O
Governo PS está agora a ser bombardeado com acusações de corrupção
e tráfico de influências no que respeita à aquisição por ajuste
directo dos materiais usados no combate à pandemia do coronavírus,
desde máscaras a testes e outro equipamento, com a justificação de
“urgência”, de não haver tempo para lançar concursos, sempre
morosas pela complexa burocracia. O caso que estará a dar mais que
falar é o ajuste directo a empresa do ex-candidato socialista João
Cordeiro à Câmara de Cascais (e ex-presidente da Associação
Nacional de Farmácias, cargo que manteve durante 32 anos) de uma
encomenda no valor de nove milhões e trinta mil euros em máscaras e
cujo prazo de entrega é de 268 dias, com o argumento da dita
“urgência imperiosa”. Esta empresa, QUILABAN, deve dizer-se, já
fez 46 contratos
com o Estado no montante de muitos milhões de euros desde o início
do estado de emergência.
A
ministra da Saúde, confrontada com o escândalo por alguns
jornalistas, respondeu que os contratos iriam ser tornados públicos,
dando a entender que no caso referente o prazo será para entrega
faseada ao longo do tempo e, no geral, a lei foi respeitada. Com
transparência ou falta dela, a verdade é que o Governo, à pala da
Covid-19, fez contratos por ajuste directo de mais de 100 milhões de
euros, segundo a imprensa, e que poderão ir até aos 300 milhões, a
pouco mais de meia-dúzia de empresas, o que poderá levar-nos a
pensar de quanto serão as comissões e em que empresas os actuais
governantes com responsabilidade pelos ajustes directos irão ter
emprego depois de saírem do Governo?
Mas
não são só os “negócios da China”, mas ao contrário porque
estes ficarão bem caros ao erário público e não são nenhumas
pechinchas, que têm molestado a credibilidade do Governo e a
honorabilidade de alguns dos seus membros, também tem incomodado a
contratação dos serviços ao sector privado para reduzir as listas
de espera, terrivelmente aumentadas pelo dedicação quase exclusiva
do SNS ao combate à doença Covid-19, com a ministra a anunciar o
aumento de cheques para cirurgias, ou a continuação de não se
querer contratar o número necessário de profissionais para que o
SNS não colapse. Um colapso certo e sabido a prazo, sem a agravante
de ter de atender milhares de doentes infectados pelo novo
coronavírus, cujo número irá aumentar até ao fim do ano.
Quanto
à questão da acusação da Ordem dos Médicos de que estes
profissionais são em número insuficiente parece difícil de
refutar: “Sem descanso, médicos consideram contratação em tempo
de pandemia insuficiente”. E a razão é óbvia: há médicos sem
conseguir tirar folgas ou férias porque foram contratados só mais
cem especialistas, entre os 2300 profissionais de saúde contratados
durante o período da pandemia. Daí a necessidade de reforçar o
número de médicos, atendendo à necessidade acrescida de que agora
haverá mais cirurgias, consultas e exames complementares de
diagnóstico a realizar.
Se
os médicos são insuficientes, o que dizer de enfermeiros e de
outros técnicos de saúde? Dos 2300 profissionais já referidos, 750
são enfermeiros e 1100 são assistentes
operacionais (mais 150 técnicos superiores de diagnóstico e
terapêutica e 150 assistentes técnicos), números insuficientes
para colmatar as faltas em tempo normal de actividade do SNS, tal foi
a razia feita pelos governos do PSD e também do PS, pelas suas
políticas economicistas, respeitadoras das imposições da troika e
mais tarde de Bruxelas, quanto mais em tempo de emergência
sanitária! Não esquecer que os assistentes operacionais são
profissionais tão imprescindíveis como os restantes e que são os
mais miseravelmente pagos, 650 euros!
Os
sindicatos e Ordem dos Enfermeiros falam na necessidade de
contratação de mais
enfermeiros, alertando que muitos enfermeiros estão inclusivamente a
abandonar a profissão devido às condições miseráveis oferecidas
pelo Governo, desde salários a 6,42 euros/hora à ausência de uma
carreira digna e abrangente a todos os enfermeiros. A continuação
dos CIT's é completamente inadmissível e uma vergonha para os
sindicatos que continuam a pactuar. E esta realidade torna-se ainda
mais confrangedora considerando que a maioria dos enfermeiros está
neste momento completamente extenuada, algo desmotivada e à espera
que o Governo reconheça de facto a importância da sua função.
O
estado de emergência teve como objectivo não proteger a saúde
pública, como anunciaram, mas permitir, através da suspensão das
liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, alterar os planos de
férias, deslocar de serviço os trabalhadores, suspendê-los do
trabalho, para além da consequência inevitável, apesar de dizerem
o contrário, do aumento do desemprego e da precariedade. Se a
intenção era defender a saúde dos portugueses, então não se
tinha deixado chegar o SNS ao ponto de descalabro a que chegou, e não
se permitia os negócios que agora têm crescido ao abrigo do combate
do à pandemia, e tinha-se destinado esses muitos milhões à
contratação de profissionais de saúde e de material a tempo e a
horas, até para evitar as consequências nefastas da especulação
de preços, e activando e reconvertendo as unidades fabris que ainda
se encontram nas mãos do Estado, como seja o Laboratório Militar e
as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército.
Só
que a política do Governo é a de continuar a retirar rendimentos
aos trabalhadores, pelos meios mais díspares, para os entregar aos
grandes empresários e grupos económicos, uma repetição do que se
fez em relação aos bancos, em 2008-2014, mas agora estendido a um
maior número de empresas que quando têm lucros, mentem-nos aos
bolsos, e quando há prejuízos, endossam-nos ao povo contribuinte. É
o socialismo ao contrário, o velho timbre do Partido Socialista e de
que tanto gosta, por exemplo, o SEP e outros que têm andado com os
governos PS ao colo.
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