Pensávamos que o PS tinha ganhado as eleições
e por maioria absoluta, estando mais à vontade para levar a bom porto a sua
política, e que a ministra da Saúde era a mesma, pelo facto de ter tido um bom
desempenho no sentido da execução dos objectivos a que se tinha proposto desde
o primeiro minuto em que foi empossada no cargo pela primeira vez; afinal, a
ministra e o governo são outras pessoas, isto fazendo fé nas palavras da
bastonária da Ordem dos Enfermeiros.
A bastonária saudou a “mudança de postura” da
ministra, mas em relação à “comunicação”, deverá agora rir-se mais e oferecer
um cházinho às 5 horas da tarde. O bastonário, o dos médicos, que faz questão
de estar em todas, sem nunca apoiar os calcanhares no chão, mais o da ordem dos
psicólogos foram de opinião semelhante. Agora é que é, os trabalhadores da
Saúde irão ver resolvidos os seus problemas após seis anos de promessas, entremeadas
de enxovalhos e de requisições civis por parte dos mesmos que agora formaram
governo pela terceira vez. Fica-se sem saber se a falta de vergonha é maior no
governo do que nos bastonários, ou vice-versa e ao contrário.
Faz algum tempo que o Sindicato dos
Enfermeiros (SE), após reunião com vários profissionais do Centro Hospitalar
Universitário de São João (CHUSJ), se veio queixar da não resolução de alguns
problemas mais prementes, não por falta de tempo por parte do governo,
nomeadamente: a utilização ilegal da bolsa de horas, o não pagamento de
subsídio covid-19 e o excesso de trabalho, este muito devido à falta de novas
contratações. Foi apontado que há “enfermeiros que fazem mais de 200 horas por
mês ou/e a trabalhar 12 ou 14 horas por dia e com escasso descanso". Regredimos
cerca de 150 anos com horários da época pré-industrial, esquecendo-se os
sindicatos que o 1º de Maio, que será comemorado pelos trabalhadores de todo o
mundo daqui a alguns dias, nasceu da luta internacionalista proletária pela
jornada de trabalho das 8 horas – 8 horas de descanso, 8 horas para a cultura e
recreio.
Mas não serão só os enfermeiros, outros
trabalhadores da Saúde, no público e no privado, estão sujeitos à mesma carga
horária, bem como em todo o sector privado em geral, graças à acção dos governos
PS que se recusaram terminantemente a revogar as alterações impostas no Código
do Trabalho pelo governo PSD/PP de Coelho&Portas. Não se justificando pelo
passado recente que haja um tão grande optimismo por parte de ordens e
sindicatos sobre o que este governo irá fazer em relação aos trabalhadores e
quando Costa já afirmou, e por mais do que uma vez, que não vai mexer nos
salários para fazer face à inflação e à diminuição do poder de compra dos
trabalhadores. Dizendo, abertamente e mais delicadamente, que os trabalhadores
se amanhem como puderem. Ora, não há dúvidas que a austeridade que se prepara,
e a conselho de Bruxelas, será bem pior do que a de Passos/Portas/Troika com os
cortes salariais directos.
SNS mais degradado
Depois de 2 anos de pandemia covidíca, temos
um SNS mais degradado e mais carenciado em recursos materiais e humanos, como
os próprios sindicatos reconhecem, ao mesmo tempo que o negócio dos testes e
das vacinas continua a prosperar: a quarta dose da vacina é recomendada, por
enquanto apenas para maiores de 80 anos; um dos principais laboratórios que
mais tem enriquecido, Unilabs, já facturou 80 milhões em testes só em 2021; e já
foram realizados mais de 40 milhões de testes em Portugal. Quando se confirma
que os casos de covid diminuíram 16% no período de uma semana, no entanto, os
peritos matemáticos a soldo do governo, e sem perceberem nada de epidemiologia
nem de saúde pública, cumprindo com o recado, continuam a afirmar que é
necessário continuar com as máscaras nos espaços fechados. Não seria bom
conhecer a quanto monta as respectivas comissões!?
A espelhar a deterioração do SNS, e até de
toda a saúde em geral incluindo os privados, “seis em cada dez portugueses
acima dos 50 anos dizem que não tiveram os cuidados de saúde necessários”, valor
apurado na primeira fase da pandemia e que foi quase o dobro do verificado em
outros países da Europa; o principal motivo das necessidades de saúde não
satisfeitas foi o cancelamento dos serviços por parte do SNS. Realidade já
conhecida, mas novamente confirmada segundo o publicado recentemente na Acta
Médica Portuguesa. E os dados da ACSS revelam que, em 2021, embora tivesse
havido um aumento da atividade das unidades do SNS, quer em consultas quer em
cirurgias em relação a 2019, ficaram aquém do desejado na medida em que ficaram
meio milhão de consultas por realizar e muitos doentes desistiram das listas de
espera. Assim se percebe que muitos doentes tenham desistido das USF e prefiram
“esperar 6 horas na urgência a voltar ao centro de saúde". Contudo, a ministra,
agora mais risonha e simpática, ainda prometeu reforçar os centros de saúde
dada a procura pelas urgências hospitalares. Paleio.
E porque? A razão é óbvia e simples, doentes que
não foram tratados e diagnósticos que não foram feitos, cancro, doenças cardio-vasculares,
diabetes, etc… estão a surgir agora e com pior prognóstico; e, por sua vez, a covid-19
deixou os doentes mais desprotegidos e fragilizados relativamente a outras
doenças respiratórias graves, a doenças mentais, onde sobressai a depressão nas
diversas faixas etárias, desde crianças a idosos, e exaustão no trabalho. E quanto
a crianças, estas constituem uma das populações que mais tem enchido as
urgências nos últimos dias: “Crianças com Gripe A enchem urgências do
Pediátrico de Coimbra” (refere a imprensa local) e “Hospitais de Coimbra com
afluência “anormal” ao serviço de urgência”, com os casos de gripe a crescer em
todo o país. E as razões são fáceis de encontrar: serviços do SNS degradados e
com pior prestação na qualidade dos cuidados, e pessoas mais fragilizadas por alimentação
menos cuidada e de pior qualidade devido ao aumento do preço dos alimentos
(5,8% no mês de Março) e uso indiscriminado e contraproducente das máscaras por
parte de crianças e de idosos; o que impediu que no pico do Inverno não
tivessem tido contacto com os vírus de molde a treinar e reforçar o sistema
imunitário, razões que explicam o facto de, agora e em plena Primavera, tenham surgido
mais casos de gripe.
Os portugueses estão pior e a luta torna-se inevitável
A situação de saúde dos portugueses em geral,
bem como dos próprios trabalhadores de saúde devido aos prolongados horários de
trabalho e à exaustão devido à insuficiência de pessoal, irá piorar, e
substancialmente. Os casos de encerramento ou diminuição de actividade do SNS
irão aparecer cada vez mais: “Lousã critica suspensão de serviços em Unidade de
Saúde Familiar” por falta de médicos e de outro pessoal, incluindo
administrativo; ou por encerramento devido a “surtos” não exactamente de doença
covid mas de testes positivos, numa altura em que mais de 80% da população se
encontras vacinada com as três doses, segundo reza a DGS e o governo: “Ala de
cirurgia em Faro fechada a novos internamentos por surto”. Dando a ideia de que
a intenção oculta é a de continuar a degradar o SNS e limitar artificialmente a
sua capacidade a fim de empurrar os cidadãos para o sector privado e, inclusivamente,
justificar a privatização de alguns serviços, mais concretamente, as USF. A transferência
de competências do governo central para as autarquias, não acompanhada pelas
verbas adequadas, apenas confirma que a política é a de evolução na
continuidade: destruir o SNS para privilegiar o privado, assim se percebendo a
manutenção da mesma equipa ministerial no sector, incluindo os secretários de
estado. Teremos mais do mesmo neste governo, com a diferença de que haverá mais
sorrisos e salamaleques, fazendo-nos lembrar uma espécie de macacos, os
mandris, que quando parecem sorrir é quando estão irados e prontos a atacar.
Numa situação de grave crise económica, elevada inflação, o pior ainda estará para vir, estagnação da actividade económica, os negócios terão diminuído 30% no último mês e com os comerciantes do sector a reivindicar aumento dos lucros: “É ridículo um medicamento custar menos do que um maço de tabaco”, disse alguém ligado ao negócio dos medicamentos e da doença, esta não deixa de ser uma boa altura para que os sindicatos e os enfermeiros se preparem para lutas mais duras e prolongadas. É que o governo também se preparou para exercer maior repressão sobre os trabalhadores com a alteração da legislação com o objectivo de poder mais facilmente decretar o estado de emergência em caso não só de alteração da ordem pública, como de possível golpe de estado… e crises de saúde pública.
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