domingo, 14 de julho de 2019

A greve nas urgências hospitalares continua a estender-se



por Rémy Herrera

Desde há quase quatro meses, a mobilização do pessoal dos serviços das urgências hospitalares públicas não cessa de ganhar importância. Este movimento, travado por enfermeiros/as e auxiliares de cuidados, no essencial, mas igualmente por médicos, começou em 18 de Março último no hospital Saint-Antoine (no Leste de Paris) quando os cuidadores deste estabelecimento decidiram protestar contra a degradação das suas condições de trabalho – e agressões que têm sido vítimas vários membros da sua equipe médica (nomeadamente em 13 de Janeiro). Algumas semanas mais tarde, no fim de Maio, cerca de sessenta serviços se puseram em greve prorrogável (reconductible) em todo o território francês; em meados de Junho, cerca de uma centena lhes haviam seguido os passos. E agora, no princípio de Julho, eram 154 serviços públicos de urgências (dos 524 com que conta o país) que haviam entrado na luta, agora com ligações de solidariedade com seus colegas grevistas ou em estreito contacto com o colectivo Inter-Urgências que foi constituído para estruturar e reforçar esta greve. No presente momento, 22 dos 39 hospitais do grupo Assistance publique - Hôpitaux de Paris (AP-HP), dentre os quais alguns dos maiores estabelecimentos da capital (como os de La Pitié-Salpêtrière, Lariboisière, Saint-Louis, Tenon, etc.), declararam-se oficialmente em greve ilimitada.

As reivindicações da coordenação nacional, formuladas em conjunto com a intersindical das urgências CGT (Fédération santé et action sociale), FO e SUD, assim como com a associação dos médicos de urgências de França, apoiadas pontualmente pela CFE-CGC (Confédération française de l'encadrement - Confédération générale des cadres), são as mais justificadas possíveis. Eis aqui as principais: uma revalorização das remunerações dos cuidadores (um prémio mensal de 300 euros líquidos como reconhecimento da especificidade e da penosidade do trabalho efectuado); o aumento dos efectivos (a criação de 10 mil postos ou equivalente a tempo inteiro de enfermeiros e ajudantes de cuidados, dos quais 700 nos 17 serviços de urgências para adultos da AP-HP); a inversão da tendência à supressão das camas de medicina (inclusive a montante, ou seja, não só nos cuidados pós-operatórios mas também em casas de convalescença) e o "fim da hospitalização sobre macas"; a cessação dos encerramentos de linhas do SAMU (Serviços de ajuda médica urgente), do SMUR (Estruturas móveis de urgência e de reanimação) e certamente dos próprios hospitais; e a abertura de negociações com a ministra da Saúde – que ainda não recebeu os representantes dos grevistas após mais de três meses de conflito social. Estas reivindicações foram expressas aquando de uma série de mobilizações nacionais, de greves e de manifestações, muito simplesmente diante dos locais do Ministério da Saúde, da sede parisiense da AP-HP e das agências regionais de saúde. A última jornada de acção foi em 2 de Julho. Nestas ocasiões, protestatários denunciaram o estado absolutamente lamentável dos seus serviços deitando-se sobre o asfalto da calçada, gizando assim no próprio solo, compondo pontos de sutura e ferimentos, gazes e ataduras sobre o rosto...

Este é o mais poderoso movimento de greve no sector da saúde desde há duas décadas. Mais de 9 franceses em cada 10 (92% e 96% entre os profissionais de saúde) dizem apoiá-lo e estar de acordo com suas queixas. Franceses que são profundamente apegados ao seu sistema público hospitalar. E tanto mais escandalizados ao saber que, por falta de meios humanos e materiais suficientes, houve uma pessoa morta após horas de espera num corredor das urgências sem ter podido ser examinada a tempo por um médico – como aconteceu em Dezembro de 2018 num dos grandes hospitais parisienses) – ou que uma mulher deva parir sozinha sobre uma maca (como aconteceu dia 7 de Julho em Lyon, terceira cidade do país). 


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