Depois da apresentação do pedido de demissão por parte da ministra Marta Temido, apareceram muitas boas almas a manifestar “surpresa” pelo acto de quem até parecia ter entregado o corpo e o espírito à nobre e ingrata missão de defesa do SNS. A primeira alma surpreendida foi o primeiro-ministro que, mais tarde, se terá contraditado ao afirmar que a morte de uma grávida em transferência de hospital foi a “última gota” na tolerância de alguém que, afinal, terá sido negligente ou menos competente no cargo.
A seguir à grosseria e ingratidão do “nosso” primeiro,
assim foi acusado, sobrevieram de imediato os elogios ao trabalho e espírito de
sacrifício da ministra demissionária, mas ainda não demitida, em prol da saúde
dos portugueses e, em particular, da salvaguarda do SNS. Contudo, as ordens e
os sindicatos dos profissionais do sector, para além dos partidos da oposição,
rejubilaram contando com a fragilização do governo e uma futura remodelação.
O governo como agente de negócios
Convém, talvez, relembrar que a ministra, à
semelhança dos restantes titulares das pastas, mais não é do que mero executivo
que vai cumprindo na execução e vigilância das directivas que lhe são ordenadas
pelo chefe; e que este, por sua vez, as recebe de Bruxelas e dos diversos lóbis
que por aqui vão sobrevivendo à custa dos dinheiros públicos e dos favores dos
políticos que estão no poder graças aos seus financiamentos.
Já ninguém acredita, neste tempo de democracia
liberal, que os partidos do regime suportam as milionárias campanhas eleitorais
somente com o dinheiro das quotas dos militantes e não com os apoios diversos, que
depois terão de ser recapitalizados pela governação. Geralmente estes
governantes a soldo são bem recompensados, quando abandonam a política, com
lugares de relevo nas administrações das empresas que foram beneficiados. Tanto
de um lado como do outro, trata-se apenas de investimento.
O paraíso dos seguros privados
Na mesma ordem de ideias, ninguém vai na onda de que os órgãos de informação, principalmente os mais importantes, estão de boa fé ou não há interesses disfarçados, ao desencadearem e desenvolverem campanhas contra o SNS; no entanto, fazem de conta que o estão a defender através da (falsa) preocupação de eventual prejuízo acarretado para os cidadãos utentes pelo deficiente, ou falta dele, funcionamento.
Assim se percebe os violentos ataques aos serviços de obstetrícia e ginecologia dos hospitais públicos levados a cabo por todos os media corporativos, campanha que foi iniciada e conduzida, como já aqui denunciámos, pelo inefável jornal “Público”, propriedade de uma família de ricos emergentes depois do 25 de abril. Porque só com a degradação profunda do SNS, inclusivamente com o fecho de algumas unidades (“Grupo de trabalho diz que é necessário fechar maternidades e serviços de obstetrícia”), os empresários do negócio da saúde, ou melhor da doença, poderão ter mercado para os seus lucros.
Ainda os resultados do grupo criado pelo
governo para estudar os problemas desta área dentro do SNS, já o grupo Sonae
sai a terreiro revelando ao que vem e sem papas na língua: “Há seis milhões de
portugueses sem seguro e muitos querem ter”, explica Miguel Águas,
administrador da Sonae MC. E acrescenta: “a quantidade de publicidade nas
televisões e rádios pode fazer supor que o mercado dos seguros de saúde está
saturado, mas a realidade é muito diferente” – o título é claro: “Sonae lança
seguros de saúde e quer um milhão de clientes”. Não serão necessárias mais
palavras para se entender ao que andam estes agentes, porque também sabem que a
política deste governo nunca deixou de estar de feição.
Só ficam surpreendidos os desatentos ou os
papalvos da política, na justa medida em que todos os indícios apontam para um
ponto comum: a privatização da saúde. Os portugueses são os que mais pagam a
saúde do seu próprio bolso, de nada ou pouco servindo o dinheiro que lhes é
sacado através dos seus impostos, dentro dos países da OCDE; agora ficou-se a
saber que “SNS gastou 718 milhões de euros em exames e tratamentos no privado;
valor recorde é consequências dos gastos com testes à covid-19”. Ou mais uma
prova que atesta para que serviu realmente a tão milagrosa e oportuna pandemia.
Abre a época da vacinação em massa
Os comerciantes da morte devem estar, a esta
hora, a salivar por mais, atendendo às recentes notícias quanto ao que se prevê
para o próximo Outono: “OMS espera aumento de hospitalizações e mortes com o
tempo frio – A Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu hoje que é expectável
um aumento de hospitalizações e mortes por COVID-19 depois do Verão, quando o
tempo ficar mais frio”. As expectativas do negócio são boas, embora a União Europeia
tenha anunciado tempo seco e quente até Novembro, alguma vez o frio chegará
para ajudar à venda das vacinas, pelo menos.
Mal o Governo anunciara a data do início da campanha
de vacinação, tal como os incêndios e a caça, há sempre uma “época” como
resultado da instituição do facto, logo a mesma imprensa (que não se cansa em
denegrir o SNS) avisa: “COVID-19: Portugal volta a registar mais de 3 mil casos
nas últimas 24 horas – Número de mortes é o mais alto desde 8 de Agosto”. O negócio
já está concluído e a campanha irá iniciar-se: “Primeiras 650 mil novas vacinas
já chegaram a Portugal - As primeiras doses da vacina adaptada à variante
Ómicron já estão em Portugal e vão começar a ser utilizadas no dia 7 de Setembro”.
Prevê-se a vacinação de 3 milhões de portugueses (para já!).
A vacinação começará pelos cidadãos mais
vulneráveis ou com mais de 80 anos e irá descendo gradualmente na escala
etária. Poder-se-ia, demagogicamente, que será para aliviar a despesa da
Segurança Social; no entanto, há uma realidade incontornável que o governo e a
DGS ainda não souberam explicar, que é o grande número de mortes por excesso
entre os mais idosos (mais de 85 anos) nos últimos meses, mais precisamente,
desde Março. Mas, mais grave ainda, há um outro grupo etário onde se observa
igualmente um repentino e nunca visto agravamento da mortalidade: os
adolescentes e jovens entre os 15 e os 24 anos. No global, um aumento médio de 42
óbitos a mais por dia (dados em "PáginaUm").
O inexplicável excesso de mortalidade
Este excesso de mortalidade poderá ter várias
causas. Poderá ser da vacina, que em vez reforçar o sistema imunitário o vai,
pelo contrário, enfraquecer ou desencadear doenças de auto-imunidade, como por
diversas vezes já foi denunciado; ou poderá ser pela degradação das condições
de vida e de pior atendimento pelos serviços de saúde, onde se inclui o SNS
depreciado intencionalmente pelo governo e pelos médicos a quem dá jeito levar
os doentes do público para o privado porque é aí que vão enriquecendo. Parece-nos
que talvez estas duas últimas razões sejam as mais importantes, embora todas
elas se interligam e potenciam.
A diminuição do poder de compra do povo
português, apesar de todas as medidas “anti-inflacionárias” tomadas pelo
governo, irá deteriorar as condições de vida e de trabalho, começando por uma
pior alimentação e pior estilo de vida, assim como degradar os níveis de saúde,
a começar pela saúde mental. Irá retirar quaisquer perspectivas de futuro à
nossa juventude, observa-se que que há cada vez mais jovens menores envolvidos
em crimes e internados em centros educativos, segundo refere a imprensa, num
crescimento considerado alarmante. Igualmente se constata que de toda a
população são os jovens que mais emigram: no primeiro semestre emigraram tantos
como no ano passado.
Iremos assistir daqui para a frente a uma
degradação acelerada dos níveis de saúde dos portugueses em geral na proporção da
mercantilização da saúde: menos saúde = mais lucros para o privado. A demissão
da ministra, sabendo-se como funciona o governo, já estava preparada e há
muito. Com esta ou outra qualquer ministra/ministro o destino do SNS também há
muito está traçado pela elite predadora e gananciosa, a não ser que utentes e trabalhadores
da saúde se oponham tenazmente a esta tenebrosa política.
Ver também: paginaum
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