quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Publicação do CCT de Setúbal: um marco nas relações laborais



Quando se leva a luta até ao fim, a vitória sempre aparece! Eis o exemplo:
«Depois de vinte anos, durante os quais sucessivos governos e autoridades fecharam os olhos a níveis obscenos de precariedade, com a perpetuação e banalização dos contratos à jorna, a luta corajosa e sem precedentes de centena e meia de trabalhadores precários, apoiados pelos efectivos, durante a Batalha de Setúbal, concretizou a primeira grande viragem de página na arquitectura laboral deste importante porto nacional.
Para além da passagem a contratos sem termo de cinquenta e seis estivadores – número avançado pelo SEAL no início das negociações face ao histórico de colocações – garantimos neste acordo que todos aqueles que ainda não alcançaram o estatuto de efectivos terão garantido o direito a trabalhar um turno diariamente antes de qualquer trabalhador realizar trabalho suplementar, para além da garantia de que todos os actuais estivadores do porto – precários incluídos – terão prioridade total de colocação antes de qualquer outro trabalhador.
Consta do Contrato Colectivo de Trabalho (CCT) um outro princípio importante que o SEAL vem perseguindo e assinando em diversos portos, como seja o da distribuição equitativa de todo o trabalho – tanto normal como suplementar – entre todos os estivadores do porto.
Quanto aos avanços em matéria salarial, conseguimos que todos os trabalhadores possam alcançar o topo da tabela, quando anteriormente os estivadores mais novos paravam a meio; acordámos que os novos 56 contratados sem termo fossem posicionados na grelha salarial num ponto que lhes permite auferir mensalmente um salário mínimo, alimentação incluída, que ultrapassa os 1.400 euros; reposicionámos os estivadores mais novos, que já eram efectivos, em níveis bastante superiores da nova grelha salarial; e, finalmente, tendo partido de uma actualização transversal de 5,5%, e para além dos aumentos resultantes do ganho de diuturnidades e de subidas na grelha salarial, garantimos no CCT hoje publicado, uma actualização anual resultante do índice da inflação majorado em 1,3%, durante 6 anos, desde 2020 até 2025, final da vigência e sobrevigência do mesmo.
Em termos remuneratórios, estas foram as principais conquistas. Embora não tendo resolvido todos os desafios ainda por superar, este modelo alcançado terá um valor evidente aos olhos dos trabalhadores deste país ao abrir novos caminhos para padrões negociais de futuras negociações que comecem a enterrar, de uma vez por todas, a realidade salarial de um país de miséria que nos têm vendido e imposto.
Hoje, com a publicação do CCT de Setúbal, aprovado em plenário no passado dia 23 de Maio e que entra em vigor no prazo de cinco dias, entramos numa nova fase. O mesmo prevê que no primeiro trimestre de 2020 nos voltemos a sentar à mesa com as Associações Patronais para que se possa analisar a possibilidade de mais contratações sem termo, face ao novo histórico.
Sabemos bem como, para a generalidade da população portuguesa, são inconcebíveis os contratos à jorna dos estivadores, mas ainda existem mais de oito dezenas de estivadores no porto de Setúbal que continuam precários e a trabalhar neste regime esclavagista que, ao final de cada turno, os despede.
A verdade é que a não ser o SEAL a combater este cancro social, por acordo com as empresas ou pelas lutas no terreno, não será certamente qualquer governo, actual ou futuro, que terminará com esta doença social, independentemente da mensagem eleitoral que apregoe.
Uma nota final para todos os que apoiaram a Batalha de Setúbal, desde as organizações sociais, políticas e mesmo religiosas, até aos milhares de cidadãos que nos fizeram chegar a força da sua solidariedade, formando um bloco de opinião que ajudou a consolidar na consciência das pessoas a importância de se generalizar a justiça laboral e o combate à precariedade e aos salários de miséria.»
por António Mariano

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