Não
tenhamos dúvidas que, depois da passada esta pandemia, iremos
defrontar-nos com um SNS ainda mais degradado, com continuada falta
de material, mas principalmente como menos trabalhadores, mais do que
exaustos, completamente desmotivados, e que rapidamente será substituído por um “Sistema”
Nacional de Saúde, onde os privados terão um maior protagonismo; o
que tem sido, diga-se de passagem, uma reivindicação de quem andou
até agora a parasitar e a sabotar o SNS, e sempre com a colaboração
activa dos governos do PS e do PSD e das administrações
hospitalares por si nomeadas.
Coronavírus, um bom negócio para os privados da Saúde
Coronavírus, um bom negócio para os privados da Saúde
Esta
pandemia pelo coronavírus tem servido como óptima oportunidade de
obtenção de maiores lucros, nunca imaginados, por parte do sector
privado, seja através de dinheiro extorquido directamente ao
cidadão, seja ao Estado através de serviços que este já não
conseguirá fazer por ter colocado o SNS no osso. São os
laboratórios de meios complementares de análise, que têm ganho uma
média de 2,6 milhões de euros por dia, só por testes ao
coronavírus; são os hospitais de propriedade maioritariamente
privada, Hospital da Cruz Vermelha, arrendados pelo Estado; são as
Misericórdias e exigir mais dinheiro, uma fonte inesgotável de
financiamento da Igreja Católica com fundos públicos; é a continuação das PPP, com a do Hospital de Cascais à frente; são os
grupos privados a salivar para tratar dos doentes que o SNS vai ter
de abandonar para atender aos infectados pelo SARS-CoV-2. Vai ser um
fartar vilanagem!
O
exemplo do encerramento do hospital do SAMS, com o despedimento dos
funcionários durante um mês, mas que tudo indica que será
definitivamente, mostra que no sector privado da Saúde haverá uma
reconversão capitalista no sentido de uma maior rentabilidade,
ficando mais uma vez demonstrado que a Saúde, para os privados, é
um negócio como qualquer outro. O Hospital da Cruz Vermelha, agora
gerido pelo ex-director da DGS, reformado com uma aposentação de
mais de 4900 euros, já foi arrendado pelo Estado para tratamento
exclusivo de doentes por coronavírus. Hospital que é arrendado e
não requisitado, porque o estado de emergência é somente para os
trabalhadores, muitos dos quais irão ficar no desemprego logo que
seja passada a pandemia.
Este
hospital, de maioria accionista privada (55%), não possui condições
para receber este tipo de doentes, e tem tido muitos milhões de
euros de prejuízo, tendo sido essa a verdadeira razão do negócio,
para mais facilitado pela pessoa que agora o dirige. Se os hospitais
do SNS vêem diminuir a ocorrência às urgências em cerca de 30%,
esta não deixa de ser uma boa oportunidade dos privados se chegarem
à frente para fazer o que o SNS de momento não consegue, consultas,
cirurgias, etc., por estar a atender os doentes por SARS-CoV-2.
Torna-se
cada vez mais claro e evidente que a principal preocupação do
Governo e dos seus agentes locais, para além dar dinheiro às
empresas (e não será a todas, as maiores e os bancos ficarão
sempre a ganhar), é sobretudo poupar o mais que puderem quando se
trata dos trabalhadores do SNS. O mesmo se passa quando se trata dos
meios materiais para combater o coronavírus, e simultaneamente continuar
a manter o SNS a funcionar com excelência de qualidade e de
eficiência, porque, não nos esqueçamos, continua a haver outros
doentes.
Voluntariado
para ministros, deputados e familiares directos
O
Estado/Governo não quer gastar dinheiro com a saúde dos seus
funcionários e chega ao desplante de uma ministra da Saúde,
expressão concentrada da chico-espertice e da incompetência, vir à
televisão clamar aos portugueses para se voluntariar,
aproveitando-se da emoção (principalmente do medo) criada pela
situação, ou seja, para que trabalhem à borla, em vez de contratar
os médicos, enfermeiros e assistentes operacionais em falta.
Esperamos que, nesta questão, a ministra e os seus familiares mais
directos dêem o exemplo e, já agora, os seus colegas do Governo façam o mesmo. Os deputados poderão também dar uma mãozinha já que a Assembleia da República reúne só uma vez por semana e com 20% do quórum.
Todos
os detentores de cargos políticos, incluindo administradores hospitalares, devem contribuir com 50% do vencimento para um fundo de
combate ao SARS-CoV-2
Mas
não é só o problema de falta de pessoal, parece que o Governo se
debate com falta de meios financeiros, porque só assim se compreende
que a administração do Centro Hospitalar de Leiria (CHL),
reconhecendo a “falta de equipamentos e de produtos”, tenha vindo
a terreiro “convidar” cidadãos e empresas, embora dizendo que a
iniciativa terá sido de alguns deles, a contribuir com donativos
para “conta específica” bancária. Em relação a esta questão
até apoiamos a proposta apresentada por ministro italiano de todos
os deputados de suspenderem o seu salário, enquanto a pandemia
perdurar, para ajudar as finanças públicas, algum tempo antes,
houve deputados, senão estamos em erro, que já tinham proposto a
doação de 50% do salário.
Mas
ainda vamos mais longe: todos os políticos com cargos de governação
ou de administração pública, contribuam com metade do salário
para aquela conta, o que seria um bom exemplo para o país, à
semelhança do voluntariado. Não
deixa de ser pertinente recordar que o o país está ainda bem
lembrado do verdadeiro destino dos dinheiros sacados à generosidade
do povo e que em princípio seriam para ajudar as vítimas do
incêndio de Pedrogão Grande em 2017. Aos ministros se poderiam
juntar os administradores hospitalares que, durante o tempo da
troika, e ao contrário dos funcionários públicos em geral, não se
viram privados dos subsídios de férias e de natal. Os bancos que
foram resgatados com dinheiros públicos e que têm estado a ganhar muitos milhões com a dívida pública nacional devem contribuir com
10% dos lucros líquidos (em 2019, os bancos tiveram lucros de 2,4
milhões de euros por dia), o que não é muito atendendo a que a
percentagem dos lucros que não está sujeita a imposto é bem maior.
A
solidariedade deve começar por cima e por aqueles que têm mais
dinheiro!
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