quarta-feira, 17 de julho de 2019

Ordem dos Médicos denuncia "realidade desumana" na psiquiatria do hospital de Coimbra



A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) denunciou esta segunda-feira o que diz ser a "realidade desumana" dos doentes de psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) ao nível da higiene e alimentação

Em nota enviada à agência Lusa, Carlos Cortes, presidente da SRCOM, acusa o CHUC de desvalorizar a saúde mental, argumentando que os doentes "passam vários dias na urgência" por não existirem condições de internamento e que "apenas comem bolachas, sopa e leite ou sumos".
"Há inclusivamente doentes com critérios para internamento compulsivo e que permanecem vários dias no serviço de urgência" e outros, internados noutras enfermarias, "sem os devidos cuidados especializados".
Os doentes "passam dias a fio com dificuldades em satisfazer as suas necessidades básicas de higiene e alimentação, já que não existem condições para os internar".
"Este é um grito de alerta para uma realidade desumana, pois resulta em graves consequências para os doentes. O CHUC tinha um centro de referência nacional na área da psiquiatria que está a ser gradualmente destruído. O conselho de administração deveria valorizar a excelência do trabalho realizado pelos profissionais na área da saúde mental e não estar a pôr em causa a própria dignidade dos doentes", afirma Carlos Cortes.
A denúncia tem por base um documento, dirigido, "face à gravidade da situação", à administração do CHUC, por cerca de 40 médicos do serviço de Psiquiatria, onde são enunciadas "as carências e as deficiências" existentes, nomeadamente relacionadas com a falta de vagas de internamento e com o perigo que aqueles doentes correm na urgência, onde ficam "mais vulneráveis" e desenvolvem complicações orgânicas com infeções hospitalares.
No texto, datado de 26 de junho e a que a Lusa teve acesso, os médicos subscritores avisam a administração que "enquanto não se encontrarem reunidas as condições de segurança e de qualidade para a prática de atos médicos" (...) "declinam toda e qualquer responsabilidade derivada das insuficiências" assinaladas, nomeadamente quanto a acidentes e incidentes que possam vir a ocorrer em resultado das "anomalias" nas condições do serviço, em resultado da falta de condições de internamento.
Os subscritores apontam a "necessidade premente de aumentar o número de vagas para internamento no CRI [Centro de Responsabilidade Integrada] de Psiquiatria destinadas a doentes agudos", repondo-as, "pelo menos para o número igual ao que existia" em setembro de 2018 (54 para homens e mulheres, face às 48 agora existentes) antes do encerramento "intempestivo" da unidade de Psiquiatria Mulheres, em Celas.
Em finais de 2018, essas vagas de internamento foram "provisoriamente deslocadas" para o piso térreo do edifício central dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), onde funciona o Internamento Masculino e para o 1.º andar de um pavilhão no hospital Sobral Cid, a dez quilómetros de distância.

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