«A verdade é esta: as urgências pediátricas estão cheias. E, para nós, que ano após ano, vamos contactando o o ritmo sazonal das infeções, isto é mesmo uma novidade.
O que seria
expectável para um mês de Julho em anos prévios à pandemia a SARS-CoV2 seria uma
urgência a meio gás, algumas gastroentrites, escassas constipações de verão,
vulvovaginites da praia, otites dos mergulhos na piscina e muitos traumas minor
das brincadeiras no exterior envolvendo patins/skates/bicicletas.
Mas o que tivemos no último ano e meio mudou radicalmente
este panorama: os miúdos estiveram confinados, as escolas no pára-arranca dos
isolamentos e a verdade é esta, estamos todos a usar máscaras! E nunca se viu
uma gripe tão silenciosa como a deste inverno. Em vez da comum enchente de
bronquiolites e outras pieiras, tivemos um inverno invulgarmente calmo.
No entanto,
chegada a primavera, rapidamente ficámos a perceber que alguma coisa tinha
mudado: ou andamos mais descontraídos nas medidas de controlo de contágio, ou
realmente, o facto de termos privado as crianças nascida a partir de Setembro
de 2019 do contacto habitual com a doenças, faz com que tenhamos agora um
significativo grupo de doentes que apanha rigorosamente tudo!
A 10 de Junho deste ano, o CDC - Centers for the Disease
Control nos Estados Unidos da América, emitia um aviso para os pediatras sobre
um surto inusitado de vírus predominantemente comuns nos meses frios, a ser um
problema em plena primavera.
O caso
emblemático é o caso do Vírus VSR - Vírus Sincicial Respiratório, comum no
outono e inverno nos países de clima temperado, agora com inúmeros casos em
pleno Julho! O VSR é o principal agente da bronquiolite aguda no
primeiro ano de vida e afecta 100% das crianças antes do 2 ano de vida.
Se isto nos surpreende? Sim! Vírus de inverno em pleno
verão, miúdos internados com dificuldade respiratória a precisar de oxigénio ou
outro suporte ventilatório quando temos necessidade de ligar o ar condicionado
para refrescar o internamento?
A verdade é
que esta realidade já nos tinha sido comunicada por países do hemisfério sul,
como a África do Sul e a Austrália. Não só tiveram infeções fora da sua época
habitual, como os miúdos estavam realmente mais doentes. O confinamento para a
prevenção da transmissão do Vírus Sars-CoV2 , fez com que as crianças não
tivessem a exposição habitual às doenças virais mais comuns. Mantiveram
o seu sistema imunitário parcialmente resguardado, sem trabalho extra. No
entanto, a partir do momento que levantámos as medidas de isolamento, o que
temos é uma recuperação do tempo perdido com miúdos mais pequenos, sem a
"experiência" de infecções prévias, a adoecerem em simultâneo e
relativamente mais doentes.
Prevemos por isso, pela primeira vez, um verão bem difícil.»
Por Joana Martins, pediatra
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