quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Covid-19: O Holocausto... dos nossos velhos

 

As notícias transmitidas pelos grandes órgãos de comunicação social são aterradoras, desde o número de pessoas infectadas pelo coronavírus (numa linguagem não médica, dizem “por covid-19”, é a doença que infecta e não o agente infecciosos!), ao crescente aumento do número diário de infectados (todos tidos como doentes) e de novos internamentos em enfermarias e unidades de cuidados intensivos ao caos existente nos hospitais do SNS, nomeadamente serviços de urgência, que estarão no seu limite e em quase ruptura. Assinale-se que “caos”, “ruptura”, “morte” e “exaustão” (dos profissionais de saúde do SNS) serão das palavras mais ouvidas e escritas na imprensa neste mês de Janeiro.

As palavras são marteladas constantemente, de forma enfática e alarmista, não deixando de causar o pânico, o que contrasta com a calma e a obediência que é pedida aos cidadãos portugueses. É o massacre para a ansiedade e medo que, como se sabe, são os piores inimigos da racionalidade, de pensar a frio, da melhor forma de se responder a uma calamidade ou situação de excepção que de repente surge. A ideia parece ser essa: uma mentira repetida passa a verdade (Joseph Goebbels) e o medo faz aceitar toda a medida que se queira impôr, para prejuízo do visado, e o impeça de confrontar os números e realidade.

Ora, vejamos e comecemos pelo número de infectados (21 de Janeiro de 2021): “595.149 casos de infeção confirmados”, partindo do princípio que as pessoas que apresentaram teste PCR+ (820 mil testes feitos em Janeiro, enquanto que em Março se faziam 800 por dia!) estão na verdade infectadas, e assim potenciais contagiantes e mesmo doentes, e que a percentagem de falsos positivos é insignificante. Então, considerando o número de mortes, 9.686, e fazendo as contas, dará uma taxa de mortalidade de 1,627 %. Como se pode confirmar pelos números, e estes não enganam neste caso porque até são oficiais, constam dos boletins da DGS, esta virose mata pouca gente. Será uma "pandemia" apenas no nome.

Claro que morrem pessoas, o que será sempre um facto para lamentar, as pessoas, independentemente do estrato social, são um bem insubstituível; mas um facto também incontornável, todos morrem, aliás, todos nós morremos. Mas quem é que morre? É coisa que a DGS diz mas quase que esconde e os órgãos de comunicação não dizem, ou raramente dizem, e as pessoas, intimidadas pelo medo, não procuram para melhor se elucidarem: das 9.686 mortes (dados Boletim DGS, dia 21/01/2021), 6.525 (68,365%) tinham mais de 80 anos, se incluirmos as pessoas do grupo etário 70-79 anos (1975 – 20,390%), teremos 88,775% de mortes por covid-19. Constata-se que esta doença é perigosa para os idosos com mais de 70 anos.

Se completarmos a análise do número de mortes, chegaremos à conclusão que esta doença deixa de ser tão grave para as pessoas com menos de 70 anos, isto é, pessoas com 69 anos ou menos (11,245%). Ainda no grupo etário 60-69 anos, as mortes são 809 (8,352%), que somando às dos grupos etários anteriores dá um total de 9.309 mortes com mais de 6o anos (97,107%). Ou seja, pessoas como menos de 60 anos, teremos 377 mortes, o que representa uns 3,892 % de número total de mortes por covid-19. Como se pode ver, e se descermos nas faixas etárias, a virose mata muito pouca gente: grupo 40-49, 86 mortes; 30-39, 24 mortes; 20-29, 8 mortes; menos de vinte anos, 3. Entre os jovens com menos de trinta anos, são 11 mortes. Comparando estes números com a pandemia de há 100 anos, a pneumónica, que dizimou cerca de 200 mil pessoas, numa população de cerca de 6 milhões, e cuja razia se fez sentir principalmente nas faixas etárias abaixo dos 30 anos, pode-se afirmar, sem demagogias nem negacionismos, que estamos perante uma falsa pandemia. Antes, uma epidemia que mata os mais idosos. E se nos primeiros 20 dias do ano, o número de mortes aumentou, um excesso de mortalidade de 2.174 mortes por covid e 2.409 por doenças não covid, deve-se ao facto do grupo mais vulnerável dos mais idosos continuar à mercê da epidemia, mas sobretudo devido ao encerramento do SNS, incluindo as urgências prioritárias, a mando do governo. Foi pior a emenda que o soneto!

Os órgãos de informação, funcionando como caixa de ressonância do governo, e este, por sua vez, cumprindo as regras emanadas de Bruxelas, numa conspícua sintonia com os restantes países da União Europeia, não se cansam de apontar as batarias sobre o Serviço Nacional de Saúde. Este estará em ruptura, em saturação máxima, como se pretende comprovar pelas filas de ambulâncias estacionadas à porta de algumas urgências e pela ocupação no limite das camas em enfermarias para doentes covid e das UCI; e, para compor o ramo, os profissionais de saúde ((SNS) “estão em exaustão e em sofrimento ético”. Contudo, esta mesma imprensa quase não fala dos cerca de 6.000 lares existentes no país, dos quais mais de metade, 3.500, são ilegais; que estes, tal como os restantes, não possuem o mínimo de condições para tratar dos nosso idosos. Escondem que os idosos institucionalizados nos lares, e na maioria pessoas pobres, são os ocupantes das ambulâncias que vão esperando em fila devido à morosidade do processo de triagem e do número insuficiente de enfermeiros e outros profissionais de saúde – este sim o principal recurso que o governo desprezou. Se há médicos em “exaustão e em sofrimento ético” é porque, acumulando o público com o privado, não conseguem dar vazão a tanto serviço e, ainda por cima, com alguns deles (incluindo falsos epidemiologistas, não há nenhum inscrito na Ordem dos Médicos!) a agitar vaidades e promoções pessoais nas televisões a toda a hora e em todos os dias.

A nossa inefável imprensa, paga por 15 milhões de euros a pretexto de compra de publicidade institucional ao governo (6 milhões só do Ministério da Saúde), ocupada em lançar o medo e a ansiedade sobre as pessoas, não alerta para o facto de que no país há mais de 297.538 idosos (dados de 2017) com 85 e mais anos, o que corresponde a cerca de 3% da população e que esse número duplicou em apenas duas décadas, ou que o número de idosos, com mais de 65 anos, passará de 2,2 milhões (22,8% da população). Não interessa dizer que são estes nossos idosos que estão a sofrer mais com os confinamentos impostos pelo governo, sem poderem sair nem receber visitas, e que, em princípio, nem se compreenderia que sejam dos cidadãos mais infectados (o caso das monjas de Campo Maior infectadas nem merece comentários!), derrubando por si só a eficácia das medidas restritivas, de tipo militar. E que o governo agora quer apertar ainda mais ao convocar os polícias em pré-reforma para uma vigilância mais apertada de todo o cidadão confinado, uma forma tosca de iludir as suas responsabilidades por falta de medidas sanitárias adequadas. A culpa será sempre do povo, no caso, dos idosos que estão a mais. E porque é que o governo não dá os números dos idosos que morrem nos lares?

Uma das medidas que o governo poderia já ter feito, porque houve mais que tempo desde que foi constituído, é a criação de uma rede pública de lares, com todas as condições, quer em instalações quer em recursos materiais e humanos. E mais, acabar com os lares ilegais e fiscalizar todos os restantes que, por óbvia falta de medidas para impedir a contaminação dos idosos que se encontram à sua guarda, a preço de hotel de cinco estrelas em muitas das vezes, também são responsáveis pelas mortes. O governo nada fez e as administrações dos lares, especialmente dos que se encontram sob a tutela das Misericórdias da Igreja Católica, à espera que o governo se chegasse à frente, nada fizeram quanto a contratação de pessoal, melhoria dos salários, porque sem salários dignos e reconhecimento humano jamais haverá pessoal suficiente e motivado, nem quanto a equipamento de pretecção individual, em qualidade e em quantidade, e nem em melhoria das condições quanto a higiene, regras de assépsia e alimentação. Pela simples razão de que todos têm visto nos idosos apenas um negócio rentável, mas devido à crise económica, que se arrasta há mais de 10 anos, alguns negócios irão sofrer as consequências, e este parece ser um deles na justa medida em que os custos de manutenção estão a ser elevados.

Neste ponto, a imprensa corporativa tem alguma razão: há um holocausto, mas um holocausto deliberado dos nossos idosos. A razão é também óbvia: é gente velha, improdutiva e representa uma despesa onerosa que irá estragar o negócio que se avizinha da privatização da segurança social e da saúde – esta com a destruição completa do SNS – daí a azáfama das televisões e jornais em demonstrar que o SNS estoirou. Só que se esquecem de uma coisa: tal como o vírus, se matar o hospedeiro, não conseguirá replicar-se, se matarem o SNS o privado também não sobreviverá.

Nota: em visita recente (ontem) ao CHUC, Bloco Central, notamos que as enfermarias dedicadas à covid-9 não estavam cheias, uma delas tinha metade das camas vazias, a UCI do piso -3 tinha seis vagas, a do Piso 1 disseram-nos que tinha vagas, o colega não sabia quantas, e a UCI das Urgências não houve possibilidade de confirmar, mas as urgências estavam calmas, tinham poucos doentes, e à porta só havia uma ambulância a largar uma doente que tinha dificuldade em locomover-se. Não vimos nenhuma televisão por perto!

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