quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O caos nas urgências dos hospitais públicos



in Henricartoon
Pode dizer-se que não há palavras para descrever a pouca vergonha que se está a passar nos serviços de urgência dos hospitais do SNS e a forma como o governo e ministro estão a lidar com o problema. Em menos de um mês oito cidadãos morreram aparentemente por falta ou deficiente atendimento após, ao contrário do que mandam as regras nestas situações, muitas horas de espera nos serviços de urgência. A imprensa fala em mais de 1900 mortes no período do Inverno, particularmente frio este ano, devido a diversas morbilidades; todas elas estarão relacionadas com a descida da temperatura e do aparecimento da gripe sazonal, fazendo fé no que a imprensa diz, número que aparentemente não estará longe do que ocorre em outros anos. O que tem sido fora do normal são as mortes de pessoas, quase todas idosas, que esperam muitas horas por cuidados que não são prestados em tempo útil.

Ainda estamos todos lembrados da epidemia da legionella que há pouco mais de dois meses fez 12 mortes e infectou 375 pessoas, tendo o governo levado bastante tempo a identificar o foco causador e a tomar medidas. Foi a terceira maior epidemia no mundo, bem reveladora da política seguida pelo governo PSD/CDS-PP quanto à Saúde Pública, quer no que concerne às medidas de fiscalização e prevenção quer à resposta em termos de cuidados de assistência. A mesma política encontra-se agora ilustrada nas mortes nos serviços de urgência hospitalar que não têm conseguido dar resposta como seria de esperar, sabendo-se antecipadamente que as idas às urgências aumentam substancialmente nesta época do ano. O governo desculpa-se com o “frio”, com a “reforma antecipada dos médicos” e acusa as notícias de “alarmismo” infundado e de “falsidade” na análise das mortes ocorridas e promete medidas salvíficas do género “alargamento dos horários de funcionamento dos centros de saúde”, “contratação directa de novos médicos”, “proibição (!?) de médicos e enfermeiros tirarem férias no período do Carnaval”, “abertura de mais camas de internamento (!?, este governo acabou com 700 camas)… e da possibilidade das “urgências privadas poderem vir a tratar doentes do Serviço Nacional de Saúde em alturas de maior afluência aos hospitais”, segundo despacho assinado, curiosamente de forma muito discreta em 9 de Janeiro, pelo secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde.

E terá sido esta medida que trouxe mais alguma luz sobre as verdadeiras razões do caos que se vive nas urgências dos hospitais públicos, que fazem mover o ministro especialista em cobrança de impostos e que dão para entender o escarcéu feito por alguma imprensa de referência situada mais à direita. Não há dúvida de que as mortes por legionella e as mortes ocorridas nas urgências, e que poderiam ter sido perfeitamente evitadas, são devidas à política de austeridade levada a cabo nos últimos três anos e meio, o mesmo tempo de mandato deste governo fascista, que tem cortado na Saúde e na Administração Pública em geral com a redução de pessoal e corte brutal nos salários. Mas, mais do que isso, são a consequência lógica de uma estratégia, que vem de há muito, desde o 1º governo de maioria absoluta do PSD/Cavaco, de privatização da Saúde e concomitante destruição do SNS. Só com a degradação do SNS, com o seu subfinanciamento, a não contratação de pessoal, o encerramento de serviços e diminuição do número de camas, ao mesmo tempo que se financia por diversas maneiras o negócio da medicina privada, é que este terá possibilidade de se instalar e progredir. O privado já possui 30% dos internamentos e das consultas, só faltavam as urgências, o “frio” e a “gripe” (o negócio das vacinas parece que já deu o que tinha a dar) deram o mote, o “caos das urgências” confirma a necessidade, a imprensa do regime faz a propaganda… e a medida (o oportuno e "silencioso" despacho feito por uma figura menor do governo) já está tomada.

E, assim, o negócio da Saúde em Portugal vai de vento em popa, enquanto o povo vai morrendo, à fome e à falta de cuidados médicos. É o que acontece quando um governo sem legitimidade continua em funções e tem pressa em acabar a missão para que foi investido: privatizar tudo o que seja passível de ser privatizado, empobrecer o mais possível o povo português, no processo imparável de acumulação e concentração do capital. Não basta demitir o ministro, como muito boa gente tem defendido, mas todo o governo, que há muito deveria ter sido lançado borda fora.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

"Assassinada pelo gang que se senta nas cadeiras ministeriais"



O texto que se segue é de João Carlos Silveira, filho de Maria Vitória Moreira Forte, nascida em Idanha-a-Nova, no dia 10 de Fevereiro de 1925 e assassinada em Almada no dia 17 de Janeiro de 2015 (retirado daqui).

«Peço desculpa pelo que vou dizer mas ESTOU MUITO REVOLTADO!

A minha mãe acaba de falecer há uma hora e meia, no Hospital Garcia d’Orta e, depois de ter dado entrada cerca das 11:00 horas da manhã, só foi vista cerca das 20:15 horas, depois de inclusive eu ter participado de um Médico, para mim indigno da profissão que diz que professa e depois de muitas outras peripécias na Urgência deste Hospital!

Independentemente de todas as queixas que possa ter, de muitos “profissionais” que trabalham nesta Urgência, o culpado maior da morte da minha mãe é filho da outra senhora, que dá pelo nome de Pedro Passos Coelho e o gang dos seus lacaios!

Eu hoje vi de tudo naquela urgência… A título só de exemplo, à hora de almoço, as Voluntárias que davam sopa aos doentes em espera a certo ponto deixaram de dar, inclusive à minha mãe, porque já não tinham mais tigelas de plástico para servir sopa… Portanto, quando se acabaram as tigelas, acabou-se a sopa…

Independentemente de todas as queixas que possa ter, de muitos “profissionais” que trabalham nesta Urgência, a verdade é que são muito poucos para atenderem tanto doente… O Serviço de Saúde está uma miséria e o nosso querido filho daquela senhora, Coelho cada vez vive melhor!

Não há profissionais suficientes, não há material suficiente, não há camas suficientes, não há macas suficientes (um dos Bombeiros que levou a minha mãe esta manhã, ao chegar e ao mudar a minha mãe da maca da ambulância para outra maca, confessa-me que a outra maca também é dos Bombeiros de Cacilhas, que já lá têm algumas há vários meses, pois o HGO não tem macas suficientes…)

Como é possível que um conhecido que trabalha no HGO, cerca das 22:00 horas, ao tentar saber no sistema informático como estava o processo da minha mãe, tenha dado com a informação de que a minha mãe tinha tido alta à revelia do parecer do Médico, por vontade própria, com ela deitada numa maca, nos corredores da Urgência ligada ao oxigénio????

Como é possível que cerca das 00:00 horas, ao voltar para junto da maca, vindo da Sala de Espera (de estar a falar com o meu sobrinho) tenha dado com ela com dificuldades respiratórias e a senhora do lado me ter dito que já tinha chamada a atenção das Enfermeiras para isso e, que uma tinha ido lá abrir mais a pressão do Oxigénio, eu olho para o Manómetro da Botija e o mesmo estava a ZEROS e ninguém via que a botija já não tinha oxigénio nenhum???!!!

Estou revoltado, por tudo aquilo que passei, assisti e vivi hoje no HGO!!!

Como á possível que a Médica que atendia a minha mãe, cerca da meia noite, à 1:30 horas da manhã me dissesse:

- Olhe, a sua mãe não está bem para ir para casa mas também não a posso internar, pois não tenho camas disponíveis… Assim, vai ter que ir ficando por aqui…

Isto não é possível a não ser num país de Terceiro Mundo, ou num país governado por verdadeiros gatunos, que não têm compaixão por quem está a sofrer, por quem tem (fazia dia 10 de Fevereiro) 90 anos, por quem precisa de ser atendido quando chega ao Hospital, por isso vai a uma Urgência, e não mais de 8 horas depois…

É UMA VERGONHA!»

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Trabalho temporário também culpado do caos nos hospitais portugueses



Nas últimas semanas registaram-se em muitos hospitais um cenário de caos com milhares de pessoas a esperarem longas horas para serem atendidas, algumas vezes mais de 24 horas. O resultado foi mortal para duas pessoas, que não resistiram à espera e morreram nos corredores dos hospitais sem atendimento.

A causa está identificada por profissionais, sindicatos e administradores hospitalares, há falta de médicos nas urgências e o governo não permitiu libertar as verbas que premitiriam o planeamento adequado para o Inverno. Todos concordam com este diagnóstico, menos o governo que diz que a culpa é dos cidadãos que procuraram os serviços.

Mas há uma variável escondida desta equação: as empresas de trabalho temporário (ETT).

Os administradores dos hospitais vieram dizer que a culpa também é das ETT que se candidatam a vagas nos horários sem terem médicos para ocupar essa vaga. No entanto, o problema é outro: quem é que meteu as ETT nesta equação? E a que preço?

Com a desorçamentação do Serviço Nacional de Saúde, o governo impediu a contratação de médicos e profissionais de saúde necessários aos hospitais e vai colmatando, ao mês, à semana, ao dia, as falhas com médicos sem vínculo contratados às ETT.

Assim, os médicos passam de serviço hospitalar para serviço hospitalar sem conhecerem tudo desse serviço e sem estarem inseridos numa equipa com laços de confiança, não podendo prestar o mesmo apoio aos doentes. Ganham mais, é verdade, mas muitos não querem ganhar mais, querem sim um vínculo com o hospital que o governo proibe.

As ETT brindam a este negócio e fazem milhões com a falta de organização. O Estado perde dinheiro dos contribuintes.

Mais uma prova de que a austeridade mata e de que a precariedade nos empurra a todos para baixo.

Retirado daqui