sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Falta de ética ou corrupção?

 


Notícia recente que não consegue passar despercebida: “Inspeção da Saúde instaura processo de averiguação a relações de pneumologista Filipe Froes com farmacêuticas”.

Alguns médicos são intocáveis. Mas sabemos antecipadamente que é tudo legal, uma simples questão de interpretação de um ligeiro conflito de interesses. Até agora nenhum notável foi condenado por corrupção em Portugal.

E não deixa de ser interessante fazer um resumo dos factos que vieram a lume sobre o “conflito de interesses” de alguns médicos e respectivas organizações e os grandes laboratórios farmacêuticos, nomeadamente os fabricantes de vacinas:

- A Ordem dos Médicos recebeu até há pouco tempo, segundo o Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed, 443.841 euros. Dos quais 380.000 euros da farmacêutica Merck S.A. Valor recebido este ano, enquanto no ano passado recebeu apenas 6.125 euros das farmacêuticas. Como explicar a diferença?

- O pneumologista Filipe Fores de que se fala recebeu 378.851 euros, com a Pfizer à cabeça com 130.665 euros, seguindo-se a Merck Sharp & Dohme (80.689 europs) e a BIAL (44.829 euros). Este ano foram 50.568,72 euros provenientes de 13 farmacêuticas. Parte do dinheiro que recebe das farmacêuticas é feito através de empresa de que é sócio juntamente com a esposa.

- Outro lobista será o Doutor Luís Varandas, infecciologista pediátrico do Hospital D. Estefânia (Lisboa), que desde o início deste ano recebeu 22.156 euros, dos quais 16.148 euros da Pfizer em consultadoria por palestras e conferências.

- Joaquim Ferreira, neurologista, professor da Faculdade de Medicina de Lisboa e médico que elaborou um relatório final de diagnóstico de Alzheimer a Ricardo Salgado, artimanha para o livrar de prestar contas à justiça pelas vigarices do BES, recebeu, desde 2019, 108 mil euros em gratificações provenientes de farmacêuticas.

- A Sociedade Portuguesa de Pneumologia recebeu desde 2019 cerca de 1,13 milhões de euros da indústria farmacêutica. 487.895 euros, provenientes de 19 empresas farmacêuticas, foram para a realização do seu 36ª Congresso, que ocorreu no final do ano passado, no Algarve. Dados do Portal da Transparência e Publicidade do Infarmed.

A ordem dos médicos, agora tão entusiasmada com a vacinação das criancinhas, recebeu um relatório de Manuel Mendes Silva, urologista e presidente do Conselho de Ética da Ordem dos Médicos, cujo parecer sobre a vacinação de jovens é contrário aos interesses particulares do bastonário Miguel Guimarães. Parecer que foi de imediato engavetado e que mais tarde foi revelado por intervenção de uma jornalista, tendo o seu autor começado por negar a sua existência, mostrando bem a ética desta gente. Para alguns será falta de ética, para outros será apenas corrupção. Como o recebimento dos milhões é sempre apoiado pela realização de serviços, palestras, conferências, assessorias, estudos e inclusivamente ensaios clínicos (outra estória que envolve directores de serviço e administrações das instituições públicas), tudo será legal.

Para se ver bem ao que anda toda esta gente, ordens, associações médicas, médicos (alguns), governantes e políticos é constatar que ainda antes da aprovação da vacinação de crianças pela EMA, já o governo tinha efectuado a compra adicional de 700 mil doses da vacina da Pfizer e o secretário regional da saúde da Madeira (apontado aqui há uns tempos como envolvido no negócio da aquisição de exames complementares de diagnóstico aos privados) já tinha avançado que iriam chegar a Portugal no dia 20 de Dezembro 300 mil doses. Um negócio bom demais para se deixar perder a oportunidade de muita boa gente ir enriquecer à custa desta estória das vacinas; mas, como é óbvio, dirão sempre que é a bem das crianças e da saúde dos portugueses. Antigamente, dizia-se a “Bem da Nação”.

Ainda há pouco a Comissão Europeia anunciou que «o terceiro contrato celebrado com o consórcio Pfizer/BioNTech inclui doses suficientes de vacinas anti-covid para reforçar a vacinação e também para a imunização de crianças entre os 05 e os 11 anos. “Reservámos 1,8 mil milhões de doses, o que é suficiente para reforços da vacinação e ainda para vacinar outras categorias de pessoas, como as crianças” na União Europeia (UE), disse o porta-voz do executivo comunitário para a Saúde Pública, Stefan de Keersmaecker» (da imprensa). Por que será que é só deste laboratório e não de outros em plano de igualdade? Por que é que os contratos possuem anexos secretos que a Comissão Europeia recusou entregar no Parlamento? Para se perguntar: a quanto montarão as comissões que esta gente de Bruxelas irá embolsar ou já embolsou?

 

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