Banksy's
Game Changer celebrates Britain's brave NHS health workers, who are
at the forefront of the COVID-19 pandemic
Toda
a imprensa de referência, desde que se iniciou o surto da doença
Covid-19, não tem feito outra coisa senão dizer que “o
coronavírus ataca todas as pessoas de igual modo” e que “estamos
todos no mesmo barco”, razão pela qual devemos estar todos juntos
em estreita “união nacional”; ora, os factos têm estado a
demonstrar exactamente o contrário: nem toda a gente é atingida da
mesma forma, como os meios ao dispor para lhe fazer frente à
pandemia são diferentes conforme o estatuto social e económico de
cada um.
É
este sentido de desigualdade que os autores do Barómetro Covid-19 da
Escola Nacional de Saúde Pública sublinham: «os concelhos com
maiores taxas de desemprego e maiores desigualdades de rendimento são
aqueles que têm maior número acumulado de casos de Covid-19 e a
doença não se apresenta como uma ameaça igual para todos».
E
mais: «uma em cada quatro das pessoas que ganham menos de 650
euros mensais diz ter perdido totalmente o rendimento, enquanto
no conjunto dos que ganham mais 2500 euros isso aconteceu apenas em
6% dos casos»; ou seja, os cidadãos com mais rendimento perdem em
média quatro vezes menos rendimento. Exactamente o oposto ao
afirmado no último Boletim do Banco de Portugal, que dizia que «a
pandemia tem um impacto maior nas famílias com rendimentos do
trabalho mais elevados».
Em
relação à saúde: «o fenómeno das desigualdades pode exacerbar
as vulnerabilidades previamente existentes, ou seja, as consequências
podem revelar-se mais negativas para pessoas em situação à partida
mais precária», avisam peritos que assinam o estudo.
Afinal,
a pandemia não trata todos por igual: «já se sabe que a saúde
piora a cada degrau que se desce na hierarquia social», que «as
condições sócio-económicas podem ter uma influência
significativa no risco de infecção, mas o mesmo pode acontecer no
diagnóstico, no tratamento e até na sobrevivência». E na sua
prevenção, já que «uma
em cada duas pessoas que ganham menos de 650 euros tem dificuldades
em comprar máscaras».
A
precariedade no trabalho, a remuneração baixa e a dificuldade de
acesso a apoios sociais podem «impedir que as pessoas se resguardem
mais nas suas habitações para se protegerem do vírus», e nem
todos os trabalhadores podem estar em teletrabalho, sendo assim
factores acrescidos de risco. Este também aumenta quando as
condições de vida são piores, quando as «pessoas vivem em bairros
onde existe uma maior densidade populacional e utilizam transportes
públicos mais lotados».
Como
são factores de risco trabalhar em fábricas sem condições e com
patrões esclavagistas, a exemplo dos trabalhadores que andaram
infectados durante mais de quinze dias em fábrica da Azambuja.
Factos estes que pouco ou nada preocupam os que se indignaram com a
manifestação na rua do 1º de Maio (diga-se de passagem, organizada
timidamente pela CGTP), e que, à pala da indignação por algumas
medidas do PS e da situação de abandono dos trabalhadores, tentam
pescar nas águas turvas do populismo. E não são só o CDS e o
Chega, opinadores encartados, exemplo Miguel de Sousa Tavares, não
perdem oportunidade de atacar os trabalhadores e pedir mais
cerceamento das liberdades e direitos do cidadão.
A
intenção das nossas elites, tendo o governo do PS como agente
executivo (tal como as grandes empresas), é, aproveitando a
pandemia, a de impor medidas de mais austeridade e, se for
necessário, aumentar a repressão sobre os trabalhadores (estamos
bem lembrados da requisição civil dos enfermeiros de há um ano),
não satisfazendo as suas mais que justas reivindicações, desde um
salário digno a uma carreira profissional de futuro.
O
desemprego e a precariedade aumentaram em pouco mais de mês e meio
(tempo de estado de emergência): mais 75 mil pessoas nos centros de
emprego em Abril, comparado com igual mês de 2019, e redução dos
salários de um milhão e trezentos mil trabalhadores em regime de
lay-off. Entretanto as
organizações patronais, com destaque para a CIP, exigem ao Governo
20 mil milhões de euros em fundo perdido e em linhas de crédito
pelas quais o Estado deverá ser o fiador, e mais recentemente o
prolongamento do regime de lay-off por
tempo indeterminado. Se isso acontecer, será dívida pública a
nível astronómico (agora, já é impagável!) e menos investimento no
SNS e em outras áreas sociais. Na prática: os ricos ficam mais
ricos e os trabalhadores ficam duplamente mais pobres.
Não,
não somos todos iguais nem estamos no mesmo barco,
como alguém já disse: «Estamos no mesmo mar, uns em iates de luxo,
nós outros na água a tentar nadar!»
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