sexta-feira, 19 de agosto de 2022

No vilarejo ao norte de Boston, acusações de feitiçaria resultaram na execução de 19 mulheres e homens inocentes

 

Litografia intitulada "Bruxa número 1", datada de 29 de fevereiro de 1892

Quando a doença mental era considerada bruxaria ou estar possuído pelo diabo

Max Altman

No vilarejo de Salem, ao norte de Boston, na colônia de Massachusetts Bay, Nova Inglaterra, Sarah Goode, Sarah Osborne e Tituba, uma escrava indígena de Barbados, foram acusadas em 1º de março de 1692 de prática ilegal de feitiçaria. Naquele mesmo dia, Tituba, possivelmente debaixo de coerção, confessou o crime, encorajando as autoridades a iniciar uma caça às bruxas de Salem. A onda de intolerância e fanatismo religioso que se seguiu vitimou no início quase 20 pessoas.

Os problemas na pequena comunidade puritana começaram no mês anterior, quando Elizabeth Parris de nove anos e Abigail Williams de 11 anos, filha e sobrinha, respectivamente, do reverendo Samuel Parris, passaram a sofrer ataques e outras misteriosas doenças. Um doutor concluiu que as meninas estavam sofrendo os efeitos de bruxarias. Elas corroboraram o diagnóstico médico.

Com o encorajamento de muitos adultos da comunidade, as jovenzinhas, às quais se juntaram prontamente outros “aflitos” residentes de Salem, acusaram um amplo círculo de habitantes locais de prática de feitiçaria, a maioria mulheres de meia-idade, mas também diversos homens e até uma criança de quatro anos. Durante os meses que se seguiram, atormentados moradores daquela área incriminaram mais de 150 mulheres e homens do vilarejo de Salem e zonas circunvizinhas de práticas satânicas.

Em junho de 1692, a Corte Especial de Oyer, para as “audiências” e a Corte de Terminer, para as “decisões”, reuniram-se em Salem sob a presidência do juiz William Stoughton para julgar os acusados. O primeiro a ser julgado foi Bridget Bishop de Salem, considerada culpada e executada na forca em 10 de junho. Treze outras mulheres e quarto homens de todas as idades foram também conduzidos ao patíbulo e um homem, Giles Corey, foi executado por esmagamento. A maioria dos submetidos a julgamento foram condenados com base no comportamento das próprias testemunhas durante os procedimentos judiciais, caracterizado por ataques e alucinações que alegavam estar sendo causados pelos acusados naquele mesmo momento.

Fim dos julgamentos

Em outubro de 1692, o governador William Phipps de Massachusetts ordenou que as Cortes de Oyer e Terminer fossem dissolvidas e substituídas pela Corte Superior de Judicatura que proibiu esse tipo de testemunho sensacionalista nos julgamentos subsequentes.

As execuções cessaram e a Corte Superior finalmente libertou todos os acusados que aguardavam julgamento e indultou aqueles sentenciados à pena de morte. Terminava assim os processos das feiticeiras de Salem que resultaram na execução de 19 mulheres e homens inocentes.

Analogias

As perseguições às bruxas de Salem serviram, dois séculos e meio depois, como tema para que o dramaturgo Arthur Miller – sofrendo as intimidações feitas pelo Comitê de Atividades Antiamericanas do senador Joseph McCarthy –, escrevesse a peça de teatro The Crucible, traduzido por ‘prova severa’, conhecida como As Feiticeiras de Salem. Encenada no início dos anos 1950, eram evidentes as analogias que Miller fez entre as perseguições à esquerda americana na época da Guerra Fria, com os tormentos sofridos pelas “bruxas” de Salem.

A expressão “caça às bruxas” que quer dizer sair à procura dos culpados, mesmo que não exista nenhum. Na Idade Média, as pessoas acusadas levianamente de praticar bruxaria ou magia, depois da acusação eram perseguidas, caçadas e levadas à fogueira. Os episódios de Salem tornaram modernamente “caça às bruxas” como acusação e perseguição indiscriminada às pessoas sem provas reais e sem o devido processo.

operamundi

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