foi concretizada, fazendo com que estes jovens fiquem acolhidos em casas de acolhimento não adequadas às suas problemáticas específicas". Resultado: quando entram em crise ou descompensação, "colocam-se muitas vezes a si próprios em perigo, bem como às outras crianças e jovens acolhidos" e aos profissionais que com eles trabalham.

Ana Sofia Antunes promete uma "revisão do regime de funcionamento das casas de acolhimento, de modo a apetrechá-las" melhor, para fazer face aos novos desafios colocados pela mudança que tem vindo a registar-se no perfil das crianças e jovens que nelas habitam. E o aumento dos problemas de comportamento e de saúde mental é um grande desafio. Mas haverá mais mudanças, diz.

Texto completo em publico.PT

terça-feira, 14 de junho de 2016

Portugal tem elevadas desigualdades sociais em saúde

 

«O relatório elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) indica que "o acentuado corte nas despesas com saúde", que "fizeram baixar alguns pontos no ranking da OCDE, tiveram efeito mais acentuado nas despesas com medicamentos e recursos humanos". Em relação às desigualdades sociais em saúde, os autores concluíram que estas são uma "evidência recente para Portugal".

As desigualdades em saúde em Portugal são elevadas e os anos de "profunda recessão económica e de cortes orçamentais" tiveram consequências que ainda não são conhecidas, indica o Relatório de Primavera deste ano.

"Portugal tem vivido anos de profunda recessão económica e de cortes orçamentais em várias áreas, incluindo a saúde, educação e segurança social. Neste sentido, as desigualdades em saúde representam uma preocupação acrescida, à luz dos custos elevados que acarretam", lê-se no documento, elaborado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

Intitulado "Saúde procuram-se novos caminhos", o documento começa por recordar os relatórios elaborados nos últimos seis anos, nomeadamente sobre a questão da crise na saúde.

"Constatamos que a crise e o seu impacto na saúde dominou as atenções nesses anos tendo o OPSS apresentado ao longo desses anos diversas sugestões e alertas que poucas vezes foram tidos em conta", lê-se no relatório que será hoje apresentado em Lisboa, na presença do ministro da Saúde.

Os autores indicam que "o acentuado corte nas despesas com saúde", que "fizeram baixar alguns pontos no ranking da OCDE, tiveram efeito mais acentuado nas despesas com medicamentos e recursos humanos".

"Esses cortes ultrapassaram os cortes propostos pela troika no Memorando de Entendimento e ainda estamos longe de conhecer o verdadeiro impacto no sistema nacional de saúde, nomeadamente nos ganhos em saúde obtidos ao longo dos últimos anos".

Em relação às desigualdades sociais em saúde, os autores concluíram que estas são uma "evidência recente para Portugal", país onde existem "razões adicionais de preocupação".

"A evidência prévia demonstra que as desigualdades em saúde em Portugal são elevadas. Uma revisão sistemática recente aponta para a existência de disparidades em vários indicadores de saúde (como saúde auto-reportada, saúde mental, sintomas cardiovasculares e obesidade), relacionadas principalmente com instrução e género".

O OPSS recorda que "Portugal é um dos países mais desiguais da Europa em termos de rendimento", encontrando-se "entre os países com maior desigualdade, próximo de outros países do Sul da Europa, como Espanha, Grécia, Itália, ou Chipre, e países de Leste".

"No mesmo sentido, o risco de pobreza ou exclusão social é elevado em Portugal, quando comparado com outros países europeus, com taxas semelhantes àquelas observadas noutros países do Sul da Europa".

Um dos dados apresentados refere que "as pessoas sem formação têm um risco de ter má saúde seis vezes superior, em comparação com as pessoas com mais formação (ensino secundário ou mais)".

"O risco de diabetes é mais de quatro vezes superior no grupo sem formação, e o risco de hipertensão e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é três vezes superior. Para a depressão, o risco é mais elevado nos grupos com menor educação, embora seja superior para as pessoas com ensino básico comparado com as pessoas sem formação".

"Seja qual for a doença, a desigualdade aumentou claramente entre 2005 e 2014, independentemente do sexo e da idade".

Nos idosos, as desigualdades em saúde são ainda mais marcadas: "O risco de má saúde é cinco vezes superior nas pessoas sem educação e mais de duas vezes superior nas pessoas com ensino básico. O risco de doença crónica é quatro vezes superior nas pessoas sem educação e o risco de limitações mais de três vezes superior".

Os autores concluem ainda que, "apesar do carácter universal e tendencialmente gratuito do Serviço Nacional de Saúde (SNS), os cuidados de especialidade estão desigualmente distribuídos na população, a favor dos mais educados. Este facto também poderá contribuir para as desigualdades em saúde".

Para o OPSS, os dados analisados "indicam claramente que o SNS, apesar dos seus grandes e demonstrados benefícios para a saúde da população, e do seu carácter universal e tendencialmente gratuito, não é suficiente para combater as desigualdades em saúde".

Entre as várias estratégias para combater as desigualdades em saúde, os autores defendem que "as políticas de saúde pública devem focar os comportamentos de risco álcool, tabagismo, sedentarismo, dieta inadequada através de instrumentos económicos (impostos) e da regulação (por exemplo das gorduras, do sal ou do açúcar)".

"Os programas de rastreio devem ser acessíveis a todos, assim como os cuidados de saúde", preconiza o Observatório.

O OPSS é uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, o Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Universidade de Évora, e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.»

Lusa e Económico

"Os laboratórios farmacêuticos inventam doenças"



«Joan-Ramon Laporte é chefe do serviço de farmacologia do Hospital Vall d’Hebron. É catedrático em farmacologia na UAB e dirige a Fundação Instituto Catalão de Farmacologia.

"Os medicamentos são a terceira causa de morte após o infarto e o câncer, segundo estudos feitos nos EUA. A cada ano morrem 100.000 pessoas por erros de medicação, e 100.000 por efeitos adversos".

"A implicação dos medicamentos em patologias comuns é muito importante. Os medicamentos produzem doenças que não se distinguem das outras. Podem produzir um infarto de miocárdio, ou que a pessoa caia e quebre o fêmur, ou um ataque psicótico".

"Só na Catalunha há entre 6.000 e 9.000 fraturas de cabeça de fêmur por ano: entre 13 e 14% delas têm a ver com o omeoprazol e medicamentos análogos. Dificulta a absorção do cálcio e as pessoas que o tomam habitualmente desenvolvem osteoporosis. Um 8,4% das fraturas as produzem medicamentos para dormir. Mais de 300 têm a ver com antidepressivos".

"A industria farmacêutica está medicamentando tudo. Os laboratórios inventam doenças, convertem a tristeza em depressão, a timidez em fobia social ou o colesterol numa doença. Os lobbies farmacêuticos promovem mais mentiras que medicamentos. Dizem que são mais eficazes do que realmente são".

"Embora as permissões de comercialização sejam dadas pela Agência Europeia de Medicamento, cada país pode decidir se financia um determinado medicamento. Na Espanha se financiam todas as novidades. Por exemplo, há seis medicamentos anti-neoplásicos que Grã Bretanha recusou financiar e que aqui se financiam".

"Quando um medicamento sai ao mercado, é tão pouco conhecido, porque foi estudado tão pouco, que não estamos certos de que não possa ter efeitos indesejados graves".

"Na Espanha nos polimedicamos. Há 15 anos se davam entre 12 e 13 receitas por pessoa ao ano. Agora, quase 20. Pelo menos a metade dos medicamentos que tomamos são desnecessários. Há gente que durante toda sua vida toma medicação para dormir, após três ou quatro semanas o corpo já o assimilou e é tão eficaz como o placebo".

"Os laboratórios não dão acesso público aos ensaios clínicos. Também o não dão ao sistema de saúde. A Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários aprova medicamentos sem ver os dados de cada um dos pacientes que participaram nos ensaios".

"O tempo que se demora em retirar um medicamento porque produz efeitos indesejados graves passou de seis ou sete anos em 2004, a 12 ou 14 anos hoje em dia. Custa muito mais retirá-los, e isto é pela crescente influência da industria sobre os sistemas de saúde, tal como denunciou o Conselho da Europa".»

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