domingo, 9 de maio de 2021

DOS INSUSTENTÁVEIS CINISMO E TARTUFICE DOS MEDIA

 

Paulo Figueiredo

O Professor Doutor António Ferreira – Médico Internista, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e ex presidente do Conselho de Administração de uma das mais importantes instituições de saúde do país, o Centro Hospitalar Universitário de S. João, Porto – escreveu recentemente um impactante artigo no jornal “O Observador” onde provava que a ocupação dos hospitais portugueses em contexto de COVID-19 foi notoriamente menor do que o verificado no ano anterior, 2019 – este um ano “não-COVID”, como é agora costume dizer-se, dado que a saúde passou a dividir-se em dois parâmetros apenas: cancro? AVC´s ? Enfartes do miocárdio? Demência? O que é fundamental e unificador é o facto de não serem COVID. Quanto à gravidade e sofrimento envolvidos, tal não importa aos “sábios” que mandam na saúde em Portugal: se é COVID, abram alas e passadeira vermelha; se é não-COVID, pode esperar, o tumor que espere por uma chamada telefónica.

Mas adiante. Usando dados oficiais, incluindo da Administração Central dos Sistemas de Saúde, o Professor António Ferreira mostrou rigorosos e indubitáveis números da ocupação e cuidados hospitalares comparando os anos 2019 e 2020. Em resumo, em 2020 houve menos 700 mil doentes internados; menos 4 milhões e meio de dias de internamento; uma taxa de ocupação de camas inferior em 7%. Tudo isto ao mesmo tempo que nos vendiam (é mesmo essa a palavra) a ideia, repetida massacrantemente todos os dias nas televisões e jornais, de que os hospitais não aguentavam, que era pressão a mais, que íamos morrer todos a bater nas portas que nos atiravam à cara por estarem sobre lotados. Gastaram-se rios de dinheiro a construir hospitais de campanha, a comprar camas nos sectores social e privado, estes sem avental suficiente para o maná pago por todos nós. Condicionou-se a sociedade e cada indivíduo, incluindo as crianças, nos seus direitos e comportamentos. E por aí além, como sabemos e sofremos.

O artigo do Professor António Ferreira foi hoje analisado no deslavado programa da SIC “Polígrafo”. Neste, até porque se tratava de irredutíveis dados oficiais, lá se diagnosticou que sim, que era tudo verdade. O que é sórdido e nauseante é a passividade com que assombrosas revelações como estas são digeridas pelos “media”, assobiando para o lado como se nada se passasse. Porque o que se impunha perante tal demonstração seria promover de imediato um esclarecedor debate entre os “especialistas” do regime e o seu contraditório – como nunca vimos nesta ditadura sanitária negacionista do que é Ciência, porque esta não existe sem confronto e falsificação, como Karl Popper e Thomas Khun nos ensinaram. Que viessem Froes, Mexia, Carlos Antunes, Silva Graça, e outros que tais. E que do outro lado estivessem António Ferreira, Torgal, Fernando Nobre, Diogo Cabrita, Margarida Oliveira, Gabriel Branco. Permitindo aos cidadãos ouvir o conceito e a sua crítica, a perspectiva e o seu contrário, a interpretação e o seu avesso. Reflectir, ponderar, meditar, (re)pensar maduramente.

Mas este serviço à liberdade de pensar naufraga no servilismo e insustentáveis cinismo e tartufice de quem tem a obrigação de nos prestar tão importante serviço público.

Pelo Facebook

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