Homenagem
de Vhils (Alexandre Farto) aos profissionais de Saúde, Hospital de
S. João no Porto
Não
é a final da Champions que paga as contas aos enfermeiros
Os
enfermeiros, bem como os todos os profissionais de saúde, que
estiveram e ainda estão no combate directo à covid-19 foram
considerados uns “heróis”, a quem bateram palmas, quase que
endeusados pelo Presidente da República e pelo Primeiro-ministro.
Mas quando reivindicaram o que tinham direito, como quaisquer outros
trabalhadores, em 2018 e 2019, foram diabolizados e tratados quase
como criminosos, que se encontravam ao serviço dos interesses
privados da saúde e queriam matar os doentes; eram os vilões que
levaram com a requisição civil em cima. Uma das figuras que mais se
distinguiu nesses ataques foi precisamente a actual ministra da
Saúde, pessoa de imensa lata e de pouca vergonha.
Depois
de 3 mil e 681 profissionais de saúde infectados, dos quais 1180
enfermeiros, 516 médicos, 1082 assistentes operacionais, 166
assistentes técnicos, 113 técnicos superiores de diagnóstico e
terapêutica e 620 profissionais de outros grupos, quase todos
pertencentes ao SNS, o Primeiro-ministro, o Presidente da República,
a ministra da Saúde, o ministro da Economia, o subsecretário da
Cultura e Desportos anunciaram com pompa e circunstância a
realização da fase final da Chamipons em Portugal, apresentando o
acontecimento como sinónimo de grande vitória e de prémio pelo
“milagre” que foi o combate ao coronavirus no país. Com o
Primeiro-ministro a declarar que a Final da Champions em Lisboa é
“um prémio aos profissionais de saúde”. Aonde chega o
descaramento e a demagogia!
Claro
que o número de profissionais de Saúde infectados pelo coronavirus
é neste momento muito maior e o surgimento de novos focos da
pandemia no país, Lisboa e Alentejo, deita por terra os números
apresentados, e sempre manipulados, pelo Governo e pela Direcção
Geral de Saúde. O discurso dirigido ao país, ou seja, para consumo
interno, não cola com a realidade, bem conhecida lá fora, como se
comprova pela proibição por parte de um grupo largo de países da
União Europeia da entrada de cidadãos provenientes de Portugal.
Perante a catástrofe, o Governo regressa à restrições impostas
aos cidadãos nas freguesias mais populosas e habitadas
essencialmente por trabalhadores na região da capital, agora com a aplicação
de um quadro punitivo, com multas que podem ir até aos 5000 euros e
prisão dos cidadãos que não respeitem as autoridades.
O
Governo enquanto proíbe os ajuntamentos de pessoas na rua prepara-se
para reabrir as discotecas e bares, cedendo à pressão dos
empresários do sector, e continua a permitir o transporte de
trabalhadores, amontoados como gado, nos transportes colectivos,
tanto públicos como privados, na área da Grande Lisboa, não
avançando para a requisição civil dos transportes privados, como
fez quando se tratou de boicotar a greve dos trabalhadores dos
transportes de matérias perigosas, usando dois pesos e duas medidas
distintas quando se trata de salvaguardar os interesses dos patrões
ou dos trabalhadores. Tornam-se claros os intentos intimidatórios do
Governo quando se sabe que a grande maioria dos casos de infecção
ocorre em espaços confinados, em empresas ou em lares da terceira ou até nos transportes públicos,
com mais de 40% das mortes a incidir em pessoas idosas institucionalizadas.
Enquanto
que na Alemanha, por exemplo, o governo já se comprometeu a pagar
aos trabalhadores da saúde um aumento de salário, e na França,
após manifestações que foram reprimidas pelo governo de Macron,
este prometeu um bónus de 1500 euros, em Portugal o Governo do PS e
do Sr. Costa, faz de conta que nada tem a ver com o assunto, e o
principal partido da oposição, o PSD, veio propor mais
um dia de férias por cada 80 horas de trabalho suplementar e um
prémio extraordinário de desempenho que pode ir até 50% de um
salário, esquecendo-se que foi o seu governo que desceu o salário
nominal dos enfermeiros, e outros profissionais do SNS, e atirou mais
de 10 mil enfermeiros para a emigração.
Em
vez de mobilizar e organizar a classe, os sindicatos, com especial
destaque para o SEP, andam de chapéu na mão a pedinchar, ou seja, a
tentar meter a “cunha”, aos partidos com assento parlamentar para
mover influência para a aprovação de algumas medidas e desbloqueio
de pequenos problemas relacionados com a contagem dos pontos para
progressão e com a transição para a nova carreira de enfermeiros
que foram prejudicados, nomeadamente os especialistas; problemas
estes que só existem porque a luta não foi levada até ao fim e nem
a carreira responde aos principais anseios da classe de enfermagem.
Esta é uma excelente altura para fazer avançar a luta, já que os
enfermeiros são os “heróis”, podendo ganhar alguns benefícios
como está a acontecer noutros países da UE, se os sindicatos
tiverem a coragem política de apresentar reivindicações sentidas e
oportunas, como por exemplo, mais um
salário
para quem está ou esteve na primeira linha e regime
de exclusividade
para todos os enfermeiros que assim o entendam.
Não
é com futebol nem com bilhetes para a Champions que os enfermeiros
pagam as contas ao fim do mês, como também dispensam bem a
arrogância do senhor Costa quando afirmou que os profissionais
do SNS não fizeram mais do que a sua obrigação, então, ele, como
Primeiro-ministro, cumpra também com as suas obrigações e pague
aos trabalhadores do SNS o que eles merecem.
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