segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Deram-nos cabo da saúde

por João Mendes

«Truques à parte, que isto da engenharia informativa político-partidária é já um fenómeno descontrolado, quero focar-me na parte verdadeiramente preocupante desta peça do Expresso. Na sequência da onda de terrorismo financeiro que culminou com o crash de 2008, a que se seguiu o advento da austeridade fundamentalista e contraproducente, o número de portugueses sem recursos para pagar consultas médicas triplicou. Os dados são da Comissão Europeia e confirmam o agravamento da desigualdade, num país onde a mesma não parou de crescer durante os anos do fundamentalismo além-Troika, sendo que os mais afectados, como não poderia deixar de ser, foram e continuam a ser os mais pobres.

Pagamos uma elevada factura pelo experimentalismo liberal a que fomos sujeitos. A herança da governação PSD/CDS-PP, por muito que o ministério da propaganda se esforce por mascarar a realidade, causou danos profundos na sociedade portuguesa. O fosso é vertiginoso, a desigualdade herdada assustadora e os sacrifícios, pelo menos na perspectiva das elites, claro, foram muito bem distribuídos. Depois é ouvi-los, tão genuinamente preocupados, a falar na asfixia e paralisação do SNS. Os tais que no passado votaram contra a criação desse mesmo SNS, que permitiram o caos nas urgências hospitalares no Inverno de 2014/2015 e que, meses depois, ainda deram uns trocos a ganhar ao sector privado. Na falta de património público para privatizar, até porque conseguiram vender quase tudo o que tinha algum valor, o Serviço Nacional de Saúde poderá ser a venda que se segue. É deixá-los regressar ao poder que eles tudo farão para não desiludir.

Imagem via Os truques da imprensa portuguesa

Original em Aventar

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