quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Nos 43 anos do SNS os coveiros não descansam

 

Imagem em "Notícias de Coimbra"

Foi cerimonial a rega da oliveira, plantada no parque municipal de Coimbra há 3 anos, para comemorar a existência do Serviço Nacional de Saúde; cujo diploma (devemos relembrar!) foi aprovado com os votos contra do CDS e do PPD, onde se incluía o então deputado Presidente Marcelo. Parece que esta rega se realiza em 16 concelhos do país. Será humor negro ou, no mínimo, patético, sabendo-se o que está a acontecer e quem são os responsáveis.

No dia que o SNS faz o seu 43º aniversário, as notícias sobre o seu futuro não são nada animadoras. Ficamos a saber que houve menos 15 mil partos nas maternidades públicas só na última década; e que a Comissão de Acompanhamento de Resposta em Urgência de Ginecologia, Obstetrícia e Bloco de Parto, pela boca do coordenador Diogo Ayres de Campos, alvitrou a possibilidade de junção de alguns daqueles serviços.

A diminuição do número de partos, num período tão alargado e depois de muitas das maternidades terem sido fechados nos governos de Sócrates e de Passos Coelho, como justificativa para o encerramento de mais serviços, ao mesmo tempo que se abre ainda mais mercado para os privados, não pode ser considerada senão como uma manobra patética de privatização/liquidação do SNS.

Perante tão tosca razão, devermos, todos, fazer algumas perguntas:

Esta comissão, mais uma entre outras semelhantes, não terá sido criada para dar uma base de argumentação para a política do governo que assim pode continuar a liquidar o SNS, agora de natureza puramente “técnica”, e aligeirar de si a responsabilidade da política destrutiva dos serviços públicos de saúde em Portugal?

Os responsáveis desta comissão, a começar pelo coordenador médico, também eles acumulam funções simultaneamente no público e no privado, sabendo toda a gente que foram os médicos, alguns deles, que sabotaram o trabalho no público para traficarem os doentes entre os dois sectores?

Não terão os médicos e alguns enfermeiros que, sob a batuta das ordens e a colaboração dos sindicatos e administradores hospitalares, não terão boicotado os serviços de urgência ginecologia e obstetrícia e os blocos de parto em alguns hospitais públicos, especialmente, em locais onde já proliferam os serviços privados naquelas áreas?

Esperam-se respostas!

O certo é que enquanto alguns dos coveiros do SNS vão regando, física e mediaticamente, a oliveira (e o fundador do SNS dando mais voltas na tumba) ficou-se também a conhecer, ou a confirmar-se, que a “Falta de médicos e especialidades no interior obriga utentes a procurar serviços no litoral e no privado”. O negócio há muito que começou e há que alimentá-lo.

Para além das ditas “alterações climáticas”, que terão trazido alguns dias de mau tempo, as nuvens vão também ensombrando a Saúde em Portugal. São o Estatuto do SNS, a nomeação do seu CEO e as palavras agoirentas de Marcelo, que considera que o «diploma do SNS está "no bom caminho"». A duplicação da estrutura de direcção do SNS vai de certeza isentar de responsabilidades o recém-empossado ministro da Saúde (e do Governo), quadro sénior do aparelho socialista, porque a gestão será igualmente “técnica”. E assim, de forma asséptica, se vai dando cabo do SNS.

Os coveiros do SNS

Se o SNS tem coveiros facilmente identificáveis, no entanto, tem outros que mais disfarçadamente o vão enterrando apesar de encherem a boca de tiradas e lamentos aparentemente a seu favor. Pura hipocrisia. Se as ordens de médicos e de enfermeiros há muito que são claras quanto ao que vêm, há outros que lá vão disfarçando, como a Federação dos Médicos que “teme que o SNS acabe independentemente do nome do ministro”. Deveremos colocar a questão: o que têm feito estes médicos quanto ao combate das listas de espera de consultas e de cirurgias?

Aparentemente ninguém deverá saber, nem os próprios, apesar da maioria correr de hospital público para a clínica ou consultório privado em trapezista manobra de ubiquidade.

Não se espere melhor saúde em Portugal, espere-se apenas melhores negócios com as clínicas privadas a proliferarem nas proximidades dos hospitais públicos. Coimbra é um bom exemplo deste vento favorável para o negócio, com mais novas clínicas privadas e com a expansão repentina de clínicas mais antigas. É paradigmático o caso da Sanfil, situada inicialmente em plena baixa e à beira rio, rapidamente passou de um a quatro edifícios, para além de outros espalhados pela alta da cidade e bem próximos do CHUC. Já possui centros em mais nove cidades; de âmbito de empresa quase familiar passou a grande grupo económico de nível nacional. E graças ao negócio das listas de espera. Melhor do que este, nem o negócio da droga!

Para além da degradação constante e acelerada do SNS é a igual degradação das condições de vida de um grande número de cidadãos portugueses. Portugal tem maior agravamento da pobreza em 2021, passando a oitavo pior da União Europeia. São mais de 2 milhões de pobres, que irão aumentar em número, com a certeza de ficarem ainda em situação pior em curto período de tempo, já que nem salários nem pensões irão acompanhar o aumento galopante da inflação. Mais pobreza leva a menos saúde, pior saúde leva inevitavelmente a um empobrecimento sem fim.

Ao menos ficamos a saber quem são os responsáveis e algum dia se fará a devida correcção.

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