O Governo esteve à espera
das decisões e recomendações das diversas estâncias da União
Europeia para tomar medidas efectivas sobre a prevenção e, posteriormente, contenção da pandemia por coronavirus, parecendo que nada aprendeu com os outros países
onde o aparecimento se deu mais cedo e limitando-se agora a correr
atrás do prejuízo.
O Governo e, nomeadamente, a
ministra da Saúde negligenciaram os casos, que surgiram logo no
início, de doente com pneumonia, internados no Hospital de Santa
Maria, e que se pensava que seriam de pneumonia atípica, mas logo
que se efectuou o teste se constatou que se tratava de infecção por
coronavirus. Ora, o elevado número de mortes na Itália é explicado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) pelo facto de as
autoridades de saúde não terem sido capazes de detectar a
propagação logo no início. Ficou-se à espera que o coronavirus
não quisesse nada connosco, as consequências estão e poderão ser
trágicas.
O elevado número de
infectados e de mortes na Itália, país considerado pela OMS como o
centro de propagação do Covid-19 na Europa, e o mais afectado a
seguir à China, com já 23 mil pessoas diagnosticadas com o
coronavirus e com o número de mortes a passar os 2150, e se o perfil
da maior parte dos mortos neste país se assemelha aos da China,
maior incidência nos indivíduos do sexo masculino e em idosos,
contudo, a incidência é três vezes superior (7,7% contra 2,3%) na
Itália do que na China pela simples razão de que naquele país
europeu a população é muito mais idosa: enquanto na China 60% da
população tem menos de 39 anos, na Itália, como em Portugal, é
exactamente o contrário, 60% tem mais de 40 anos. Deve-se esperar
pelo pior, embora não deixando de ser optimistas.
Em Portugal o primeiro óbito
de doente por coronavirus foi um homem de 80 anos com várias
comorbilidades, ex-massagista e ex-enfermeiro, e neste momento estão
confirmados no país 451 casos positivos de Covid-19, com a região
Centro a registar 51 casos, dos quais 30 são no concelho de Ovar, o
que obrigou o Governo a decretar o estado de calamidade pública
neste concelho. Vinte por cento dos infectados serão médicos e
outro pessoal de saúde. O ter reagido tarde será razão pela qual
agora se corre a minimizar o prejuízo.
Devemos lembrar que o
Governo demorou 15 dias a encerrar as escolas depois da recomendação
feita por instituição da comunidade europeia, as escolas seriam
encerradas apenas casuisticamente, e depois do ministro da
Administração Interna dizer que encerrar fronteiras não tinha
sentido, ao mesmo tempo que turistas, não podendo desembarcar no
porto de Lisboa, vêm de autocarro do porto de Cádiz e entram no
país, lá se encerrou a fronteira terrestre e mesmo assim só após
conferência entre os dois primeiros-ministros.
A ministra da Saúde fala em
“situação de guerra” e em “tsunami do coronavirus”, no
entanto, Portugal é o país da Europa com menor número de camas de
cuidados intensivos per capita, três vezes inferior ao de Itália e
sete vezes inferior ao da Alemanha, e simultaneamente tanto a
ministra como o Governo são responsáveis pela descapitalização
do SNS em recursos humanos e materiais. Agora, com o rabo a arder,
prometem a contratação de mais mil enfermeiros e mais 1800 médicos,
em contratos temporários de 4 meses, aquisição de mais kits para
análises, mais ventiladores, contratações e aquisições sem
necessidade do visto do Tribunal de Contas, para fazer frente a uma
calamidade que poderia ter sido atacada mal ela se manifestou.
Ficou-se à espera.
E mesmo agora é notória a
preocupação dos nossos (des)governantes ser maior com assuntos
relacionados com a economia do que com a saúde e o bem-estar dos
portugueses. A demora em tomar medidas firmes e céleres parece que
se prendeu com o não prejudicar os negócios das empresas e, em
particular, do turismo, com os dirigentes do sector a vir queixar-se
com um possível prejuízo de mil milhões de euros que já não
serão irrecuperáveis. Enquanto que se continua a poupar no
material, nas luvas e nas máscaras, com publicidade de que usar
máscara poderá ser contraproducente em caso de não se estar
infectado, gostaríamos de ver algum desses defensores do não uso de
máscara a tratar de um doente infectado e em isolamento sem máscara,
e já agora sem luvas, sem óculos, sem bata de protecção e
avental, ao arrepio do estipulado pelas normas existentes em todos os
hospitais (por exemplo
aqui)
e no programa de controlo da infecção da própria DGS
(programa-nacional-de-controlo-da-infeccao).
É do conhecimento do pessoal de enfermagem as diretivas difundidas
pelos enfermeiros chefes dos hospitais, nomeadamente do CHUC, sobre
esta questão, chegando alguns deles a esconder as máscaras para que
não esgotem!
Esta é uma óptima altura
para os sindicatos da classe dos enfermeiros apresentarem ao governo
reivindicações que foram ou esquecidas ou enfiadas na gaveta depois
das últimas greves de 2019. Às organizações da classe, a começar
pelo SEP, auto-considerado o maior dos sindicatos dos enfermeiros mas
que parece ter entrado na clandestinidade desde que o PS foi para o
governo, e acabar nos restantes onde se inclui a Ordem e o Sindepor,
cujo presidente ainda deve estar em estado de vigília, não na greve
de fome porque já teria morrido e não há notícia de tal ter
acontecido, e do famigerado Movimento Nacional dos Enfermeiros, que
encerrou a página do facebook em Junho do ano passado e jamais deu
sinal de vida, fazemos o apelo para que digam ao governo que os
enfermeiros estão na primeira linha de combate a todas as pandemias,
mas devem ser recompensados em conformidade: mais salário numa
carreira mais dignificada e valorizada, contratação do número de
enfermeiros em falta no SNS, passagem dos contratos temporários a
definitivos, acabar com os CITs e aplicação do regime de
exclusividade.
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