domingo, 7 de fevereiro de 2021

O governo do PS continua com a degradação do SNS

 

Equipamento da Unidade de Cuidados Intensivos ao Recém Nascido (UCIRN) da Maternidade Dr. Bissaya Barreto já transferido para a outra Maternidade do CHUC, parte do pessoal de enfermagem já foi redistribuído por outros serviços daquele centro hospitalar. Existe um claro intento de fechar esta maternidade, mas com intuitos pouco claros. Será para especulação imobiliária?  No entanto, há uma certeza: diminuir a capacidade do público, nesta área, para dar mercado aos privados.

CONTINUOU-SE A INVESTIR POUCO NO SNS EM 2020 DEVIDO À OBSESSÃO DO DÉFICE COMO PROVAM OS DADOS DA EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO DO SNS EM 2020 DIVULGADOS PELO PRÓPRIO MINISTÉRIO DAS FINANÇAS

por Eugénio Rosa

A Direção Geral do Orçamento (DGO) do Ministério das Finanças acabou de divulgar os dados da execução do Orçamento do Estado de 2020 (jan./dez.) que inclui a execução do orçamento do SNS de 2020. E a conclusão que imediatamente se tira é que o governo continua a investir muito pouco (abaixo do mínimo necessário) para defender a saúde e a vida dos portugueses em perigo pelo COVID e, consequentemente, também para evitar a grave crise económica e social causada pela pandemia. E certamente dominado pela obsessão do défice. 

CONTRARIAMENTE AO QUE GOVERNO TEM AFIRMADO O NÚMERO DE MÉDICOS NO SNS DIMINUIU ENTRE MARÇO E DEZEMBRO DE 2020, OU SEJA, DURANTE A PANDEMIA 

Os dados do quadro 1 foram retirados do Portal de Transparência do SNS, e mostram a evolução do número de profissionais de saúde no SNS desde março de 2020, ou seja, desde o inicio da pandemia causada pelo COVID 19.

Embora o numero de profissionais de saúde tenha aumentado durante o período da pandemia (mar/dez2020) em 7310, no entanto uma categoria fundamental – a dos MEDICOS – diminuiu em 758, o que não deixa de ser dramático e reflete bem a forma como os sucessivos governos tem tratado os profissionais de saúde e o SNS nos últimos anos (ausência de carreiras e remunerações dignas, a que se junta a falta de condições de trabalho devido ao reduzido investimento no SNS) cujas consequências os portugueses e a economia estão agora a pagar caro como é visível para todos.

A confirmar esta subestimação da importância do SNS por parte dos sucessivos governos estão, mesmo em dez2020, os baixos rácios nomeadamente de médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde (assistentes operacionais) por 1000 habitantes que os dados do quadro também mostram. Segundo “Health at a Glance : Europe 2020” da Comissão Europeia, na União Europeia o número de médicos por 1000 habitantes é 3,8, mas no SNS é apenas de 2,87; e o número de enfermeiros por 1000 habitantes na União Europeia é 8,2 mas no SNS é apenas 4,7. Por outro lado, o numero de enfermeiros por médico na União Europeia é 2,3 enquanto no SNS é apenas 1,6. E o numero de auxiliares de saúde por enfermeiro é ainda mais baixo, apenas 0,6.

OS NUMEROS DA EXECUÇÃO DO ORÇAMENTO DO SNS EM 2020 MOSTRAM QUE O GOVERNO E, EM PARTICULAR, O MINISTRO DAS FINANÇAS CONTINUAM COM A OBSESSÃO DO DÉFICE

O quadro 2, com o Orçamento inicial e suplementar do SNS para 2020 e com o executado em 2020, mostra com clareza a continuação do subfinanciamento do Serviço Nacional de Saúde mesmo durante a pandemia assim como a obsessão do défice traduzida em transferências do Orçamento do Estado para o SNS inferiores às previstas bem como cortes na despesa também em relação previsto. Se comparamos os valores de receita do SNS prevista do Orçamento Suplementar com o que foi efetivamente transferido do Orçamento do Estado para o SNS constata-se uma redução de 275,6 milhões € nas transferências do Orçamento do Estado para o SNS. E se se fizer a mesma comparação entre a despesa prevista no Orçamento suplementar do SNS e o que foi executado conclui-se que foram feitos cortes no montante de 276,3 milhões €. E o ano de 2020 terminou, mais uma vez, com um saldo negativo entre recebimentos e pagamentos no montante de 292,5 milhões € que vai engrossar a divida. Mas uma análise mais fina será feita a seguir ao quadro.

A primeira conclusão, já sinalizada anteriormente, é uma redução nas transferências do Orçamento do Estado para o SNS de 232,8 milhões € em relação ao previsto no Orçamento Suplementar. Uma outra redução verifica-se nos fundos que têm como origem receitas de capital: menos 25,2 milhões €. Tudo isto contribui para estrangular ainda mais financeiramente o SNS e aumentar as suas dificuldades de funcionamento mesmo num contexto de pandemia.

A analise das despesas do SNS em 2020 também revelam situações insólitas e incompreensíveis, para não dizer mesmo inaceitáveis. As despesas com os profissionais de saúde aumentam apenas 133 milhões € em relação ao Orçamento inicial, e somente 38,8 milhões € em relação ao suplementar. E isto quando o SNS tem uma falta enorme de profissionais para enfrentar uma pandemia que colocou Portugal nos primeiros lugares de pais com mais infetados e mortes por 100.000 habitantes. E a situação é de tal forma grave que uma equipa médica da Alemanha teve de vir para Portugal com o objetivo de prestar ajuda. E como tudo isto já não fosse suficiente reduz-se a despesa à custa da redução da assistência médica à População. A prova disso é a redução (as duas primeiras linhas a vermelho do quadro), relativamente ao pago em 2019, em 2020 nos “produtos vendidos em farmácia” (medicamentos) em 28 milhões €, e nos “meios complementares de diagnóstico e terapêutica” (analises, RX, eco, TAC e outros exames) em 107,1 milhões €.

Num SNS que carece de investimentos, pois o que tem acontecido nos últimos anos é que o novo investimento tem sido muito inferior ao necessário mesmo só para compensar aquele que se degrada e torna-se obsoleto, o que se verificou em 2020 é verdadeiramente inaceitável: dos 438,7 milhões € de investimentos previstos no SNS em 2020, apenas se realizaram 262,9 milhões €, tendo sofrido um corte de 40% (-175,8 milhões €). É com reduções desta natureza e diminuição da assistência médica à população não-COVID que se faz atualmente a contenção do défice. Para conseguir isso planeia tarde e a más horas, adiam-se decisões fundamentais, mas tudo isto tem um custo elevado em infeções, em vidas, em colapso económico e social como a experiência dolorosa tem mostrado. A obsessão do défice não pode imperar nesta área num momento tão difícil como o que o país vive.

A DIVIDA DO SNS AOS FORNEECDORES AUMENTOU DURANTE A PANDEMIA Uma outra consequência da continuação do subfinanciamento do SNS, mesmo em período de pandemia, é o aumento da divida aos fornecedores em 2020....

Em novembro de 2020, a divida total do SNS aos fornecedores atingia 1.698,3 milhões € e, entre dez.2019 e nov.2020, aumentou 109,1 milhões €. A divida vencida, com mais 90 dias. cresceu 236,8 milhões €. Assim não há SNS que resista, até parece que se quer o destruir para entregar a saúde dos portugueses ao negócio dos grandes grupos privados de saúde (LUZ, CUF, Lusíadas, Trofa, GH Algarve, etc.)

Eugénio Rosa, 6/2/2021 – edr2@netcabo.pt

em www.eugeniorosa.com

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