sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O desmontar da tenda e o balanço de dois anos de pandemia

 

Após o negócio das vacinas, dos testes, máscaras e outro material sanitário, o governo e DGS mandaram desmontar a tenda. O Gabinete de Crise cessou funções porque "Vamos entrar numa fase endémica", ficando como "A única preocupação que ainda devemos ter é com as pessoas acima dos 65".

Dá-se a ideia de que aquela não terá sido uma preocupação por aí além, porque ainda estamos à espera de conhecer o número de idosos mortos por covid ou outras doenças nos lares. Como também se desconhece se o governo desmantelou algum dos 3500 lares ilegais e se alguma coisa criou no seu lugar. Ao que sabemos e quanto a esta última questão nada.

Quase 8,9 milhões de pessoas com vacinação completa em Portugal, diz a imprensa alugada por 15 milhões de euros para fazer eco do discurso sem alternativa do governo e o seu secretariado de propaganda para a saúde, a DGS. Esta acaba de dizer que “está a equacionar fim do uso de máscaras no interior”.

Já não nos encontramos em estado de calamidade, a maior parte das restrições foram levantadas e o famigerado “certificado digital” agora só é exigido no controlo das fronteiras. Costa prometeu há uma semana que as restrições irão acabar, depois do profeta Marcelo ter profetizado que está para breve a “nova fase de transição da pandemia para a endemia”.

Para Abril serão levantadas as últimas restrições, porque o alívio de restrições deve ser “progressivo e cauteloso” segundo a douta e balizada opinião dos médicos de saúde pública, funcionários do estado e muitos deles financiados pelos laboratórios farmacêuticos. Na prática foi declarado o fim da pandemia.

O tema coivid-19 e vacinas já foi sobreposto por temas mais importantes e vendáveis para os media e para os donos disto tudo (DTT). Os ataques cibernéticos a jornais, operadoras de telecomunicações, televisões e laboratórios farmacêuticos, foram providenciais. Apagaram um pouco a covid.

E, não vá o Diabo tecê-las e alguém lembrar-se de investigar alguns assuntos menos claros relacionados com o negócio da pandemia, a destruição de arquivos terá sido um acidente bem oportuno. Faz-nos lembrar o Portas a destruir os documentos relacionados com o negócio dos submarinos no último dia do governo.

Contudo, a melhor coisa que poderia ter acontecido para apagar a memória, geralmente curta do cidadão que gosta de ser manipulado, é indubitavelmente a guerra da Ucrânia – ainda dizem mal do Putin!

Várias razões levaram a que o circo fosse desmontado e não se prolongasse por mais tempo uma operação que logo ao princípio continha alguns riscos, e riscos elevados. O principal, a possibilidade da revolta das pessoas, especialmente os sectores mais afectados pelas medidas restritivas impostas no quadro dos estados de emergência e mesmo fora destes.

As múltiplas e frequentes manifestações preocuparam os governos, e os “comboios da liberdade”, que tiveram origem no Canadá, ameaçavam contagiar a Europa, numa propagação ainda mais rápida do que a do SARS.CoV.2. E, já com o negócio das vacinas praticamente concluído, Bruxelas deu ordem aos governos locais desarmar a tenda.

Por cá, cerca de 10% dos enfermeiros do SNS pediram escusa de responsabilidade, tal era, e ainda é, a falta de condições de trabalho e os ritmos intensos impostos pelos cortes e cativações orçamentais.

Nunca se procedeu a uma testagem massiva e rotineira dos trabalhadores da saúde durante os dois anos da pandemia, ao contrário do que era norma fazer à população de forma quase indiscriminada, mas como nos últimos tempos começaram a aparecer muitos profissionais de saúde com a doença covid e após terem sido vacinados, o que não deixa de ser irónico, e com serviços do SNS a fechar parcialmente, então terá sido uma boa razão para se colocar ponto final à farsa trágico-cómica.

Afinal, a vacina não impede nem a contaminação nem a doença, mas, logo acrescentaram, impede a doença grave e os internamentos. Sempre houve argumentação para tudo e mais alguma coisa, parecendo que a coisa foi bem planeada a todos os níveis, nomeadamente ao nível da propaganda e da manipulação das massas.

Contudo, e contrariando os números avançados pela DGS, a vacinação não terá corrido assim tão bem: “Vacinação das crianças aquém das expectativas motiva apelo aos pais”.

Ficamos com novos conceitos, por exemplo, em vez de “portador são” temos agora “doente assintomático”, ao que parece um avanço extraordinário da “ciência baseada na evidência”, como se a ciência fosse uma religião com dogmas inamovíveis e não um processo de observação e de experimentação assente na ignorância e na dúvida, e sempre em mudança.

Deram-nos a saber que o SNS falha porque está na sua natureza e não no desinvestimento e sabotagem intencional e repetida dos governos e de alguém que o parasita para justificar o negócio privado da doença: "Sucesso dos seguros é prova de que o serviço público de saúde falha", a par do enriquecimento de laboratórios e de organizações da classe médica com a incontornável Ordem na primeira linha.

E quando os proveitos não foram os esperados, porque contavam com os clientes devido o encerramento parcial do SNS (o dos cuidados primários foi praticamente total), vêm agora muito candidamente exigir ao governo o ressarcimento: “Privados alegam prejuízos decorrentes da pandemia (Grupo CUF, Grupo Lusíadas e Luz Saúde, esta exige 45 milhões de euros)”.

O balanço de dois anos de pandemia, de forma muito sucinta e por alto, foi:

20 mil mortos com diagnóstico covid, na grande maioria idosos, que em anos anteriores teriam morrido de gripe e de outras doenças do foro respiratório (morrem cerca de 12 mil por ano), mas por enigmática coincidência quase ninguém faleceu por estas doenças nestes dois anos;

Milhares de outras doenças, cancros, doenças cardio-vasculares, diabetes, etc. que ficaram por diagnosticar ou por tratar e várias outras, nomeadamente do foro mental, foram agravadas devido aos confinamentos;

Os privados reivindicam e já têm garantido a participação no SNS, são os grupos económicos, os laboratórios, os farmacêuticos e as inefáveis misericórdias, controladas pela Igreja Católica como hábil maneira de se financiar à custa dos dinheiros públicos;

Milhares de milhões de euros que foram injectados pelo estado na economia privada (mais de 10 mil milhões, nunca se saberá ao certo!) com a justificação do combate à pandemia, para além daqueles que foram entregues directamente aos lóbis da saúde;

Usaram-se os cidadãos como cobaias para um ensaio de uma vacina inédita, e ainda não testada segundo os parâmetros de segurança em vigor, para benefício não só de quem a produziu como para quem a defendeu e a impôs. Jamais se saberá ao certo os milhões de euros que untaram as mãos a médicos, administradores hospitalares e políticos responsáveis;

A vacinação foi de igual modo um excelente pretexto para impor o controlo social, com a limitação e supressão das liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, numa experimentação para outras ocasiões em que seja necessário impor, por exemplo, medidas de austeridade em contexto de crise económica;

Ficaram-se a conhecer os tiques de autocrata do primeiro-ministro Costa que, usando o medo suscitado pela pandemia e pelas medidas “sanitárias” impostas, conseguiu obter uma maioria absoluta, embora já governasse como tal por força dos estados de emergência e dos apoios de quase todos os partidos da Assembleia da República. O pé foge-lhe sempre para a chinela: “A ameaça persiste enquanto não houver uma vacinação à escala global.

Last but not least, produziram-se cinco mil toneladas de lixo não reciclável relacionado com a pandemia em 2021, um valor ligeiramente superior ao produzido no ano anterior, e isto em tempo de descarbonização e de transição energética.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Greve de fome contra a discriminação e a segregação na Itália

  

Esta é uma declaração e um comunicado de imprensa de cinco cidadãos italianos que na segunda-feira, 14 de fevereiro, iniciaram uma greve de fome para exigir o fim da discriminação na Itália – onde estão em vigor políticas altamente autoritárias que discriminam os “não vacinados”. 

Anunciamos o início de uma greve de fome.

Este acto quer exprimir um NÃO absoluto às políticas que – para cobrir omissões graves, atrasos, inadequações e contradições – não hesitam em punir os cidadãos que não infringiram nenhuma lei ou regulamento, subvertendo os princípios culturais, mesmo antes dos legais, de Estado liberal e de direito.

A greve de fome é um NÃO definitivo a um sistema autoritário que, explorando e distorcendo todos os dias a realidade pandémica, não parece reconhecer a necessidade de reparar as trágicas lacerações infligidas ao tecido social, nem apreender a urgência de remover total e definitivamente o regime de segregação a que uma parte da população é forçada. Isso inclui centenas de milhares de adolescentes e menores – os mesmos cujas crescentes emergências psiquiátricas são gastas em enxurradas de palavras, mas que de fato são privadas de qualquer voz, cuidado e proteção.

O jejum é também uma forma de partilha das privações impostas a milhões de pessoas de todas as idades que, por decreto governamental – e com a aprovação ou silêncio de consultores, fiadores, cientistas, magistrados e comentadores – se vêem excluídas da vida social, do direito ao trabalho, da liberdade constitucional de locomoção, das mais variadas oportunidades de formação e bem-estar. Uma subpopulação de sub-humanos, condenada de fato à inexistência, como expressou o Presidente da República Sergio Mattarella que ao dizer “deixo um país unido” realmente disse uma coisa verdadeira, desde que excluamos da própria ideia de cidadania de milhões de cidadãos, separados a ponto de nem serem percebidos, exceto para serem discriminados, intimidados e humilhados.

Nenhuma violência do estado contra seus cidadãos é lembrada na memória viva da República Italiana. No entanto, há indícios persistentes de um curso político que tende a instalar permanentemente essa forma de autoritarismo no próprio cerne do “sistema operacional” que fiscaliza a relação entre Estado e cidadão: em vários círculos, atualmente, a extensão está em discussão das actuais formas de discriminação no gozo de direitos elementares mesmo para além da duração do estado de emergência formal e mesmo na ausência de uma emergência real. É o último passo: a normalização do inconcebível.

Se essa situação só pode suscitar a mais irredutível oposição política e a mais forte preocupação com o futuro da democracia, o pensamento das centenas de milhares de adolescentes e muito jovens excluídos com brutalidade sem precedentes e sem sentido de aspectos essenciais de sua existência é causa de sofrimento insuportável. A abstenção de alimentos é, novamente, um gesto de lucidez e consciência pessoal, realizado através do silêncio e da subtração: afastamento de um tempo irreconhecível, inaceitável, em que o poder político se deixa manifestar com esse grau de ameaça, vingança, paternalismo e irracionalidade face. Onde as forças progressistas e igualitárias da sociedade e os sistemas institucionais de controle e garantia parecem ter abdicado de seu papel.

Nossa greve de fome não traz nenhum pedido ou exigência, a não ser a de remover total e incondicionalmente, em princípio, todas as formas de discriminação. Os argumentos já foram amplamente colocados e hoje, após uma escalada vertiginosa na escala da discriminação, a segregação em massa parece ser aceita como normal. Portanto, basta apresentar às consciências dos italianos e observadores internacionais um fato: corpos que voluntariamente se privam de seu sustento para expressar solidariedade com os corpos invisíveis das mulheres removidas, dos homens removidos e de seus filhos, todos privados direitos, subsistência, cidadania, dignidade e futuro”.

Licia Coppo

Carlos Cuppini

Antonella Marsília

Paola Oliveira

Sérgio Porta

Donatella Campai

Alberto Cantoni


E Comunicado à Imprensa do grupo:

Enquanto um número cada vez maior de cientistas autorizados declara que a adoção de políticas de passe verde não tem valor científico nem de saúde, e enquanto elas são levantadas em toda a Europa, hoje em dia o governo italiano está impondo uma escalada definitiva para níveis de discriminação de categorias inteiras de cidadãos sem igual no mundo. A partir de 10 de janeiro, isso implica a exclusão da vida social de uma parte da população que inclui até nossas crianças.

Hoje assistimos a milhões de pessoas – incluindo centenas de milhares de adolescentes e menores – que se encontram excluídos dos direitos constitucionais mais básicos. Esses direitos, digamos apenas o direito ao trabalho e, portanto, ao sustento próprio e da família, são essenciais para garantir a dignidade da pessoa humana.

Nunca antes na história da República Italiana o governo do país atingiu os cidadãos com tanta força, todos os dias explorando e distorcendo tanto a realidade da pandemia quanto a da ciência. O tecido social do país está perturbado e dilacerado como nunca antes na memória viva, e os próprios fundamentos do Estado de direito, da Constituição e da democracia estão seriamente comprometidos.

Essa condição levantou a preocupação da Amnistia Internacional, que instou a Itália a não usar o passe verde para fins discriminatórios – o que, segundo todas as evidências, está fazendo.

O mesmo pedido foi formalmente feito pelo Garante da Infância da Região Toscana, em relação à condição de milhões de crianças e adolescentes, tragicamente afetados por essas regulamentações.

E os mesmos subsecretários da Educação, Rossano Sasso e Barbara Floridia, definiram as regras que regem a quarentena no ciclo primário das escolas públicas como discriminatórias, pois fazem distinção – sem qualquer critério científico reconhecível – entre alunos vacinados e não vacinados.

Direitos inalienáveis ​​tornaram-se concessões condicionais e diferenciadas. Pela própria natureza dos passes verdes, a modulação da discriminação é extremamente flexível. É por isso que os salvos de ontem são punidos de hoje, e amanhã outros serão atingidos de acordo com as agendas do governo em exercício. Ninguém pode se sentir seguro.

Dezenas de pessoas em todo o país estão em greve de fome há algumas semanas, como um protesto espontâneo e urgente ditado por uma rejeição definitiva tanto dessas políticas autoritárias quanto do clima devastador de intolerância que se criou na Itália e alimenta uma gravíssima divisão social. Muitas outras pessoas estão se preparando para tomar decisões semelhantes.

Pedimos às forças políticas, instituições, garantes, associações para a proteção dos direitos humanos – e particularmente para a proteção dos menores – que reconheçam que esta estratégia não pode e não deve ser a saída para a crise.

Pedimos ao Governo e ao Parlamento que retirem imediatamente, de forma permanente e em princípio, qualquer forma de passe verde e com isso qualquer forma de discriminação entre cidadãos.

Dirigimo-nos também aos meios de comunicação social e aos observadores internacionais, para pedir a sua atenção para uma deriva política que se arrasta há meses e que já ultrapassou o ponto sem volta, o que é uma absoluta anomalia no contexto europeu e deve suscitar a maior preocupação em qualquer um que preza os valores da democracia liberal.

Licia Coppo

Carlos Cuppini

Antonella Marsília

Paola Oliveira

Sérgio Porta

Donatella Campai

Alberto Cantoni

(Tradução livre)

leftlockdownsceptics

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Sociedades médicas: as máquinas ligadas às farmacêuticas

por Pedro Almeida Vieira 

O PÁGINA UM vai fazer um diagnóstico completo aos financiamentos declarados entre farmacêuticas e sociedades médicas, vasculhando na base de dados da Transparência e da Publicidade do Infarmed, uma plataforma que deveria ser de fácil leitura e consulta, mas que tem as suas nuances. Este é o primeiro de um conjunto de artigos que mergulhará a fundo nas promíscuas relações entre médicos e farmacêuticas. Para já, fique a saber que de quanto se está a falar quando se fala de dinheiro envolvido.

São 49 milhões euros nos últimos cinco anos. Foram quase 12 milhões de euros no ano passado. Não há nem nunca houve crise para as principais agremiações de médicos e de outros profissionais de saúde, que dão pelo título de “sociedade portuguesa” de uma qualquer especialidade.

Embora publicamente as suas opiniões, particularmente dos seus dirigentes sejam sempre vistas como independentes, na verdade as sociedades científicas de médicos e outros profissionais de saúde têm um cordão umbilical que se encontra bem preso, e que as alimenta, e que se chama indústria farmacêutica. E que tem depois retorno. Ninguém está interessado em o cortar. Até porque não há almoços de borla neste apetecível negócio. E há muitos que gostam. Menos a independência. E a deontologia.

Um levantamento exaustivo do PÁGINA UM à Plataforma da Transparência e Publicidade do Infarmed – uma “operação” mais complexa do que seria admissível (ver texto em baixo) – identificou 94 sociedades científicas (e um pequeno montante não identificado) – congregando quase todas as especialidades médicas e de outras áreas da saúde – que receberam montantes de 135 empresas do sector farmacêutico.

Para os últimos cinco anos, o PÁGINA UM identificou 5.745 eventos patrocinados pela indústria farmacêutica às sociedades identificadas, sobretudo para a realização de congressos, pagamento de quotas e despesas de funcionamento ou realização de campanhas de sensibilização e estudos.

Há de tudo um pouco, embora este levantamento até exclua, porque será abordado em artigo independente, os pagamentos individuais das farmacêuticas a milhares e milhares de médicos para inscrições em congressos e conferências organizados pelas sociedades. Esse dinheiro acaba, obviamente, nos cofres das sociedades.

Se o número de eventos impressiona pela quantidade – por exemplo, só no ano passado, o PÁGINA UM identificou 1.345 registos na base de dados do Infarmed envolvendo pagamentos de farmacêuticas às sociedades, o que representa mais de cinco por dia útil –, quando então se olha para os cifrões não restam dúvidas sobre a discreta, mas tenaz influência das farmacêuticas junto da classe médica e de outros profissionais de saúde.

E também não ficam dúvidas sobre o carácter pouco filantropo deste sector: as farmacêuticas são pragmáticas e apostam apenas nas sociedades que as podem depois beneficiar. O jogo é simples e transparente, diga-se.

Com efeito, analisando com detalhe a contabilidade anual das diversas sociedades – que excluem, assim, algumas poderosas agremiações, como a Associação Portuguesa de Urologia, a especialidade do actual bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães – verifica-se que as farmacêuticas olham para uns como filhos, e para outros como mendigos.

Comecemos pelos mendigos.

São 45 as sociedades que, no total do último quinquénio, receberam menos de 10 mil por ano. Seis nem sequer aos mil euros anuais chegaram. E não é por não precisarem.

Ninguém jamais duvidará da importância do objecto social da Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Familiar, ou da Sociedade Portuguesa de Neurociências, ou da Sociedade Portuguesa de Alcoologia ou até da Sociedade Portuguesa de Virologia, ademais vendo os tempos que correm.

Só que, para a indústria farmacêutica, estas e outras sociedades têm um problema: as respectivas especialidades receitam pouco, ou em pequena quantidade. Não dão retorno. Por isso, uma empresa como a Pfizer faz um acto de “caridade” à Sociedade Portuguesa de Enfermagem de Saúde Familiar quando lhe concede 450 euros para um congresso, mas já estará a tratar de negócios quando entrega quase 370 mil euros num ano destinada a uma campanha de sensibilização da vacinação pneumocócica à Sociedade Portuguesa de Pneumologia, como fez no ano passado.

Na verdade, algumas sociedades médicas têm tanta capacidade para atrair farmacêuticas como a luz as melgas. Muitas sociedades sabem tão bem isto que colocam previamente tabelas de preços para patrocínio de congressos, para todos os gostos e bolsos. O modus operandi mais corriqueiro passa por “oferecer” aos interessados um de três tipos de patrocínios: Platina (só há, por regra lugar para um, mas paga-se bem), Ouro (geralmente mais do que um, mas menos de cinco), e por fim Prata. Escolhendo pelo menu, as farmacêuticas sabem logo o que têm, em termos de espaço de exposição e atenção, mas também quanto lhes custa esta bondade.

Em sociedades importantes, como por exemplo a de Cardiologia, um destes patrocínios não é coisa barata: no ano passado, a Novartis teve de pagar patrocínios deste género no valor de quase 310 mil euros. Em 2020, a AstraZeneca deu 80 mil; em 2021 ficou-se pelos 58 mil. Nenhuma das grandes farmacêuticas quer ficar para trás nas simpatias dos cardiologistas na hora dos congressos. Na lista de patrocinadores da Sociedade Portuguesa de Cardiologia contam-se 13 farmacêuticas que concederam mais de 50 mil euros apenas no ano passado.

 

Financiamento das 20 principais sociedades em função dos montantes atribuídos pelas farmacêuticas entre 2017 e 2021. Fonte: Infarmed.

Esta sociedade não surge aqui apenas como exemplo: é aquela que mais amealhou no último quinquénio: 6.817.254 euros. No ano passado atingiu o valor máximo dos últimos cinco anos (quase 1,93 milhões de euros), que deu para recuperar uma perda significativa de receitas no primeiro ano de pandemia: em 2020 “apenas” recebera 670.184 euros. Portanto, por exemplo, na hora de se falar em miocardites, convém sempre atender-se tanto às questões científicas como às de outra natureza.

Não surpreende também que as Sociedades de Medicina Interna e de Pneumologia surjam em lugar de destaque na atracção das liberalidades das sociedades farmacêuticas. A primeira não foi muito afectada pela pandemia – mesmo assim “perdeu” no ano de 2020 entre 100 mil e 200 mil euros face ao que recebia antes da pandemia. No último quinquénio garantiu “bondades” das farmacêuticas no valor de 5,86 milhões de euros.

Quanto à Sociedade Portuguesa de Pneumologia, o primeiro ano da pandemia não correu particularmente mal – recebeu um pouco mais de 786 mil euros –, mas 2021 superou as expectactivas, muito graças à Pfizer.

O ano passado acabou com os cofres desta sociedade médica a encaixar 1.301.972 euros de 25 farmacêuticas – e quase todas nunca falham apoio em qualquer ano, ou seja, são habitués. O quinquénio 2017-2021 concluiu-se com um pecúlio de 4,35 milhões de euros das farmacêuticas.

Também especialidades muito apetecíveis para as farmacêuticas são as de Reumatologia, de Oncologia, de Pediatria e de Gastrenterologia, cujas sociedades médicas não atingem os montantes das três que ocupam o pódio, mas não se podem queixar.

Todas receberam, nos últimos cinco anos, apoios das farmacêuticas entre os dois e os três milhões de euros. Todas também viram o ano de 2021 terminar com mais dinheiro nos cofres, um alívio particularmente para as Sociedades Portuguesas de Reumatologia e de Gastrenterologia que tiveram um impacte negativo com a pandemia. Como em 2020 o Governo decidiu suspender muitos actos médicos, menos diagnósticos resultaram em menos receitas e em menos fármacos vendidos (ou a vender), e portanto as farmacêuticas cortaram-se na hora de entregar o cheque a estas sociedades.

Um caso exemplar sobre os mecanismos de financiamento observa-se com a recém-criada Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde, que ainda se encontra em comissão instaladora desde 2019. Integrando profissionais com uma enorme influência na escolha dos fármacos a prescrever ou encomendar, sobretudo ao nível do Serviço Nacional de Saúde, rapidamente esta sociedade atraiu financiadores. Em 2019, por ser nova, apenas recebeu cerca de 85 mil euros, mas subiu logo para os 320 mil no primeiro ano da pandemia. Terminou o ano de 2021 com um pecúlio de um pouco superior 617 mil euros das farmacêuticas, ocupando já a sexta posição das sociedades com maior poder de atracção.

Amanhã, o PÁGINA UM revelará, com maior detalhe, quais as farmacêuticas que financiam cada uma das sociedades, e com que valores. Este artigo constitui apenas uma mera introdução.

NOTA: Pode aceder à síntese dos montantes arrecadados por cada uma das sociedades no quinquénio 2017-2021, provenientes das farmacêuticas, AQUI.

Em Paginaum

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Conheça três dos lobbistas das farmacêuticas que exigem castigo do presidente do Colégio de Pediatria

 por Pedro Almeida Vieira

QUEM VAI CONTRA O PENSAMENTO ÚNICO NA QUESTÃO DO NEGÓCIO DAS VACINAS, LEVA!

«Três dos médicos, aliados do bastonário Miguel Guimarães e com fortes ligações ao sector farmacêutico, são subscritores de um pedido de sanção disciplinar contra o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil Dias.

Três dos principais subscritores da denúncia à Ordem dos Médicos contra Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria daquela associação profissional de direito público, têm fortes ligações à indústria farmacêuticas, incluindo aquelas que mais têm beneficiado economicamente com a pandemia.

O primeiro subscritor é o pneumologista Filipe Froes, mas uma investigação do PÁGINA UM mostra que, além deste médico, há mais dois com vastos contactos com a indústria farmacêutica: Luís Varandas e Carlos Robalo Cordeiro. Todos são muito próximos do bastonário, o urologista Miguel Guimarães.

Na carta-denúncia, os 16 subscritores – que incluem todos os membros do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19 – solicitam “a avaliação da conduta, por eventual infração disciplinar” de Jorge Amil Dias, tentando também que seja destituído da liderança do Colégio de Pediatria. Miguel Guimarães já prometeu levar o assunto a reunião do Conselho Nacional Executivo.

Jorge Amil Dias, presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos.

Em causa estão declarações públicas e a participação num abaixo-assinado deste pediatra contra a vacinação universal de crianças saudáveis, bem como as críticas que teceu a um parecer da Direcção-Geral da Saúde que claramente possui enviesamentos e deturpações de estudos científicos.

Amil Dias tomou sempre as posições a título pessoal e nunca em nome da Ordem dos Médicos, mas mesmo assim terá irritado o actual bastonário, incondicional apoiante das políticas governamentais. E Miguel Guimarães conseguiu, com a denúncia encabeçada por Filipe Froes, tentar silenciar a voz incómoda de Jorge Amil Dias.

Médico no Hospital Pulido Valente, o pneumologista Filipe Froes lidera também o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a Covid-19, e é um dos clínicos portugueses com maiores ligações à indústria farmacêutica. Desde 2013 amealhou mais de 380 mil euros de diversas empresas deste sector, com destaque para a Pfizer (134,5 mil euros), Merck Sharp & Dohme (85,5 mil euros) e BIAL (47,3 mil euros).

No seu portefólio constam ainda a Sanofi (maior fornecedora de vacinas anti-gripe), a AstraZeneca (outra produtora de vacinas anti-covid) e a Gilead. Para esta última, Froes foi mesmo consultor para o uso do remdesivir, um fármaco já desaconselhado pela Organização Mundial de Saúde em doentes-covid. No entanto, Filipe Froes, que também é consultor da Direcção-Geral da Saúde e que integra a equipa responsável por indicar as terapêuticas contra a covid-19 nos hospitais portugueses, mantém o remdesivir na lista de fármacos a prescrever.

Por sua vez, Luís Varandas, infecciologista pediátrico no Hospital Dona Estefânia (Lisboa) e também professor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, é outro dos subscritores da denúncia contra Jorge Amil Dias que tem também beneficiado bastante com a pandemia do ponto de vista financeiro.

Filipe Froes, pneumologista, numa das suas muitas palestras pagas por farmacêuticas.

Até 2020, as suas relações com a indústria farmacêutica, a título pessoal ou através da sua empresa SISP, Lda., cingiam-se a algumas palestras ou ao financiamento de viagens para congressos internacionais. No total, entre 2013 e 2020 recebeu um total de 18.872 euros, ou seja, apenas 2.359 euros por ano.

Com o aumento do interesse das farmacêuticas na vacinação de crianças contra a covid-19, Luís Varandas foi contratado pela Pfizer como consultor e palestrante, tendo recebido no ano passado, apenas da Pfizer, 27.148 euros.

O médico chegou a escrever vários artigos, incluindo no Expresso, e a prestar declarações na imprensa sempre a apoiar a vacinação universal de crianças, mas jamais assumindo a sua posição de consultor da farmacêutica que vendia as vacinas.

Luís Varandas é também um membro destacado da Ordem dos Médicos, sendo o responsável pela secção de Pediatria do Colégio da Competência da Medicina do Viajante.

Também bastante lucrativa tem sido a pandemia para Carlos Robalo Cordeiro, antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e actual director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar desta cidade.

Tanto pessoalmente como através da sua empresa por quotas (Robalo Cordeiro, Lda.), este pneumologista recebeu já um bom pecúlio das farmacêuticas desde o início da pandemia: em 2020 teve direito a 27.441 euros, e em 2021 deram-lhe 26.006 euros, a título de consultor, palestrante e moderador, além de financiamento de viagens ao estrangeiro para congressos.

No seu portefólio de negócios contam-se 11 farmacêuticas, entre as quais a AstraZeneca (5.907 euros), a Boehringer Ingelheim (16.478 euros), a Merck Sharp & Dohme (5.345 euros), a Roche (7.950 euros), a Sanofi (2.675 euros) e a Pfizer (2.562 euros). Robalo Cordeiro foi recentemente eleito presidente da European Respiratory Society, onde não surge, à data de hoje, ainda qualquer menção a conflitos de interesse, apesar de ele os ter.

Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, e assim apresentado no júri de um prémio promovido por uma farmacêutica.

Esta postura é contrária à do presidente cessante, Marc Humbert, que através de uma declaração de interesses elenca todas as relações regulares com 14 farmacêuticas, entre as quais a Janssen, Bayer, AstraZeneca, GSK, Novartis e Sanofi. A revista científica desta poderosa sociedade médica internacional tem como editor-chefe Martin Kolb, que assume ter recebido donativos, honorários pessoais e outros benefícios da Roche, Boehringer Ingelheim, GSK, Gilead, AstraZeneca e Novartis, entre outras farmacêuticas.

Carlos Robalo Cordeiro é bastante próximo de Miguel Guimarães, tendo sido por ele escolhidos para membro do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a COVID-19, e para presidir a comissão científica do último congresso desta associação profissional.

O processo contra Jorge Amil Dias deve ser conduzido pela também pediatra Maria do Céu Machado, antiga presidente do Infarmed e que preside ao Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos. Tem sido ela a supervisionar todos os processos instaurados contra aqueles que fogem da opinião oficial da Ordem dos Médicos ao nível da gestão da pandemia, sendo bastante próxima de Miguel Guimarães. Aliás, os dois integraram, no ano passado, o júri do BI Award for Innovation in Healthcare, um prémio promovido pela farmacêutica Boehringer Ingelheim, onde também teve assento Carlos Robalo Cordeiro.»

Paginaum

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Dia Mundial do Cancro: O cancro matou 30.168 pessoas em Portugal em 2020

 

Ou um dos resultados da gestão do combate à pandemia feita pelo Governo?

“O cancro matou 30.168 pessoas em Portugal em 2020, tenderá a crescer nos próximos anos face aos atrasos do diagnóstico e tratamento, sendo que o grande impacto nas mortes por cancro deverá sentir-se dentro de um a cinco anos”. Porque, e como alguém disse: “O foco na pandemia tem tido reflexos negativos noutros problemas de saúde, nomeadamente no cancro”. 

Ao centrar o grosso da actividade do SNS no combate à covid-19, fechando-se muitos serviços dirigidos ao tratamento de outras doenças não só se contribuiu para o aumento da mortalidade por outras causas, como se adiou a prevenção e tratamento de outras doenças que matam bem mais do que o SARS-CoV-2.  

Sabe-se que o cancro é a 2ª causa de morte mais frequente em Portugal, com 60 467 mil novos casos em 2020 - dados do Globocan. O cancro colorretal é o mais frequente em Portugal, com 10.501 novos casos, seguido do cancro da mama (7.041), próstata (6 759) e pulmão (5 415). Os números mais recentes da incidência são referentes a 2020, esperamos pelos de 2021 que, infelizmente, não deverão ser nada animadores.

A estratégia do governo não foi a de acautelar a saúde dos cidadãos portugueses de forma holística, mas direccionar o SNS num só sentido, apesar da taxa de letalidade da covid-19 se apresentar logo de início relativamente baixa, com excepção dos grupos mais vulneráveis, entre os quais se destacavam os idosos e doentes com patologias crónicas graves. No entanto, preferiu-se desbaratar meios materiais e recursos humanos em fazer rastreios cegos à população em geral e não apenas aos grupos de risco.

Assim, soube-se hoje, no Dia Mundial do Cancro, que “Portugal ultrapassou os 35 milhões de testes realizados”, alcançada na passada terça-feira e que o mês de Janeiro marcou um recorde ao nível da testagem, cerca de 257 mil testes por dia em média, ou seja, mais de oito vezes o número de testes realizados no mesmo período do ano passado.

Parece que se se andou a inflacionar o número de “casos” de infectados, na grande maioria assintomáticos (portadores sãos e não transmissores) para justificar a vacinação e a continuação da testagem, e outras medidas não sanitárias e que têm a ver mais com as restrições das liberdades das pessoas e responder a interesses económicos pouco transparentes.

Sabendo-se que cada um de nós possui na superfície da pele e dentro do corpo mais de 100 mil milhões de micróbios, 80% dos quais no intestino, e que os testes usados não distinguem as centenas de estirpes do coronavírus, podemos estar certos de que haverá sempre casos positivos. Assim, continua-se a manter o negócio dos testes que já deverá ter ultrapassado os 700 milhões de euros, dinheiro que tem faltado ao combate a outras doenças mais mortais e conhecidas.

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) foi obrigada a suspender o programa de rastreio de cancro da mama durante seis meses em 2020/2021 por imposição das restrições decretadas pelo Governo e, neste momento, vem alertar para o facto de ter havido “menos 18% de mulheres com mamografia realizadas e menos 13% de mulheres sem registo de colpocitologia atualizada", e pedir, com carácter de urgência “numa reorganização do sistema nacional de saúde em defesa do doente e uma maior aposta em programas de prevenção, deteção precoce e tratamento do cancro em Portugal”. Para os quais todo o dinheiro é pouco.

Por sua vez, o diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas estimou ser necessário realizar anualmente mais 1,2 milhões de rastreios ao cancro da mama, colo do útero e colorretal para abranger mais de 90% da população elegível até 2025. Sabendo-se também que, na última década, as mortes por cancro subiram 10% em Portugal e 20% no mundo. 

Não é despiciendo relembrar que, todos os dias, o cancro mata em Portugal cerca de 82 pessoas. Talvez a aplicação da técnica do Ácido Ribonucleico mensageiro (criada por Robert Malone e actualmente um dos principais críticos das vacinas comercializadas na União Europeia e que usam esta técnica) no tratamento de alguns tipos de cancro fosse ideia mais acertada.

Estão a gastar-se centenas de milhões de euros na compra de vacinas, em contratos com clausulas secretas para desresponsabilizar os laboratórios farmacêuticos por eventuais reacções adversas graves, e aos quais poderão juntar-se mais alguns milhões para fazer face a eventuais pedidos de indemnização por cidadãos que tenham sido afectados gravemente por uma experiência genética ainda em período de ensaio, o que será mais que certo no futuro, depois de assentar a poeira do medo.

Até ao momento registaram-se, em Portugal, mais de 22 380 suspeitas de reações adversas às vacinas, das quais 15 mio/pericardites em crianças e jovens, mas os números deverão ser bem elevados, atendendo aos indícios da DGS poder andar a martelar e a esconder os reais números de mortes “por” e “com” covid-19, de doenças, incluindo suicídios, que resultaram da má gestão do combate à pandemia. Forçosamente que um dia será feito o balanço de tudo o que agora se está a passar.

A situação de saúde dos portugueses agravou-se, com a sedentarização imposta pelos estados de emergência que levou a maiores consumos de alimentos hipercalóricos e bebidas alcoólicas, aumento de casos de diabetes, hipertensão, obesidade, etc. e a estados de maior ansiedade e depressão que, por sua vez, conduziram ao aumento do consumo de medicamentos psicoativos. Parece que se pretendeu aumentar o mercado da doença.

Agora já se sabe, devido a estudos feitos nos EUA (Universidade Johns Hopkins), que os confinamentos foram, como se diz, pior a emenda que o soneto, porque tiveram pouco ou nenhum impacto na prevenção da pandemia. Pior ainda, agravaram as doenças já existentes e, assim, mais investimentos terão de ser feitos… a não ser que o Governo esteja à espera que, depois da falência final do SNS, os portugueses se dirijam aos hospitais privados.

Os milhões que se gastam neste modelo biomédico e na recapitalização dos grandes laboratórios farmacêuticos poderiam ser investidos em melhor prevenção, tratamentos mais eficazes e mais baratos e maior qualidade dos cuidados a prestar pelo SNS. É de lamentar que o presidente do IPO de Lisboa tenha de avisar que sem novo edifício fica em perigo a actividade do Instituto, que "é de uma premência enorme", e não compreende que a verba para a sua construção, já incluída no Orçamento de Estado de 2021, tenha agora desaparecido no Orçamento para este ano (mais uma cativação!). Será um indício de como o Governo de maioria PS irá tratar da (nossa) Saúde.

No sítio da LPCC, pode ler-se: «O “Dia Mundial do Cancro (DMC) é uma iniciativa da União Internacional de Controlo do Cancro (UICC), da qual a Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) é full member desde 1983. Criado em 2000, o DMC, que se celebra a 4 de fevereiro, pretende capacitar e unir a população para enfrentar um dos maiores desafios de saúde pública. Consciencializar, melhorar a educação e promover a ação pessoal e coletiva, na luta contra o cancro, são o foco do DMC».

É isso: Consciencializar, melhorar a educação e promover a ação pessoal e coletiva, na luta contra o cancro … e contra as doenças em geral. Para tal, investir na Saúde é uma prioridade absoluta.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A autópsia do pequeno Rodrigo: a verdade da mentira ou a confiança nula

Imagem in "JN"

 por Pedro Almeida Vieira (paginaum.pt)

 As Autoridades de Saúde – englobemos aqui a Direcção-Geral da Saúde (DGS), administrações hospitalares e institutos públicos deste sector, entre os quais o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o Infarmed e o Instituto de Medicina Legal – que nos garantem agora que a trágica morte do pequeno Rodrigo nada teve a ver com a vacina contra a covid-19, são as mesmas que nos asseguraram que uma bebé prematura, nascida no início do ano passado no Hospital Garcia de Orta, com uma hemorragia intraventricular de grau 4, afinal teve como causa de óbito as infecções por SARS-CoV-2, à conta de um simples teste positivo.

Que se saiba, as tais Autoridades de Saúde não se mostraram então tão zelosas em autópsias detalhadas para confirmar se a morte foi por covid-19 ou, enfim, por uma hemorragia intraventricular de grau 4. Não sou médico, mas nem é preciso ser especialista para desconfiar. Mas, neste caso, não interessou averiguar. Nem sobre esta morte, nem sobre a de um outro bebé com menos de 1 anos, nem de outra de uma criança de 4 anos, também com graves comorbilidades, nem a de uma jovem de 19 anos que sofria de síndrome de Dravet. Nesta última situação, a DGS até veio a correr informar que a jovem não estava vacinada. Agora, com o pequeno Rodrigo saiu-se com escrúpulos, e nada avançou, a não ser negar que não foi a vacina. Há escrúpulos convenientes.

Enfim, estas são as Autoridades de Saúde que temos e tivemos durante a pandemia.

São as mesmas Autoridades de Saúde que colocaram pelo menos 40 doentes terminais de SIDA nas estatísticas das vítimas da pandemia, somente porque testaram positivo quando hospitalizados por diversas maleitas da doença causada pelo VIH, independentemente da gravidade da covid-19 que possam ter desenvolvido antes do desfecho fatal.

São as mesmas Autoridades de Saúde que não tiveram pejo de incluir uma mulher de 41 anos com queimaduras de terceiro grau em toda a cabeça, e acharam bem que lhe tenham metido uma zaragatoa pelas narinas para lhe retirar um exsudado, de modo a colocá-la como vítima da covid-19.

São as mesmíssimas Autoridades de Saúde que consideraram como morte-covid um suicídio pela janela do Hospital de Vila Nova de Gaia, ou quedas da cama que causaram fracturas cranianas ou do pescoço, ou um sem-número de ataques cardíacos fulminantes, ou AVC, ou cancros terminais, ou falências renais, ou… a lista é infindável.

O PÁGINA UM tem revelado tudo isto, e muitos mais, provocando apenas um ensurdecedor silêncio de (quase) todos, incluindo de toda a imprensa mainstream.

São as mesmas Autoridades de Saúde que meteram como doentes-covid, algumas em cuidados intensivos, crianças inicialmente internadas por outras causas – até com cancros, benza-nos Deus! –, e que, em muitos casos, até só deram positivo ao SARS-CoV-2 porque foram contaminadas no próprio hospital.

São as mesmas Autoridades de Saúde que, elencando-se aqui somente duas das maiores bizarrices, incluíram como doentes-covid um homem de 59 anos que foi mordido por um cão no dia 17 de Abril do ano passado e ficou internado um dia no Centro Hospitalar do Baixo Vouga, ou uma rapariga de 16 anos que se deslocou ao Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa após uma queda de cavalo no dia 12 de Dezembro de 2020.

E isto para não ser demasiado exaustivo.

São as mesmíssimas Autoridades de Saúde que demoraram mais de seis meses a satisfazerem um pedido de acesso a documentos clínicos a um internado-covid – que também apanhou uma infeccção nosocomial e teve “direito” a andar com um fio-guia a passear no coração durante cinco dias –, e isto depois de um parecer da Comissão de Acesso a Documentos Administrativos (CADA), e mais um artigo de opinião sobre obscurantismo de uma administração hospitalar; e que, mesmo assim, enviam mais de 300 páginas impressas, mas sem, hélas, identificar sequer o médico que cometeu um grosseiro acto de negligência, e sem sequer informar quais as consequências e responsabilidades internas de tal procedimento. [Nota: trata-se de uma experiência pessoal, mas representativa do obscurantismo intencional das administrações politizadas dos hospitais]

São as mesmas Autoridades de Saúde que recusam liminarmente todo e qualquer acesso a base de dados e a responder a toda e qualquer pedido de esclarecimento sobre a pandemia. [Nota: no próximo dia 17, a CADA decidirá, em princípio, através de parecer, quatro queixas do PÁGINA UM contra a DGS]

São as mesmas Autoridades de Saúde que apagaram informação, antes disponibilizada, como os dados diários dos óbitos por acidentes rodoviários e de trabalho e por suicídio constantes do SICO; com os dados da Plataforma da Mortalidade; e com os relatórios da Task Force de Ciências Comportamentais. [Nota: Depois do editorial do PÁGINA UM de 14 de Janeiro passado, entretanto a DGS fez reaparecer os ditos relatórios no seu site]

São as mesmas Autoridades de Saúde que defendem, como no caso concreto do presidente do Infarmed no contexto de um pedido do PÁGINA UM para acesso ao Portal de Notificações de Reações Adversas (Portal RAM), que não se deve disponibilizar dados “sensíveis” – presume-se que sensíveis politicamente – porque se corre “o risco de poderem ser analisados por não-especialistas”, e por assim terem “um elevado potencial para criar um alarme totalmente desnecessário e infundado”. [Nota: além de formação académica vasta, e larga experiência jornalística com elevado rigor e escrúpulo deontológico, sou até sócio da Associação Portuguesa de Epidemiologia, não me considerando propriamente leigo nestas matérias]

São estas, minhas senhoras e meus senhores, meus leitores e meus concidadãos, as Autoridades de Saúde que temos, e que nos pedem para que, sim, acreditemos que o pequeno Rodrigo jamais morreu por causa da vacina contra a covid-19.

São estas as mesmíssimas Autoridades de Saúde que, sim, pressionam até à glândula pineal os pais e mães de centenas de milhares de outras crianças para correrem a dar um fármaco – ainda sem resultados de ensaios clínicos para se apurar impactes de longo prazo – contra uma doença que, naquelas idades, é de menor gravidade do que uma gripe ou pneumonia.

Se me perguntam se o pequeno Rodrigo morreu da vacina, eu direi: não sei.

Sei apenas que nunca, jamais, as nossas Autoridades de Saúde o admitiriam.

E porque digo isto?

Por tudo aquilo que atrás escrevi.

Neste momento, a minha confiança nas Autoridades de Saúde é nula. Ou melhor, abaixo de zero.

Todo o histórico de manipulação, sonegação e obscurantismo levam-me a não saber onde está a verdade ou a mentira. E a confianças nas instituições é um pilar fundamental nas democracias. E isso já não existe em relação às nossas Autoridades de Saúde.

Neste momento, só vejo uma solução para recuperar esse elo essencial: o Ministério Público (re)ganhar liberdade, e abrir de imediato um processo de averiguações sobre a (mais que provável) manipulação da informação durante a pandemia. E hoje já é tarde.

Retirado de paginaum.pt