Litografia intitulada "Bruxa número 1", datada de 29 de fevereiro de 1892
Quando a doença mental era considerada bruxaria ou estar possuído pelo diabo
Max Altman
No vilarejo de Salem, ao norte de Boston, na
colônia de Massachusetts Bay, Nova Inglaterra, Sarah Goode, Sarah Osborne e
Tituba, uma escrava indígena de Barbados, foram acusadas em 1º de março de 1692
de prática ilegal de feitiçaria. Naquele mesmo dia, Tituba, possivelmente
debaixo de coerção, confessou o crime, encorajando as autoridades a iniciar uma
caça às bruxas de Salem. A onda de intolerância e fanatismo religioso que se
seguiu vitimou no início quase 20 pessoas.
Os problemas na pequena comunidade puritana
começaram no mês anterior, quando Elizabeth Parris de nove anos e Abigail
Williams de 11 anos, filha e sobrinha, respectivamente, do reverendo Samuel
Parris, passaram a sofrer ataques e outras misteriosas doenças. Um doutor
concluiu que as meninas estavam sofrendo os efeitos de bruxarias. Elas
corroboraram o diagnóstico médico.
Com o encorajamento de muitos adultos da comunidade, as jovenzinhas, às quais
se juntaram prontamente outros “aflitos” residentes de Salem, acusaram um amplo
círculo de habitantes locais de prática de feitiçaria, a maioria mulheres de
meia-idade, mas também diversos homens e até uma criança de quatro anos.
Durante os meses que se seguiram, atormentados moradores daquela área
incriminaram mais de 150 mulheres e homens do vilarejo de Salem e zonas
circunvizinhas de práticas satânicas.
Em junho de 1692, a Corte Especial de Oyer, para as “audiências” e a Corte de
Terminer, para as “decisões”, reuniram-se em Salem sob a presidência do juiz
William Stoughton para julgar os acusados. O primeiro a ser julgado foi Bridget
Bishop de Salem, considerada culpada e executada na forca em 10 de junho. Treze
outras mulheres e quarto homens de todas as idades foram também conduzidos ao
patíbulo e um homem, Giles Corey, foi executado por esmagamento. A maioria dos
submetidos a julgamento foram condenados com base no comportamento das próprias
testemunhas durante os procedimentos judiciais, caracterizado por ataques e
alucinações que alegavam estar sendo causados pelos acusados naquele mesmo
momento.
Fim dos julgamentos
Em outubro de 1692, o governador William Phipps de Massachusetts ordenou que as
Cortes de Oyer e Terminer fossem dissolvidas e substituídas pela Corte Superior
de Judicatura que proibiu esse tipo de testemunho sensacionalista nos
julgamentos subsequentes.
As execuções cessaram e a Corte Superior finalmente libertou todos os acusados
que aguardavam julgamento e indultou aqueles sentenciados à pena de morte.
Terminava assim os processos das feiticeiras de Salem que resultaram na
execução de 19 mulheres e homens inocentes.
Analogias
As perseguições às bruxas de Salem serviram, dois séculos e meio depois, como
tema para que o dramaturgo Arthur Miller – sofrendo as intimidações feitas pelo
Comitê de Atividades Antiamericanas do senador Joseph McCarthy –, escrevesse a
peça de teatro The Crucible, traduzido por ‘prova severa’, conhecida como As
Feiticeiras de Salem. Encenada no início dos anos 1950, eram evidentes as
analogias que Miller fez entre as perseguições à esquerda americana na época da
Guerra Fria, com os tormentos sofridos pelas “bruxas” de Salem.
A expressão “caça às bruxas” que quer dizer sair à procura dos culpados, mesmo
que não exista nenhum. Na Idade Média, as pessoas acusadas levianamente de
praticar bruxaria ou magia, depois da acusação eram perseguidas, caçadas e
levadas à fogueira. Os episódios de Salem tornaram modernamente “caça às
bruxas” como acusação e perseguição indiscriminada às pessoas sem provas reais
e sem o devido processo.
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