segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O Estado Actual do Nosso SNS

 

por Lourdes Cerol Bandeira

«O caos era de prever. A associação GRIPE+COVID nunca seria uma associação "inocente". Como se isso não bastasse temos surtos de pneumonia por legionella.

Os primeiros sinais e sintomas dessa pneumonia são exactamente os mesmos da COVID e das outras pneumonias. Como todas as pneumonias pode ser muito grave, vai necessitar de cuidados intensivos e sobrecarregar ainda mais as equipas de saúde.

Neste momento deveria ser considerada a união de todos os esforços disponíveis e deveriam terminar com a testagem em massa que espolia os recursos humanos e impede a organização dos meios destinados ao apoio das populações atingidas. Os Delegados de Saúde e os demais especialistas em Saúde Pública não conseguem fazer face ao enorme número diário de positivos a quem devem fazer os inquéritos epidemiológicos para avaliar os contactos que tiveram. Aliás o vírus está tão disseminado na nossa sociedade que estes inquéritos são inúteis. O caos instala-se porque os recursos humanos são insuficientes. Os médicos de família deixaram de ter tempo para assistir aos seus pacientes por estarem obrigados a telefonar para os inúmeros positivos que estão a domicílio.

Neste momento não é a testagem que é importante, não é o Nº de positivos que é mais importante, não é o Nº de óbitos com teste positivo que é mais importante.

Este é o momento para agir segundo os princípios da Medicina de Catástrofe: salvar o máximo Nº de vítimas (TODAS AS PATOLOGIAS) no mínimo espaço de tempo. Até à data temos um excesso de mortalidade (já excluídos os óbitos COVID) de cerca de 7.700 em relação à média dos 11 anos precedentes. Não podemos dispersar meios com testagens inúteis onde se encontram "positivos + falsos positivos" a que chamam de imediato "infectados" dos quais 97% ficam em casa, à espera dos 10 dias para serem libertados e nem precisam de teste (6379 "libertados ontem"!). "Diagnósticos" feitos por um exame complementar ao qual se atribuiu erradamente uma especificidade de 100%.Não há exames infalíveis!!!   Os "doentes" COVID só são vistos por um médico se a situação o justificar, caso contrário ficam em casa tranquilos à espera que os 10 dias passem e recuperem a liberdade.

De que serve termos 83.942 doentes activos se só 3.151 estão hospitalizados? Para parecerem muitos?? A grande maioria ou não têm sintomas ou têm sintomas ligeiros, ficam em casa 10 dias e têm alta, caso contrário seriam hospitalizados.

Neste momento interessa unir todos os esforços para socorrer os que têm verdadeiramente sintomas e sobretudo não descurar as outras patologias. De 01/Jan até hoje já faleceram 11.208 pessoas por AVC, 10.833 por doença coronária, 7.286 por pneumonia e gripe, seguem outras doenças como podem ver aqui. A COVID está em 8º lugar, depois do cancro do cólon. Posso arriscar-me a supor que a maioria destes óbitos não COVID tem idade média muito inferior à dos óbitos COVID.

Parar os cuidados e a prevenção das doenças cardio-vasculares, parar o rastreio de cancro, terão um custo elevadíssimo e em 2021 irão perder-se muitas vidas que poderiam ter sido salvas. A mortalidade por cancro vai aumentar muito.

Não é possível impedir a 100% o contágio pelo SARS-COV-2, como não é possível impedir o contágio na gripe. São vírus que "vieram para ficar" e temos que saber lidar com eles.

As directivas para controlo da situação são más, levam à dispersão dos meios humanos disponíveis, médicos de família e enfermeiros ocupados a controlar por telefone os cerca de 80 mil positivos que se encontram a domicílio, a maioria assintomáticos ou com sintomas ligeiros, enquanto o País está a braços com gripe + COVID + Legionella + todas as outras pneumonias habituais provocadas por bactérias e vírus diversos.

A organização correcta dos socorros é primordial e o que vejo é o caos, são políticos a tentar gerir uma crise de saúde sem nada perceberem de saúde, testagens espoliadoras de recursos humanos e laboratoriais originando uma enormidade de positivos sem doença mas que monopolizam esses mesmos recursos... tudo isto porque partem do princípio de que os assintomáticos são transmissores (o que não está provado) como partem do princípio de que o teste PCR é infalível. Quando se parte de premissas erradas obtêem-se resultados errados.

A situação irá repetir-se. Vimos que a primavera e o verão não eliminaram a presença de novos casos, infelizmente não é uma doença sazonal como a gripe.

Infelizmente, muitos hospitais sofreram as consequências da centralização e são neste momento indispensáveis, porém perderam valências, retiraram-lhes material (por exemplo, o caso dramático e escandaloso do Hospital dos Covões que tinha um excelente serviço de Cardiologia e de Pneumologia, entre outros).

Neste momento, para não descurar os pacientes "NÃO COVID" e devido aos problemas logísticos que a infecção implica, seria bom reservar alguns hospitais estrategicamente situados, SÓ para assistência a doentes COVID evitando assim o risco de infecção em outras instituições de saúde. Eu sei que é complicado mas creio que terá mesmo que ser feito ou o caos continuará.

Temos hospitais pediátricos, psiquiátricos; seria excelente termos hospitais exclusivamente cirúrgicos e hospitais para doenças infecciosas. É uma questão de coordenação mas extremamente importante pois torna a afluência a esses hospitais selectiva, com urgências selectivas, diminuindo a confusão e os doentes em macas nos corredores.

Daqui

Sem comentários: