A imprensa séria
não se tem cansado de alertar nos últimos dias sobre o aumento brusco de novos
casos de covid-19: “34 mil casos só na segunda-feira!” – diz o JN. “É o valor
mais alto desde 8 de Fevereiro, quando o país iniciava a descida da explosão de
casos verificada em Janeiro”, acrescenta – será o fim do Mundo! o Armagedão!?
E as tenebrosas notícias saem em catadupa: nas
urgência do Hospital S. João: "Estamos a bater recordes. Nos últimos dias
tivemos 50% de positividade nos testes". Ah! Então, a pandemia será mais
de testes positivos do que propriamente de doentes coivd-19. Ou, na nova
linguagem fármaco-eduquês, pandemia de doentes assintomáticos.
Antes de aparecimento da covid-19, estudava-se
nas escolas da saúde, medicina, enfermagem, etc., o que havia era portadores
sãos, isto é, indivíduos que não estando doentes eram portadores do agente
infecioso. Mos tempos modernos, qualquer pessoa logo ao nascer é considerada um
doente potencial, assim, um consumidor de medicamentos e de actos,
preferencialmente, médicos, para o resto da vida.
Então, assim se entende a pressa para a
vacinação: começou na segunda-feira com a quarta dose (segunda de reforço) para
os idosos com ou mais de 80 anos ou considerados doentes de risco. Alguém alvitrou
que para vencer a vaga, haverá de se estender a quarta dose a todos os profissionais
de saúde, bem como a todos os cidadãos com mais de 60 anos. Não se estrague o
negócio!
Os matemáticos e demais especialista em todo e
em mais alguma coisa vieram a terreiro, já saudosos do protagonismo mediático, alvoraçar
os incautos para a catástrofe que poderá vir aí se não houver um retrocesso no
alívio das restrições, esquecendo-se – devem comer muito queijo – das santas maravilhas
das vacinas. Então, para que serviram as vacinas? Porquê mais restrições se 90%
da população está vacinada? Serão negacionistas?
Ao alvoroço dos especialistas de imediato as
farmácias se juntaram, declarando-se disponíveis para a retoma dos testes
gratuitos, já que são consideradas estabelecimentos de saúde inseridos no SNS,
daí a obrigatoriedade do uso da máscara por parte dos utentes deste negócio de
medicamentos… e de testes; logo, a ministra decretou que a SNS24 passaria a
prescrever automaticamente teste de antigénio em caso de autoteste positivo.
Falem na bolota, de imediato, os agentes dos laboratórios farmacêuticos disparam. «A comparticipação dos testes rápidos de antigénio nas farmácias deveria prolongar-se ainda “nos próximos tempos”» - pneumologista Raquel Duarte (militante do PS e ex-secretária de estado) dixit, lidera a equipa de peritos que aconselha o Governo quanto à pandemia (SPP recebeu 1.301.972 euros das farmacêuticas em 2021). Froes continua a facturar (378.851 euros em 2021), bem como a Ordem dos Médicos (443.841 euros em 2021).
A intenção desta gente que há muito é
conhecida, nem chega já a gato com rabo de fora: continuar o negócio da
pandemia e incutir o medo entre os cidadãos mais crédulos e inclusivamente mais
vulneráveis em termos mentais. Aproveitam o facto, que os especialistas até sabem
mas calam-se, de o vírus sars-cov-2, à semelhanças de todos os outros, se ter disseminado
por entre a população. Se fizerem teste aos 10 milhões de portugueses, quase de
certeza que encontrarão 80 a 90% de positivos, principalmente entre os
vacinados.
A falta de seriedade desta gente joga com a iliteracia
científica e política de muitos portugueses, mais propriamente da classe média.
Fácil de entender que se houve pessoas que andaram todo o Inverno e parte da Primavera
de máscara nas fuças e não tiveram as viroses que deveriam ter nesta época, é
natural que agora, com o sistema imunitário mais débil por não ter sido
treinado no tempo devido, manifestem maior número de viroses do que em anos
transactos. E em vez de tomarem a medicação para fazer regredir os sintomas,
como é habitual fazer nestas situações, vão logo a correr telefonar para a SNS24
ou para as farmácias a fim de fazer o teste. É o medo que continua a ser
instilado, é a ignorância por inexistência de educação para a saúde; ou seja,
não se investe nos cuidados primários. O modelo biomédico é sempre mais
rentável.
Para apimentar a situação, alegadamente, caótica
do SNS e em tempo de quase Verão, a imprensa pertencente aos grupos económicos
desejosos de mais negócios e subsídios por parte do governo, e com a agravante
de estarmos a viver uma situação de profunda crise económica, vasculham todos os
cantos para encontrar falhas, insuficiências e erros nos serviços públicos de
saúde, mas não nos privados. Vão da “Falta de médicos na Urgência do Hospital
de Braga origina esperas até 12 horas”, como estas situações fossem novas, passando
pelos “Internamentos sociais aumentam 23% e já ocupam mais de mil camas do SNS”,
este um excelente negócio para os privados, até “Unidade de Saúde Familiar de
Viseu aguarda há meses por meios humanos para abrir portas”, sector que o
governo está a entregar às câmaras, mas cujo objectivo final é a sua simples e
total privatização.
Em relação ao sector primário de cuidados, o
governo lançou o barro à parede, introduzindo no sistema de avaliação dos
médicos dois critérios aberrantes, interrupção voluntária da gravidez e as
doenças sexualmente transmissíveis, como forma de chantagem e, talvez fosse este
o verdadeiro móbil, de limitar ou proibir na prática o recurso à interrupção
voluntária da gravidez como direito e liberdade da mulher. Perante as críticas prontas
e indignadas de muitos médicos e de outros sectores da opinião pública, o
governo recuou na imposição, alegando falsamente a ministra que "Sempre
dissemos que não estava em causa o direito das mulheres". Como sói dizer-se:
entradas de leão, saídas de sendeiro!
Costa vem dizendo, muito seraficamente, que, sobre a gestão da pandemia, “as medidas não foram sempre coerentes”, ao mesmo tempo que se prepara para lançar uma lei, quase de certeza celerada, sobre a dita gestão das pandemias futuras (já asseguradas) para, diz ele, não colidir com a Constituição da República. Vários juristas consideraram já o projecto de lei, no mínimo, estranho e aberrante, e Marcelo também declarou que tenciona enviar a futura Lei de Emergência Sanitária para o Tribunal Constitucional para evitar chatices. A intenção é clara e evidente: poder decretar estados de emergência quando for mais conveniente sem ser acusado de atentar contra a Constituição, seja por pandemia ou outra razão qualquer, atendendo a que a crise económica adivinha-se medonha. O estado de excepção virá a ser o novo normal.
Sem comentários:
Enviar um comentário