quarta-feira, 13 de julho de 2022

Da fé nos milhões: a promoção do Paxlovid na TSF e as ilegalidades da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

Parece que os médicos são os melhores delegados de propaganda médica; também parece que não se diz de “propaganda”, mas sim de “informação”, a palavra terá uma carga negativa, eles lá saberão o por quê. No entanto, toda a gente ainda se lembra do escândalo provocado pelas denúncias de Alfredo Pequito sobre o esquema da Bayer para subornar os médicos, ao que saibamos nenhum foi preso, nem médico nem delegado de propaganda; a máfia foi mais forte e o governo, o do PS/Guterres, se não estamos em erro, ajoelhou, como é habitual com os governos do PS, e a corrupção tornou-se mais discreta, como que se institucionalizou; agora, os médicos fazem sempre qualquer serviço para os laboratórios farmacêuticos, é tudo legal.

O título acima é de artigo de Pedro Almeida Vieira, que ainda é um dos poucos jornalistas, para não dizer o único, que vai dando a cara e ousa enfrentar os donos da saúde neste país, e do qual se publica uma parte, o texto completo deve ser encontrado na ligação. É mais uma denúncia como a outra máfia, a dos médicos que dominam a Ordem, se conecta com a Big Pharma.  

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«Li hoje uma notícia da TSF – inicialmente intitulada: “É algo que nos preocupa.” Fármaco Paxlovid só foi prescrito a um doente com Covid-19 em Portugal – em que surgia o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) a promover um medicamento específico de uma farmacêutica (Pfizer), e perguntei-me por onde anda a vergonha.

E li ainda o lead, onde se dizia que a SPP “acredita que a mortalidade associada à doença podia ser muito menor se o país apostasse mais neste medicamento [Paxlovid]”, e questionei-me por onde anda a Ciência. Acredita? Isto agora já é uma questão de Fé. Ou antes de fé no dinheiro? E o Infarmed, perante esta descarada publicidade, onde anda? E a Ordem dos Médicos, perante esta prostituição, onde anda? E a Imprensa? Anda ouve esta gente, ainda lhe dá créditos?

Paxlovid: mais do que usar o antiviral, seria útil investigar os meandros da sua aquisição pelo Estado português.

O título da notícia da TSF foi depois alterado – para um menos comprometedor “Combate à Covid. Pneumologistas querem maior aposta em comprimido antiviral” –, mas a mensagem está feita: a SPP e muitos pneumologistas estão ao serviço das farmacêuticas, mesmo, ou sobretudo, com o “fim da festa”, em que há muito para esclarecer sobre os rios de dinheiros que andaram de mão em mão, e sobre os atropelos em Saúde Pública em em Democracia que se cometeram.

Nunca neguei a perigosidade da pandemia, tanto assim que esta doença foi a primeira, tirando talvez a tosse convulsa poucos meses após o meu nascimento, que colocou em risco (bem real) a minha própria vida. Mas sempre soube distinguir o caso pessoal (e as particularidades dos riscos distintos da doença em função das comorbilidades, da idade e do acaso) e a forma como governos, farmacêuticas e muitos médicos empolaram uma pandemia em prol do negócio e do poder.

Durante a pandemia, agudizou-se um problema ético entre muitos médicos que se transformaram, fomentando o medo, em porta-estandartes das farmacêuticas. Os milhões de euros – sim, são milhões de euros – que passaram das mãos das farmacêuticas para os bolsos de médicos que falaram mais a pensar nas suas finanças do que na saúde dos seus doentes, deveriam merecer investigação judicial.

Mais ainda porque o Portal da Transparência do Infarmed é uma anedota, uma vez que ninguém controla nem valida essa base de dados de registo dos apoios e patrocínios. Pouco ou nada se fiscaliza. Aprofundarei o tema muito em breve. E isto assumindo que não existem pagamentos por debaixo de uma TAC.

Primeiro título da notícia da TSF

Sobre os novos antivirais, e sobretudo sobre o Paxlovid, já aqui escrevi, e volto a escrever: Filipe Froes é o expoente da promiscuidade médica que apenas se justifica porque a nossa imprensa – que se vendeu também às maravilhas dos eventos pagos pelas farmacêuticas – deixou de ser pilar do Quarto Poder. Arruinou-se, auto-mutilou-se, já nem uma ruína é.

Na Primavera passada, Froes andou como “delegado de propaganda médica” a vender à imprensa o Paxlovid, da Pfizer, e um outro antiviral, para que, dessa forma, fossem comprados milhões de euros de um fármaco, pelo Estado português, que está longe de provar alguma utilidade. Froes ajudou a justificar a sua aquisição, integrando a equipa de peritos da Direcção-Geral da Saúde que elabora as normas terapêuticas. Aliás, a mesma equipa manteve o remdesivir – um outro antiviral sobre o qual o Infarmed continua a querer esconder dados sobre os efeitos adversos – como terapêutica anti-covid. E Froes continua ser membro da comissão consultiva da Gilead (que bem lhe paga), que vendeu o remdesivir.

Mas não tem sido ele o único...

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