Frustrações
em nossa vida diária, angústias e excentricidades estão
constantemente sendo categorizadas como doenças que merecem, além
de uma grande atenção por parte da medicina, também uma rápida e
certeira intervenção medicamentosa. Segundo Castiel,
“a medicalização pode
ser entendida como o processo pelo qual problemas que não são
considerados de ordem médica passam a ser vistos como doenças ou
problemas médicos. Isto pode ocorrer tanto em relação a condições
naturais de vida, quanto em relação a desvios de comportamento,
tais como tristeza, falta
de atenção, alcoolismo, distúrbios
alimentares e dificuldades
na aprendizagem,
dentre outros”.
O
termo “medicamentalização”
é um conceito criado para se referir ao controle médico da mente
dos indivíduos operacionalizados por inúmeros recursos
farmacológicos. “De forma bastante esquemática e alegórica, será
cabível imaginar que seremos cada vez mais dirigidos pela produção
de subjetividades constituídas
por um peculiar grupo de protótipos em função da hiperprevenção
terapeuticalizadora e
de suas variantes, todos chefiados, claro, pelo homo
oeconomicus do utilitarismo que
estabelece as receitas corretas de busca autônoma da felicidade.
Então teremos vários componentes de um esquadrão
imaginário hiperpreventivo”.
Somos
“reféns” de uma sociedade altamente entregue ao fenômeno da
“medicamentalização do
comportamento”.
Problemas que antes eram tratados em sua complexidade e
singularidade, hoje são apresentados como
doenças, déficits ou transtornos.
Uma vez classificado como “doente”, o indivíduo torna-se
consumidor dos mais variados medicamentos,
que visam “consertar” o suposto desvio. “Queremos crer que o
termo medicamentalidade,
subsumindo, implicitamente, a dimensão diagnóstica dentro de uma
perspectiva de gestão securitária das populações baseada na
racionalidade dos riscos poderia explicar melhor o panorama dominante
em geral das práticas preemptivas medicamente definidas. Algo como a
mentalidade médica que se torna abusiva ao propor
tratamentos medicamentosos ampliados
para além dos medicamentos usuais
ao incluir, por exemplo, alimentação e atividade física como
remédios. E, ainda, haveria o plusvalor da vantagem de abordar
outras práticas extramédicas de
saúde que mimetizam a perspectiva preventiva, diagnóstica,
terapêutica, reabilitadora e prognóstica do saber biomédico”.