No
último balanço, a Direção-Geral da Saúde (DGS) diz que há 11278
casos confirmados de infeção por coronavírus (e 295 mortos) dos
quais 1332
são profissionais de saúde: 231
médicos infetados,
339 são enfermeiros e 762 são outros profissionais, na maioria,
assistentes operacionais. No entanto, estes números só foram
avançados depois da Ordem dos Enfermeiros (OE) ter colocado em causa
os números anunciados pela Ministra da Saúde em conferência de
imprensa. Segundo a OE, e há três dias, já haveria mais de 300
enfermeiros infetados e 1.750 em vigilância, com a seguinte
distribuição: Porto com 104, seguido de Lisboa, com 62, Coimbra com
46 e Braga 26. Mas, na realidade, já haveria mais na altura, quanto
mais agora!, na medida em que estes números foram o resultado de inquérito realizado a 18.306 enfermeiros, ou seja, a 40% do total
dos enfermeiros que trabalham no SNS.
Foi
também notícia a contratação pelo governo de cerca de 500
enfermeiros para “reforçar o combate da pandemia no Serviço
Nacional de Saúde”, esclarece a Ministra, para assim, diz a
imprensa, “responder às exigências do Sindicato de Todos os
Enfermeiros Unidos (SITEU)”.
Foi preciso surgir mais um sindicato (onde pára o SEP, para não
dizer o Wally!?) a exigir a contratação de enfermeiros cuja falta
já era mais do que gritante ainda muito antes do aparecimento da
pandemia. Mas, atenção! A contratação é feita por um período de
4 meses, que poderá ser renovada ou não caso a pandemia se mantenha
ou se desvaneça, e a um preço de 6,42 euros por hora, valor que já
inclui o subsídio de refeição, razão pela qual não tem havido
grande adesão por parte dos enfermeiros desempregados. O Governo,
aproveita a ocasião de desgraça pública, para ter trabalho
escravo, como vulgar patrão privado e explorador, e descartável na
primeira oportunidade.
O
Governo do senhor Costa e da Ministra incompetente e mentirosa têm
feito tudo para não gastar dinheiro ou gastar o menos possível
com o combate à doença Covid-19, tal como têm feito com o SNS até
agora, seja com pessoal, seja com toda a espécie de material, desde
máscaras, EPIs, a ventiladores. Em relação ao uso de máscara,
quer pelo pessoal de saúde, quer por outros profissionais de
prestação de socorro ou de segurança, foi sempre adiar até à
última; e em relação às pessoas em geral, o Governo e a DGS,
através dos seus responsáveis máximos, sempre foram peremptórios
em desaconselhar o uso da máscara, nomeadamente em espaços
públicos, porque nada prevenia e até seria contraproducente por dar
uma falsa sensação de segurança.
Agora,
e após alguma relutância, lá vão fornecendo o equipamento de
protecção às pessoas que lidam com o combate à epidemia, e,
lentamente e às pinguinhas, já admitem, embora engolindo alguns
engulhos, a necessidade do uso da máscara por todos os cidadãos que
andam na rua, mas ainda não a sua obrigatoriedade. E por pressão do
Conselho
de Escolas Médicas, que defende uso generalizado de máscaras por
se reconhecer que é eficaz levando "à
diminuição da propagação da doença, não só neste momento de
surto da pandemia, como futuramente na prevenção de futuros
surtos",
incluindo as máscaras de fabrico caseiro, cuja eficácia pode chegar
aos 85%. Se não tem havido material suficiente, foi porque o Governo
não tomou as devidas medidas a seu tempo, teve mais de dois meses há
espera do que toda a gente já sabia que iria inevitavelmente chegar,
uma outra consequência perniciosa do processo de globalização
neo-liberal.
O
Governo e a Ministra ignorante nunca quiseram ver que o número de
infectados assintomáticos pode chegar ao triplo dos doentes
sintomáticos e que aqueles também são agentes transmissores activos. Mais
uma vez se pode
inferir que, para além do desprezo que esta gente nutre pela saúde
dos portugueses em geral, a sua preocupação é não gastar
dinheiro; deverão estar a guardar para os bancos e já pensando na
austeridade em dose reforçada que virá mal se debele a pandemia.
Porque o dinheiro que vier de Bruxelas, via Banco Central Europeu
(BCE), ou dos bancos portugueses, será dinheiro emprestado, e não a
fundo perdido, o que fará disparar de novo a dívida pública, agora
para números estratosféricos.
Os
próprios números de cidadãos infectados, falecidos, sob observação
ou até recuperados, à semelhança do número de enfermeiros
infectados, são números que a DGS vai deixando sair, de forma
controlada e capciosa, para mostrar que a pandemia está a ser
combatida correctamente pelo Governo, e se este não faz mais é
porque não pode. É uma manipulação rasteira e despudorada, que
vem desde o início da crise, ainda estamos bem lembrados dos números
apresentados referentes aos concelhos de Porto, Braga ou Guimarães,
e que eram constantemente contrariados pelos números bem superiores
apresentados pelos presidentes das Câmaras. Em relação ao Porto,
foi patética a ideia da Directora Geral da Saúde, que já deveria
ter colocado o lugar à disposição, em relação à hipóteses de
cerca sanitária na cidade do Porto devido ao elevado número de
infectados. Mas mais confrangedor foi ver a alteração dos números
apresentados, com a argumentação da maneira como a contagem é
feita, devido à reacção violenta do Presidente da Câmara que lhe
enviou uma roda de incompetência e simultaneamente um desafio de
arrogância ao Governo, de “quem manda aqui sou eu!”, tendo
aquele feito fez marcha atrás, mostrando bem a cobardia de quem nos
(des)governa... e a falsidade dos números.
O
Governo e a Ministra têm medo que os hospitais públicos colapsem
dentro em breve, daí o impedirem custe o custar o internamento dos
doentes infectados com o Covid-19, o que será inevitável não
exactamente apenas pelo aumento dos internamentos, actualmente
1084
pessoas internadas (191
em 26 de Março, 273
em 27, 726
em 01 de Abril), das quais 267 nos cuidados intensivos,
mas pela falta de camas e de enfermeiros e médicos treinados em
cuidados intensivos; e não é em poucos dias que se treina pessoal
nesta área de cuidados, de pouco valendo que haja a curto prazo um
aumento mesmo significativo do número de ventiladores. O
primeiro-ministro e sua muchacha não deverão sentir a consciência
pesada pelo encerramento de milhares de camas e dezenas de serviços
no SNS, pelos menos nos últimos 15 anos, desde o governo
PS/Sócrates, já não nos referimos sequer desde a década de 80 do
século passado quando se deu o pontapé de saída para a liquidação
do Serviço Nacional de Saúde, porque consciência é coisa que
nunca tiveram.
O
Governo só se tem mexido por força da pressão da opinião pública
e das organizações dos trabalhadores da Saúde, das Ordens Profissionais e dos Sindicatos. E destes nem todos têm ousado fazer
ouvir a sua vez, com destaque para o SEP e para o STFPS (Sindicato
dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais) que há muito
deveriam ser peremptórios e firmes na exigência de mais EPIs e de
testes, e mais testes, a todos os trabalhadores do SNS (no CHUC a
maioria dos assistentes operacionais ainda não dispõe de
equipamento de protecção individual completo, por exemplo, e são
obrigados andar com a mesma máscara durante todo o turno). A
preocupação do Governo e do presidente da República, que até vai
às compras, quem diria!?, e anda na rua com máscara e luvas, foi, e
é, ter declarado o estado de emergência a fim de facilitar que
muitos patrões, principalmente às grandes empresas, possam agora, com o pretexto da pandemia, despedir à vontade ou reduzir os custos do trabalho endossando-os
ao Estado, ou de preferência receberem mais uns milhões (a CIP
calcula entre 30 mil a 35 mil milhões de euros) a fundo perdido.
Para a saúde... o povo e os trabalhadores do SNS que se desenrasquem!
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