sexta-feira, 5 de março de 2021

Enfermagem: Vacinas e Carreira

 

Imagem em https://farolxxi.pt

Ultimamente, parece que alguns sindicatos da enfermagem acordaram e deram sinal de vida depois de uma amigável troca de correspondência com o Governo e a Assembleia da República.

Durante o convívio sindical-governo, muitos enfermeiros começaram a ser vacinados, alguns dos quais apresentando sinais adversos de alguma gravidade, sem os seus representantes se tivessem pronunciado sobre o programa de vacinação dos profissionais de saúde em geral e dos enfermeiros em particular.

Situação semelhante tem ocorrido em relação à testagem, havendo muitos profissionais de saúde que ainda não foram testados sequer – e já lá vai mais de um ano de pandemia! – e se houve alguém que foi testado ou foi a pedido do próprio ou a expensas pessoais.

No CHUC, por exemplo, muitos enfermeiros vacinados pela vacina da AstraZeneca têm manifestado sintomas de alguma gravidade, fortes dores de cabeça, febre, dores musculares generalizadas, astenia, desequilíbrio, fotofobia e até parestesias, sinais que deveriam ter feito soar as campainhas de alarme. Mas pelas reacções parece que está tudo bem!

Contudo, SEP, pairando em mundo virtual, fez há pouco uma manifestação alertando para a existência de 150 enfermeiros contratados no CHUC (entre os 1800 em todo o país!) e com risco de serem um dias destes despedidos logo que acabe o contrato dos 4 meses. Realidade, aliás já bem conhecida de todos e em particular do conselho de administração daquela instituição.

Antes da manifestação referida, houve casos de enfermeiros que foram vacinados, por exemplo na Maternidade de Daniel de Matos, e manifestaram sinais de covid-19 e, o que não deixa de ser curioso, após terem sido já infectados antes da toma da vacina. E esta, hem!?

No entanto, o SEP enviou à Assembleia da República, que se encontra em confinamento parcial, petição para que o Diploma/Carreira de Enfermagem única seja aplicável a todos os enfermeiros (CTFP e aos designados CIT).

São necessários, dizem algumas fontes, cerca de 30.000 enfermeiros no SNS, número que até poderá pecar por defeito se tivermos em conta que grande parte dos enfermeiros que trabalha no privado, nomeadamente lares e hospitais e clínicas privadas, o faz acumulando com o SNS, pela simples razão de que o salário que se aufere no Estado não estica até ao fim do mês (as contas são são pagas com palmas nem com homenagens) e se a situação se tem perpetuado é porque o Governo não quer pagar mais, e assim também facilita mão-de-obra barata ao sector privado da saúde.

Enfermeiros a acumular e enfermeiros desempregados, os salários, pela lei da procura e da oferta, têm de baixar irreversivelmente, razão pela qual a Ordem dos Médicos se tem batido sempre para que não se formem muitos médicos em Portugal. Em relação à enfermagem, a razão encontra-se no facto do Governo ter deixado pura e simplesmente de contratar enfermeiros em termos de CTFP e ter optado, com a passividade dos sindicatos, por CIT ou, pior ainda, por contratos de 4 meses, como não houvesse falta de enfermeiros. A razão de tudo isto, e que os sindicatos não denunciam, é que a estratégia deste governo PS, à semelhança dos anteriores, incluindo PSD e PSD/CDS, é a de destruir o SNS.

Haverá objectivos em termos imediatos: aumento geral dos salários dos trabalhadores do SNS, que deverá atingir pelo menos os 20% (e não irá compensar o perdido desde 2010!); instituição do regime de exclusividade (inicialmente deve ser facultativo e não obrigatório) com o aumento de 50% sobre o salário base, em vez de se vir com o reles “Subsídio extraordinário de risco no combate à pandemia da doença Covid-19” que foi desenhado para ser pago a poucos profissionais de saúde; e carreira única de enfermagem.

E se no CHUC (uma instituição cheia de maus exemplos para os trabalhadores) o subsídio não foi pago a todos os profissionais que estiveram e ainda estão em contacto directo com doentes infectados, e em unidades destinadas para o tratamento de doentes covid-19, foi graças à Direcção de Enfermagem, e aos sindicatos, em especial o SEP que tanto gosta de folclore e do PS no Governo, por, na prática, não se terem incomodado com o facto.

A dignificação da carreira/carreira única de enfermagem é questão importante mas poderá vir logo a seguir, cujas negociações são sempre mais demoradas, porque sem carreiras e salários atractivos é bom de ver que ninguém estará interessado em ir trabalhar para o SNS, em vez de emigrar – não chega o salário, a garantia de um futuro é tanto ou mais importante. Com este governo, e ao contrário do que pensa o SEP, jamais haverá dignidade e futuro para a profissão de Enfermagem em Portugal!

Só que não vamos lá com cartas, nem com petições (embora possam ter lugar no tempo certo)... e nem com encenações folclóricas para as televisões verem!

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