domingo, 5 de abril de 2020

Covid-19: Uma Ministra e um Governo mentirosos



No último balanço, a Direção-Geral da Saúde (DGS) diz que há 11278 casos confirmados de infeção por coronavírus (e 295 mortos) dos quais 1332 são profissionais de saúde: 231 médicos infetados, 339 são enfermeiros e 762 são outros profissionais, na maioria, assistentes operacionais. No entanto, estes números só foram avançados depois da Ordem dos Enfermeiros (OE) ter colocado em causa os números anunciados pela Ministra da Saúde em conferência de imprensa. Segundo a OE, e há três dias, já haveria mais de 300 enfermeiros infetados e 1.750 em vigilância, com a seguinte distribuição: Porto com 104, seguido de Lisboa, com 62, Coimbra com 46 e Braga 26. Mas, na realidade, já haveria mais na altura, quanto mais agora!, na medida em que estes números foram o resultado de inquérito realizado a 18.306 enfermeiros, ou seja, a 40% do total dos enfermeiros que trabalham no SNS.
Foi também notícia a contratação pelo governo de cerca de 500 enfermeiros para “reforçar o combate da pandemia no Serviço Nacional de Saúde”, esclarece a Ministra, para assim, diz a imprensa, “responder às exigências do Sindicato de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU)”. Foi preciso surgir mais um sindicato (onde pára o SEP, para não dizer o Wally!?) a exigir a contratação de enfermeiros cuja falta já era mais do que gritante ainda muito antes do aparecimento da pandemia. Mas, atenção! A contratação é feita por um período de 4 meses, que poderá ser renovada ou não caso a pandemia se mantenha ou se desvaneça, e a um preço de 6,42 euros por hora, valor que já inclui o subsídio de refeição, razão pela qual não tem havido grande adesão por parte dos enfermeiros desempregados. O Governo, aproveita a ocasião de desgraça pública, para ter trabalho escravo, como vulgar patrão privado e explorador, e descartável na primeira oportunidade.
O Governo do senhor Costa e da Ministra incompetente e mentirosa têm feito tudo para não gastar dinheiro ou gastar o menos possível com o combate à doença Covid-19, tal como têm feito com o SNS até agora, seja com pessoal, seja com toda a espécie de material, desde máscaras, EPIs, a ventiladores. Em relação ao uso de máscara, quer pelo pessoal de saúde, quer por outros profissionais de prestação de socorro ou de segurança, foi sempre adiar até à última; e em relação às pessoas em geral, o Governo e a DGS, através dos seus responsáveis máximos, sempre foram peremptórios em desaconselhar o uso da máscara, nomeadamente em espaços públicos, porque nada prevenia e até seria contraproducente por dar uma falsa sensação de segurança.
Agora, e após alguma relutância, lá vão fornecendo o equipamento de protecção às pessoas que lidam com o combate à epidemia, e, lentamente e às pinguinhas, já admitem, embora engolindo alguns engulhos, a necessidade do uso da máscara por todos os cidadãos que andam na rua, mas ainda não a sua obrigatoriedade. E por pressão do Conselho de Escolas Médicas, que defende uso generalizado de máscaras por se reconhecer que é eficaz levando "à diminuição da propagação da doença, não só neste momento de surto da pandemia, como futuramente na prevenção de futuros surtos", incluindo as máscaras de fabrico caseiro, cuja eficácia pode chegar aos 85%. Se não tem havido material suficiente, foi porque o Governo não tomou as devidas medidas a seu tempo, teve mais de dois meses há espera do que toda a gente já sabia que iria inevitavelmente chegar, uma outra consequência perniciosa do processo de globalização neo-liberal.
O Governo e a Ministra ignorante nunca quiseram ver que o número de infectados assintomáticos pode chegar ao triplo dos doentes sintomáticos e que aqueles também são agentes transmissores activos. Mais uma vez se pode inferir que, para além do desprezo que esta gente nutre pela saúde dos portugueses em geral, a sua preocupação é não gastar dinheiro; deverão estar a guardar para os bancos e já pensando na austeridade em dose reforçada que virá mal se debele a pandemia. Porque o dinheiro que vier de Bruxelas, via Banco Central Europeu (BCE), ou dos bancos portugueses, será dinheiro emprestado, e não a fundo perdido, o que fará disparar de novo a dívida pública, agora para números estratosféricos.
Os próprios números de cidadãos infectados, falecidos, sob observação ou até recuperados, à semelhança do número de enfermeiros infectados, são números que a DGS vai deixando sair, de forma controlada e capciosa, para mostrar que a pandemia está a ser combatida correctamente pelo Governo, e se este não faz mais é porque não pode. É uma manipulação rasteira e despudorada, que vem desde o início da crise, ainda estamos bem lembrados dos números apresentados referentes aos concelhos de Porto, Braga ou Guimarães, e que eram constantemente contrariados pelos números bem superiores apresentados pelos presidentes das Câmaras. Em relação ao Porto, foi patética a ideia da Directora Geral da Saúde, que já deveria ter colocado o lugar à disposição, em relação à hipóteses de cerca sanitária na cidade do Porto devido ao elevado número de infectados. Mas mais confrangedor foi ver a alteração dos números apresentados, com a argumentação da maneira como a contagem é feita, devido à reacção violenta do Presidente da Câmara que lhe enviou uma roda de incompetência e simultaneamente um desafio de arrogância ao Governo, de “quem manda aqui sou eu!”, tendo aquele feito fez marcha atrás, mostrando bem a cobardia de quem nos (des)governa... e a falsidade dos números.
O Governo e a Ministra têm medo que os hospitais públicos colapsem dentro em breve, daí o impedirem custe o custar o internamento dos doentes infectados com o Covid-19, o que será inevitável não exactamente apenas pelo aumento dos internamentos, actualmente 1084 pessoas internadas (191 em 26 de Março, 273 em 27, 726 em 01 de Abril), das quais 267 nos cuidados intensivos, mas pela falta de camas e de enfermeiros e médicos treinados em cuidados intensivos; e não é em poucos dias que se treina pessoal nesta área de cuidados, de pouco valendo que haja a curto prazo um aumento mesmo significativo do número de ventiladores. O primeiro-ministro e sua muchacha não deverão sentir a consciência pesada pelo encerramento de milhares de camas e dezenas de serviços no SNS, pelos menos nos últimos 15 anos, desde o governo PS/Sócrates, já não nos referimos sequer desde a década de 80 do século passado quando se deu o pontapé de saída para a liquidação do Serviço Nacional de Saúde, porque consciência é coisa que nunca tiveram.
O Governo só se tem mexido por força da pressão da opinião pública e das organizações dos trabalhadores da Saúde, das Ordens Profissionais e dos Sindicatos. E destes nem todos têm ousado fazer ouvir a sua vez, com destaque para o SEP e para o STFPS (Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais) que há muito deveriam ser peremptórios e firmes na exigência de mais EPIs e de testes, e mais testes, a todos os trabalhadores do SNS (no CHUC a maioria dos assistentes operacionais ainda não dispõe de equipamento de protecção individual completo, por exemplo, e são obrigados andar com a mesma máscara durante todo o turno). A preocupação do Governo e do presidente da República, que até vai às compras, quem diria!?, e anda na rua com máscara e luvas, foi, e é, ter declarado o estado de emergência a fim de facilitar que muitos patrões, principalmente às grandes empresas, possam agora, com o pretexto da pandemia, despedir à vontade ou reduzir os custos do trabalho endossando-os ao Estado, ou de preferência receberem mais uns milhões (a CIP calcula entre 30 mil a 35 mil milhões de euros) a fundo perdido. Para a saúde... o povo e os trabalhadores do SNS que se desenrasquem!

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