sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Para o PS, as pandemias combatem-se não com planos sanitários, mas com medidas repressivas

 

Abel Manta

«Os profissionais de saúde do Hospital de Barcelos estão a ser obrigados a fardar-se no Pavilhão Municipal de Barcelos e percorrem, depois, cerca de 200 metros na via pública, fardados, à entrada e saída do turno.» (JN)

Houve um cabo de esquadra, em conferência de imprensa e como de político se tratasse, avisou: "a ação repressiva acontece quando as pessoas não querem nem se deixam sensibilizar... mas há cidadãos que não se deixam ensinar e sensibilizar". Ficamos, com certeza, bem elucidados, as pandemias combatem-se não com planos sanitários, mas com medidas repressivas, para enquanto policiais, mas não demorará muito que a tropa, à semelhança do que acaba de fazer o presidente francês Macron, será colocada na rua. É mais do que evidente que o real e verdadeiro alvo destas medidas não é o combate à covid-19 mas o combate aos trabalhadores e ao povo português - a luta de classes sem disfarces.

A política levada a cabo pelo governo não é exactamente para combater a pandemia da doença covid-19, e esta não é nenhuma teoria da conspiração porque se baseia em factos indesmentíveis e por isso ocultados pela imprensa paga com 15 milhões de euros, mas para permitir uma maior acumulação de capital, o que vai inevitavelmente conduzir à destruição das pequenas formas de economia, sempre com o fim último de maiores lucros para as grandes empresas capitalistas.

Não é por acaso que o governo português quis proibir os mercados e feiras ao ar livre ao mesmo tempo que deixava abertos as grandes superfícies de retalho, e foi por pressão popular e do populismo do PR em tempo de campanha eleitoral que fez marcha atrás, ou o governo francês ter proibido a abertura das pequenas livrarias enquanto deixava abertas as grandes loja do sector, como por exemplo a FNAC. Há que facilitar a acumulação dos lucros, sempre a favor do grande capital, e para mais em tempo de crise profunda e prolongada do capitalismo e de reorganização do mesmo.

Pelo lado da saúde dos portugueses, esta vem sempre em último lugar, porque se houvesse tão grande preocupação então não se teria deixado degradar e de forma deliberada o SNS. Neste Verão, houve tempo não só para contratar mais pessoal com vínculo efectivo como se tinha aumentado o número de camas, coisa fácil de se fazer visto que nos hospitais centrais há muitas camas vazias e serviços ao abandono, assim como hospitais fechados ou a funcionar a meio gás. Só em Coimbra haverá perto de 500 camas vagas, com pavilhões inteiros fechados no Bloco de Celas e Hospital de Sobral Cid, e enfermarias subaproveitas no Bloco Central, no Hospital dos Covões e Maternidade Bissaya Barreto, isto só no CHUC, ou o Hospital Militar semidesactivado e as antigas instalações do Hospital Pediátrico, ainda com material, tudo ao abandono e à espera da especulação imobiliária, tão da especialidade da câmara socialista e do autarca que mais tem promovido a corrupção e o caos urbanístico em Coimbra.

Se o governo se interessasse minimamente pela saúde do povo português não teria deixado morrer mais 7.525 pessoas por outras patologias que o SNS não tratou por estar centrado quase exclusivamente na covid-19 e não apenas as 2500 falecidas por esta doença, desde 15 de Março até finais de Outubro – uma das piores situações da UE, incluindo países que inicialmente registaram mais mortes no início da pandemia.

O governo, embora diga o contrário e é até uma outra medida para justificar o estado de emergência, não pretende requisitar os privados da saúde, mas contratar os seus serviços, para já em termos discretos e graduais, como está a acontecer no norte do país com a ARSN a fazer contratos, cujos contornos são pouco claros e conhecidos, justificando-se com o esgotamento da capacidade de hospitais que em tempo normal sempre estiveram no limite. Para se perguntar, mais uma vez, em que hospitais privados trabalham, acumulando com o público, os responsáveis que fizeram os contratos e que comissões que receberam por debaixo da mesa?

A dita pandemia, que até agora levou desta para melhor cerca de 2.500 cidadãos, na sua grande maioria com mais de 80 anos, nada parecido com a pneumónica de há cem anos que levou cerca de 120 mil pessoas numa população de perto de 6 milhões de habitantes, e que incidiu particularmente em crianças com menos de 2 anos e em jovens entre os 20 e 30 anos, não está a ser combatida com um plano sanitário, mas com medidas de tipo militar para confinamento de toda a população.

Em vez de se testar os grupos de risco, está-se a testar a população a eito para inflacionar o número de infectados, que na maioria poderão ser falsos positivos, apesar do número de sintomáticos (os verdadeiramente doentes) ser baixo e com bom diagnóstico, fazendo crer que todos são doentes, confundindo intencionalmente infectados assintomáticos (não doentes) como sendo doentes, coisa jamais vista em outras doenças infecto-contagiosas e nomeadamente viroses. Em vez de se proteger os grupos de risco, concretamente os mais idosos, criando o Estado uma rede nacional e pública de lares, acabando com o negócio dos privados e principalmente com os lares ilegais, estabelecendo regras de habitabilidade e de higiene condignas (condições essas que foram agravadas pelo governo de Passos/Portas devido à autorização do aumento da lotação dos lares, o que valeu uma medalha ao Passos pelas Misericórdias agradecidas pelo fomento do negócio, medida que não foi revertida pelo actual governo do PS), obrigando a programas saudáveis no que respeita à alimentação e actividades ocupacionais e, aqui está o busílis, com rácios adequados de pessoal auxiliar devidamente formado, de enfermeiros a tempo inteiro e de médicos. Para além, como já referido, de robustecer o SNS, com mais pessoal, mais equipamento, mais serviços e reactivação das mais de 3 mil camas que foram encerradas nos últimos 12 anos.

Ora, até agora nada disto foi feito, bem pelo contrário, entregou-se a gestão da crise pandémica a dois cabos de esquadra, um com farda, o outro (ainda) desfardado.

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