quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Covid-19: as vacinas e as multinacionais

 

Vacinas contra a Covid-19: os governos, mais uma vez, aos pés das multinacionais farmacêuticas

por Ángeles Maestro e Eloy Navarro [*]

Desde há algum tempo que está se evidenciando a distorção que o capitalismo introduz no conhecimento científico e, em especial, na chamada “medicina com base na evidência”. Poderosos interesses económicos decidem o que se investiga, o que se fabrica e o que não se fabrica, privando a humanidade de avanços que o seu próprio desenvolvimento poderia oferecer. A determinação exercida pelo objectivo prioritário do lucro empresarial, que se paga com milhões de mortes prematuras e doenças evitáveis, afecta de forma decisiva a produção de medicamentos. Como tem sido repetidamente denunciado, até se inventam novas patologias – ou seja, sinalizam-se doenças inexistentes – para se poder prescrever certos medicamentos, especialmente nas doenças mentais.

É bem sabido que uma das consequências esperadas da pandemia é o colossal negócio para as multinacionais farmacêuticas derivado da compra de milhões de doses de vacinas.

Agora, gigantes empresariais que exibem, anualmente, margens de lucro muito superiores às da banca, nem mesmo terão de correr riscos com os seus investimentos: o dinheiro público dos Estados da UE, incluindo o espanhol, compra adiantadamente milhões de doses antecipadamente de vacina; e faz isso antes de terem sido demonstradas a sua validade, eficácia e segurança.

Em meados de Junho, o ministro da Saúde anunciava a adesão da Espanha ao Acordo de Compra Antecipada de Vacinas contra a COVID 19. Com este acordo, a UE decidiu investir grande parte dos 2.700 milhões de euros do Instrumento de Apoio a Emergências para “contribuir para a implantação da vacina”. Ou seja, acertou-se o financiamento antecipado da produção da vacina.

A corrida entre as grandes farmacêuticas foi vencida, até agora, pela britânica AstraZeneka, que recebeu 1.200 milhões de euros da UE por 300 milhões de doses.

É significativo que o acordo de financiamento e o desembolso do dinheiro tenham ocorrido quando a fase III ainda não havia sido concluída, enquanto choviam as críticas à apresentação da vacina russa, exactamente nas mesmas condições. Acaba de ser anunciado que o ensaio clínico desenvolvido pela AstraZeneca foi suspenso devido a graves efeitos secundários.

A AstraZeneka, como outras multinacionais, já conseguiu assegurar-se não só de indemnizações dos governos da UE aos quais fornecerá a vacina, caso as empresas sejam condenadas a pagar por possíveis efeitos secundários da mesma, mas também está tentando ficar totalmente isenta de responsabilidade civil.

Perante uma situação grave, em que é mais do que provável que, como já aconteceu em outras ocasiões, se aproveitem a angústia e o medo da população perante a enfermidade e a morte – inoculadas em grandes doses pelos meios de comunicação – para que o poderoso lobby do medicamento consiga fabulosos lucros, a Coordenadora Anti-privatização da Saúde, num comunicado recente. (...)

D'Aqui e Texto Original

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