domingo, 27 de janeiro de 2019

Enfermeiros 2019 um ano cheio de dias de greve


“Enfermeiros marcam mais 45 dias de greve. Exigem subida do salário-base de 1200 para 1600 euros e categoria de especialista com 2700 euros”, foram as parangonas do incontornável CM ainda antes do Natal. A greve, convocada pelos sindicatos filiados na UGT, seria a partir da segunda semana de Janeiro. No entanto houve reunião com a ministra, apesar de não ter havido acordo, disse também o CM, a greve (a dita cirúrgica) acabou por ser suspensa.

Mas a outra de 4 dias, prevista para os dias 8 a 11 de Janeiro, convocada pelos sindicatos (Sindepor e a ASPE), foi mesmo desconvocada... para “ demonstrar abertura para a realização de negociações com o Ministério da Saúde e mostrar que não querem prejudicar a população”. A tal de “cirúrgica 2” manter-se-ia e iria ocorrer entre 14 de Janeiro e 28 de Fevereiro. Parece que irá começar só a partir de Fevereiro.

Entretanto o SEP (CGTP), ou seja, a concorrência (que considerou a greve cirúrgica de “populista”), convocou e levou a cabo a greve na semana que passou - “uma greve de todos os enfermeiros para todos os enfermeiros", cujos "objetivos centrais" se prendem com "duas grandes questões": a correta contabilização dos pontos para efeitos de descongelamento das progressões e o encerramento da negociação da carreira.

A greve de 22 a 25 de Janeiro foi realizada de forma rotativa, um dia por cada região de saúde do país, acabando, na realidade, por ser apenas de um só dia. E foi apenas nos turnos da Manhã e da Tarde. Uma greve suave, sem dor, nem para os enfermeiros nem para o patrão (estado/governo PS). Contudo, as negociações fizeram-se antes, durante e depois, atendendo ao teor dos comunicados sindicais.

Para o dia 30 de Janeiro está marcada uma reunião de “negociação suplementar” para que seja contabilizado todo o percurso dos enfermeiros que foram reposicionados nos 1.200 euros, para que "não sejam penalizados duas vezes", não deixou o SEP de vincar. Assim, como reclama "a justa e correta contagem de pontos para todos os enfermeiros independentemente do vínculo contratual".

Resumindo e concluindo de todo o "processo de luta", e sabendo da experiência de outro processo idêntico que ocorreu nos idos de 2009 e 2010, cujo resultado foi uma carreira fantasma e a imobilidade quer na carreira quer na remuneração, com os sindicatos muitos satisfeitos com a ministra ginecologista, com quem iam tomar o chá, e o governo PS/Sócrates, porque tinham obtido o título de “doutor” para os enfermeiros, já sabemos antecipadamente o que vai ser, ou já está, aprovado:

-Contabilização de 1,5 Pontos até 31 de dezembro de 2014, para todos os enfermeiros (CTFP e CIT);

- Publicação do Despacho com atualização do número global de postos de trabalho que viabilizará o pagamento do suplemento a mais cerca de 500 a 600 enfermeiros especialistas (mas sem retroactivos, apagando a responsabilidade das administrações pela falha da contagem do número real de enfermeiros especialistas);

- Reintrodução da categoria de "Enfermeiro Especialista", com apenas 25% (e não os 50% reivindicados pelos sindicatos) dos postos de trabalho alocados à categoria, deixando de fora grande parte dos enfermeiros que possuem o título da especialidade;

- Mantém a imposição das regras de transição de Carreira da Administração Pública, ou seja, transição de todos os enfermeiros para "nova" Carreira mantendo o salário que atualmente auferem – os especialista irão receber quanto muito mais 50 euros para além do suplemento actual;

- Não haverá subsídio de penosidade, nem diminuição da idade para a aposentação (o que seria, aliás, um contrassenso atendendo ao resto dos trabalhadores da Função Pública, os sindicatos mais não fazem que correr atrás do prejuízo).

Isto só acontecerá se os sindicatos persistirem nesta política de greves às pinguinhas ou às cirurgias, greves estas que serão sempre isoladas, desmobilizadoras e não unificadoras da classe e de fortalecimento do espírito de luta. Não é por acaso que a greve da semana passada andou pelos 55% a 60%, muito aquém de anteriores que ficaram pelos 85%, e a próxima greve “cirúrgica 2” irá aumentar a hostilidade de grande parte da opinião pública contra os enfermeiros e contribuir mais um pouco para a degradação do SNS. Por este caminho será a derrota, mais uma vez. 2010 irá repetir-se.

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