sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Um país doente

 Pior Saúde e negócio mais lucrativo

O Presidente da União das Misericórdias em entrevista ao jornal Sol em 25 de Setembro de 2022

A saúde em Portugal é cada vez mais um negócio e simultaneamente vai-se degradando o estado de saúde e bem-estar dos cidadãos, nomeadamente dos mais carenciados em termos económicos e sociais.

O suicídio diz bem da situação de saúde de uma população

Nos últimos dias, o aumento de casos de suicídio, particularmente entre jovens, o agravamento de violência sobre os idosos e, o que é mais repulsivo, o abandono destes em lares tido como “legais”, e o aumento do número de óbitos por excesso, são dados muito pouco animadores e que bem reflectem a deterioração da saúde dos portugueses. E, em particular, nas duas camadas mais vulneráveis da população, jovens e idosos, curiosamente onde mais se faz sentir a pobreza económica.

No ano passado, 2021, foram registados 952 suicídios, o número mais alto desde há quatro anos; e, no período de um ano, verificou-se um aumento de 8,18%. É fácil apontar a crise social derivada da pandemia como causa principal; mas as razões são mais vastas, desde a falta de apoio familiar e outro até à dificuldade no acesso aos cuidados de saúde específicos. E a crise social é mais do que isso, é económica e é de valores de uma sociedade decadente e que não oferece perspectivas de futuro. Pouco valendo, ficam as boas intenções, as iniciativas das escolas, como acontece com a Escola de Enfermagem de Coimbra, de prevenção do suicídio em meio escolar.

O país onde os idosos (pobres) são devorados pelas formigas

Se a juventude e os trabalhadores dos estratos sociais mais baixos, os que mais sentem a crise, são abandonados à sua sorte, então, os mais idosos são lançados para a lixeira por imprestáveis e não produtivos. Como mais frágeis, são incapazes de se defender ou reivindicar: 1594 idosos vítimas de violência foram apoiados pela APAV em 2021.

Não há uma rede de cuidados continuados digna desse nome, as unidades que existem são privadas e vivem à custa das rendas do estado, verificando-se um défice actual de 4500 camas no país. Pretende-se, de forma miserável, justificar o problema pela incapacidade financeira por parte da maioria dos idosos para pagar os lares e com a falta de recursos humanos, numa lógica de negócio e não de direitos de quem trabalhou uma vida inteira e fez os seus descontos.

É inqualificável o que aconteceu com aquela idosa que morreu, literalmente, devorada pelas formigas num lar gerido por uma Santa Casa da Misericórdia pertencente à Igreja Católica. Ora imaginem se a Casa da Misericórdia não fosse “Santa”. O lar é legal (haverá uns 2.500 antes da pandemia), como será nos ilegais que até são a maioria (3500)!

Costuma-se dizer que um acto, ou um facto, vale mais do que mil palavras. Este, em particular, diz bem do conceito predominante quanto à consideração pelos nossos idosos. Será para nos interrogarmos: quantos lares ou unidades de cuidados continuados o governo do PS, no poder há sete anos, já criou até agora? Alguém saberá responder?!

A pandemia parece ter servido para tudo e mais alguma coisa, umas delas não foi com certeza a melhoria do SNS, bem pelo contrário, serviu de pretexto e de tiro de partida para a sua liquidação final, e os números estão bem à vista: não só se registou uma maior mortalidade nos meses de Inverno como os últimos três Verões (2020, 2021 e 2022) foram muito mais mortíferos, sendo este Verão o mais funesto desde, pelo menos, 1980, aproximando-se dos 30 mil óbitos, valor superior ao de muitos Invernos.

A deterioração do poder de compra da maioria dos portugueses, por força da inflação, e a degradação das condições de vida fazem com que mais de 108 mil pessoas recebam alimentos através do Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas. Causas que poderão ser as mesmas para que haja cada vez mais crianças registadas sem nome de pai. Para também se dizer que estamos perante uma sociedade em crise sistémica.

A política industrial para a saúde

Confirma-se que os ataques ferozes iniciados em meados do mês de Junho contra o sector dos serviços de obstetrícia e ginecologia do SNS foi uma campanha organizada e deliberada por parte do sector privado da saúde e de grupos económicos que decidiram começar a investir nestes sector, contando com a participação activa das ordens dos médicos e dos enfermeiros, estrénuos defensores da iniciativa privada. E as confirmações vêm de vários lados.

Uma das confirmações veio da Sonae MC com o lançamento do seguro para um milhão de portugueses no princípio do mês. E, agora, uma outra, ficou-se a saber que cada vez mais mulheres estrangeiras vêm a Portugal para ter os filhos, naquilo que já é considerado o "turismo de nascimento". Não serão necessárias mais palavras para perceber que se está perante um filão de muitos milhões de euros que, claro está, deverão ser canalizados para o sector privado.

Foi dado a conhecer que, nos primeiros seis meses do ano, os custos do SNS com exames e análises no privado já ultrapassam os valores mais altos da pandemia, no montante de 393 milhões de euros só com os convencionados, o que representa uma subida de 14,2% quando comparado com o período homólogo de 2021, que por si já fora um ano excepcional. É sempre a facturar!

Mal se soube da notícia da idosa devorada pelas formigas, as Misericórdias pediram logo intervenção urgente do governo para evitar o que elas consideram o “colapso”, como se a questão fosse um problema de falta de dinheiro e da responsabilidade do Estado: António Sérgio Martins, presidente do Secretariado Regional das Misericórdias de Coimbra, não esteve com modas, exigiu a subida da comparticipação estatal de 35 para 50%, porque até “Somos Todos Misericórdia”. Quando o ramo é mole, é o que se vê!

Se há peritos nacionais e internacionais que consideram que muitas práticas de saúde são desnecessárias e até prejudiciais para os doentes; por outro lado, soube-se que a empresa Instituto de Telemedicina foi multada pela Autoridade da Concorrência em mais de 200 mil euros por cartelização (cambalacho) que terá ocorrido, pelo menos, entre Novembro de 2015 e Dezembro de 2017. As máfias no assalto ao SNS.

O ministro da Economia garantiu: política industrial para a saúde é aposta do Governo. Então, não será motivo de espanto de “Dados clínicos de 12 mil portugueses com reações adversas à vacina da Covid expostos nos EUA”, já que a Chief Transformation Officer & Head Virtual Patient na Lusíadas Saúde, uma tal Sofia Couto da Rocha, foi clara e sucinta: “Os dados de saúde são cerca de 30% dos dados produzidos diariamente”. Outro grande negócio para o qual os portugueses não foram consultados sequer. É o fartar vilanagem do melhor negócio (indústria) do século.

Aqui há dias noticiou-se que “Covid-19: Apenas 8% da população elegível foi vacinada com a 4.ª dose”. Estaremos a abrir a pestana?!

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