Eugénio
Rosa
Contrariamente
ao que afirmou o governo (1º ministro e ministra da Saúde) o
subfinanciamento crónico do SNS pelo OE vai continuar em 2020 assim
como vai continuar a enorme divida do SNS a fornecedores privados.
Vai manter-se a política de destruição do SNS em benefício dos
lucros do negócio privado da saúde.
(Resumo)
EM
2020 AS TRANSFERÊNCIAS DO OE PARA O SNS INFERIORES ÀS DESPESAS EM
809 MILHÕES €
No
período 2014 -2020, as transferências do OE para o SNS somaram
61.109 milhões €, e a despesa do SNS foi de 68.697 milhões €,
portanto registou-se um saldo negativo de -7.588 milhões €. No
período de governos PS (2016/2020) o saldo negativo foi de -5.365
milhões €. Mesmo em 2020, em que o atual governo anunciou que iria
acabar o subfinanciamento crónico do SNS, a previsão é que a
despesa seja superior às transferências do OE em 809 milhões €.
Mesmo adicionado as taxas moderadoras – 170M€/ano- a receita
continua a ser muito inferior à despesa. Daí o crescimento
ininterrupto da divida que continuará em 2020.
A
realidade é bem diferente das declarações governamentais que
servem para a propaganda.
A
DIVIDA ENORME DO SNS A FORNECEDORES PRIVADOS MANTER-SE-Á EM 2020
Uma
outra declaração do actual governo que não tem também
correspondência no real, é a resolução da enorme divida do SNS,
consequência do subfinanciamento crónico pelo OE.
Em
Novembro de 2019, a divida total do SNS a fornecedores privados
atingia 1.989 milhões €, e a vencida (a que ultrapassava o prazo
acordado de pagamento) era de 1.309 milhões €. Em relação ao do
ano de 2018 não se verificou qualquer melhoria pois, no 3º
Trimestre de 2018, a divida total somava 1.950 milhões €.
Esta
enorme divida é causa de má gestão (não permite qualquer
planeamento e obtenção de descontos nas compras), de custos
excessivos (os fornecedores naturalmente incluem no preço uma taxa
pelos atrasos), e contribui para o agravamento das dificuldades e da
degradação do SNS pois impede que adquira a tempo e horas e com
qualidade o que precisa.
E
vai continuar a aumentar em 2020, porque, por um lado, as
transferências do OE para o SNS (10.290M€) são insuficientes para
cobrir as despesas previstas (11.090M€) como mostramos, e, por
outro lado, o reforço do orçamento dos hospitais realizado em
Dez.2019 para pagar a divida existe foi manifestamente insuficiente.
Segundo
o chamado “Plano de Melhoria da Resposta do SNS”, aprovado em
Dez.2019 através da RCM 198/2019, o governo, no ponto 14, refere
“como medida adicional para 2019 , um reforço de 550 milhões €
destinados à redução do actual stock de pagamentos em atraso
(divida) Do SNS” (Ponto 14).
Em
Novembro de 2019, portanto não incluía o mês de Dezembro, a divida
do SNS aos fornecedores privados já atingia 1.989 milhões €. Se
deduzirmos os 550 milhões € ainda ficam por pagar 1.439 milhões
€, que transitaram para 2020. Afirmar, como faz o governo na sua
campanha de propaganda que a situação do SNS vai melhorar em 2020 é
não falar verdade para não utilizar outras palavras.
O
INVESTIMENTO RIDÍCULO EM 2020 EM NOVOS HOSPITAIS CONTRARIA AFIRMAÇÕES
DO GOVERNO
Um
dos aspectos da campanha de propaganda do governo é que vai fazer
grandes investimentos em novos hospitais prometidos mas nunca
realizados. Comparemos estas promessas com a realidade.
Exceptuando o Hospital da Madeira, cujos 62 milhões € foram concedidos em
troca da abstenção no OE 2020, o investimento que resta para 5
grandes hospitais em 2020 – Lisboa Oriental, Seixal, Sintra, e
Alentejo – é ridículo e simbólico pois como ele praticamente
nada se pode fazer (41 milhões €).
O
total de 950 milhões € que consta do quadro é para o futuro, mas
não se sabe quando será realizado. Mas é desta forma que se
desinforma e manipula a opinião publica criando falsas expectativas (a 1ª pedra do Hospital do Seixal já foi lançada pelo governo de
Sócrates mas ainda não passou da 1ª pedra. E a ministra ainda veio
prometer mais um hospital para o Algarve).
A
DEGRADAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E DE REMUNERAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DE SAÚDE VAI CONTINUAR EM 2020, APESAR DE SER UMA
CAUSA IMPORTANTE DA DESTRUIÇÃO DO SNS
Há
uma incompreensão das condições de trabalho, de carreira
profissional e de remunerações dos profissionais de saúde no SNS
que são degradantes, que estão a destruir o SNS, e a alimentar a
explosão do negócio privado da saúde em Portugal.
A
falta de profissionais dedicados em exclusividade ao SNS é actualmente o problema mais grave deste. A nova lei de bases de saúde
aprovada em 2019 foi uma oportunidade perdida. Ela não dá resposta
aos maiores problemas do SNS. O OE 2020 é a prova disso. No SNS, com
a introdução do Contratos Individuais de Trabalho instalou-se a
selva laboral, onde profissionais a fazer o mesmo têm contratos de
trabalho com remunerações muito diferentes.
As
carreiras médicas foram destruídas perante a passividade da A.
República. A compra de horas de médico (100 M€/ano) impera. A lei
que permitia a exclusividade no SNS foi abolida em 2009. A
promiscuidade dos profissionais que trabalham simultaneamente em
hospitais públicos e privados multiplicou-se afectando mesmo a sua
consciência ética e o seu sentido de dever público, reduzindo
drasticamente a sua produtividade, o que agrava as dificuldades do
SNS.
O
investimento no SNS é mínimo, degradando as condições de trabalho
dos profissionais. E o OE 2020 não permite melhorar as condições
de vida e de trabalho dos profissionais de saúde. Em 2019, segundo o
governo (pág. 37 da Nota Explicativa do MS) as despesas com pessoal
atingiram 4.371 milhões €, ou seja, mais 285 milhões € do que
em 2018. Para 2020, foram orçamentados apenas 4.547 milhões € de
despesas de pessoal para o SNS, só mais 176 milhões € do que em
2019. Com tal aumento é impossível garantir carreiras e
remunerações dignas aos profissionais de saúde. E assim o SNS
continuará a ser destruído e o negócio privado de saúde
continuará a ser alimentado. Mas nenhum partido na Assembleia da
República se preocupa verdadeiramente com isto considerando mais
importante a descida do IVA da electricidade. A cegueira política
continua.
Mas
assim se destrói uma das principais conquistas de Abril vital para
os portugueses e para combater as graves desigualdades que continuam
a existir no país. À direita que quer destruir o SNS ainda se
compreende, mas à esquerda não, tem de ser mais firme e actuante se
não quiser que o SNS seja destruído».
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