in "DN"
Os
sindicatos têm andado em negociações com o governo para aumentos
salariais; a proposta apresentada pelos primeiros é de aumento de 90
euros igual para todos os trabalhadores da função pública, que por
sua vez levaria a aumento generalizado dos salários do sector
privado; o governo de início foi numa de 0,3% para todos, depois 7
euros e, por fim e aparentando num grande esforço de magnanimidade,
de 10 euros mas só para os trabalhadores do estado que aufiram até
683 euros. Claro que, por este ritmo, jamais os trabalhadores da da
função pública regressarão aos salários de 2010, não contando
com a inflação, e nem os restantes trabalhadores. É uma
desvalorização permanente dos rendimentos do trabalho, que o
governo PS tenta escamotear. O resto é conversa da treta para iludir
os incautos.
Como
seria de esperar, os sindicatos fazem o papel deles, indignam-se com
a proposta do governo, consideraram-na “inaceitável e
provocatória”, o que não deixa de ser verdade, tendo em virtude
disso realizado manifestação e greve no passado dia 31 de Janeiro;
e como o governo não descola da sua posição, como tem sido
habitual, e em relação a outras matérias, como férias e subsídio
de alimentação, não mostrou abertura para melhoria, os sindicatos
das duas centrais ameaçam avançar com “novas formas de luta”.
Ora, o que acontece é que esta é mais uma cena já vista, um déjà
vu nauseante, seja, por um lado, um governo irredutível, porque sabe
que do outro lado da mesa se encontram sindicatos dóceis, que por
detrás dos bastidores garantem a paz social; todos interlocutores
que pouco ou nada enganam. Mas, pelo sim pelo não, o governo
entendeu arranjar mais uma ministra, a da Modernização do Estado,
pessoa aparentemente mais trauliteira para arrumar de vez com a tal
reforma, tão desejada pela nossa burguesia, que porá a máquina do
Estado a trabalhar com menos gente e com menores custos e, não deixa
de ser importante, a fazer menos concorrência com os privados nos
serviços ainda públicos.
O
jornal “Expresso”, o porta-voz oficioso do militante nº1 do
PSD/PPD, fez contas e chegou à conclusão que o poder de compra dos
trabalhadores da Administração Pública sofreu uma diminuição de
10% desde a intervenção da troika em Portugal e que a subida
anunciada pelo Governo do senhor Costa está “muito longe” de
compensar a perda acumulada. Ora, deve-se dizer que os números estão
errados e que a perda de poder de compra, contando com a
desvalorização imposta pela inflação, será mais do dobro, ou
seja, mais de 20% em média. Este sofisma, por não passar de uma
falácia feita de má-fé, serve para enganar os trabalhadores e
impedindo-os assim de reivindicar aumentos justos e que mais não são
que um direito, embora sempre atacado, que lhes é inerente.
Mas
nem os 10 por cento, em média, os sindicatos reclamam, e até os 850
euros de salário mínimos são relegados para segundo plano e a
actualização das reformas, a começar pelas mais baixas, é
completamente esquecida. Salário mínimo de 900 euros, tal como em
Espanha (e não nos esqueçamos que a “nossa economia”, falando
no geral, é cada vez mais um prolongamento da espanhola), como
aumento geral 20% em média para os salários de todos os sectores,
bem como aumento das reformas mais baixas para os 600 euros, são
reivindicações que não pecam por excesso, apenas reporiam a
situação dos rendimentos dos trabalhadores e dos aposentados e
reformadas para níveis anteriores a 2010. Claro que estas propostas
não concitam a concordância do governo e nem dos patrões, porque
iria contra a missão a natureza do governo e do PS e impediria o
normal fluir da acumulação e concentração do capital. E perante a
timidez das propostas sindicais e da cobardia política dos seus
dirigentes, o governo PS/Costa continua a fazer voz grossa.
Não
só os salários na Função Pública estão, em termos reais, a
baixar como a precariedade está a aumentar. E é o Instituto
Nacional de Estatística (INE) que o diz: no ano da chegada da troika
(2011) existiam
817,6 mil trabalhadores com vínculos laborais instáveis e no ano
passado, 2019, o número de trabalhadores com este tipo de vínculo
laboral atingiu quase os 900 mil; ou seja, uma diferença de mais de
73 mil trabalhadores. Enquanto os trabalhadores se deparam com
salários mais miseráveis e situação laboral mais precária, a
banca lucra quase 5,3 milhões de euros por dia (!) em 2019, isto é,
os quatro maiores bancos (dois deles inteiramente espanhóis)
apresentam lucros de 1,9 mil milhões de euros: Santander
Totta, lucros de 527,3 milhões (mais 5,5% em relação a 2018); BPI,
lucro de 328 milhões, quebra de 33% face a 2018, contudo a actividade em Portugal gerou um resultado de 231 milhões de euros, subida de 13
milhões de euros; BCP, lucros de 302 milhões, mais 6,9%; CGD, um
lucro de 776 milhões de euros, mais 280 milhões de euros face a
2018, o melhor resultado em 12 anos; deve-se salientar que estes
lucros foram feitos graças ao aumento das comissões sobre os
clientes, a maior parte deles simples cidadãos. O povo paga sempre.
Perante
a pilhagem e a extorsão, o governo, na pessoa de um dos seus
ministros mais paspalhos, vem manifestar indignação pelos prémios
que os administradores privados e principais quadros da TAP irão
receber em ano de prejuízos, mais de 100 milhões de euros (prejuízo
de 105,6 milhões de euros). É preciso ter lata para o desaforo e
para a farsa. É público que o Estado possui 50% do grupo TAP
(Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, 45%, e os
trabalhadores 5%), mas são os privados que gerem e embolsam os
lucros, agora os prémios, ficando o Estado com o prejuízo. Claro
que assim qualquer um (vigarista) é um empresário de sucesso! Para
alterar a situação de atribuição dos prémios, o estado teria que
adquirir, pelos estatutos por si aprovados, note-se!, a parte que
cabe aos privados. Mas, depois do episódio do bobo Pedro Nuno
Santos, David Neeleman, que salvou a sua empresa falida à custa da
TAP, anuncia a possível venda da sua participação, os 45%, à
alemã Lufthansa. A transportadora dita “nacional” passará a ser
uma filial da gigante alemã, confirmando a posição de protectorado de Portugal no seio da UE, e o Governo PS/Costa um mero gestor dos
negócios dos capitalistas. Como se constata os factos falam por mil
palavras. É por estas e por outras que “não há dinheiro” para
os trabalhadores!