terça-feira, 30 de abril de 2013

Ordem falida



Enquanto se gasta milhões na saúde com horas extraordinárias dos médicos para trabalho que devia ser feito no sua horário de trabalho e se paga as horas complementares aos enfermeiros a metade do preço, a ordem dos enfermeiros notifica milhares de sócios para pagamento de quotas em atraso, em alguns casos, no montante de mais de um milhar de euros, dando a ideia de que se encontra na falência. Até a crise chegou a uma organização (que geralmente existe para as profissões liberais) de trabalhadores maioritariamente assalariados e em processo acelerado de proletarização.

Os enfermeiros estão a ser espoliados dos subsídios, sobrecarregados com impostos extraordinários e aumento do IRS, com as progressões congeladas vai para 10 anos, com uma tabela salarial discriminatória, com degradação acrescida dos seus rendimentos por força da inflacção e, realidade eminente que ordem e sindicatos vão escondendo, com sério risco de verem desaparecer a carreira devido ao plano estratégico do governo de reformar o estado e cuja ameaça já foi agitada pela famigerada tabela salarial única (tsu).

Contudo, e não deixamos de enfatizar, a ordem dos enfermeiros que terá surgido mais para pôr na ordem a classe e dar protagonismo a alguns figurões, que se servem de tudo e mais alguma coisa, passando de sindicatos para a ordem e vice-versa (e mais tarde até para as administrações dos hospitais), para fazerem pela vidinha, vem agora, dizíamos, a ordem pedir o pagamento das quotas atrasados dos sócios, feitos à força. Parece que a crise chegou à ordem depois das últimas eleições para os corpos dirigentes.

Não é líquido que os enfermeiros sejam obrigados s registar-se na ordem – porque é um verdadeiro registo em base de dados tipo big-brother – como também não é certo que os enfermeiros inscritos na ordem sejam obrigados a pagar quotas se não participarem na vida ou nas actividades promovidas pela dita (na devida altura, voltaremos a este assunto). Muito antes de haver ordem já havia enfermeiros devidamente formados e habilitados a exercer a profissão e sem precisar de protagonismos e tachos para fazer curriculum.

É grande o número de enfermeiros que não paga as quotas à organização, são muitos, são mesmo milhares, com anos de atraso, pela simples razão de que a ordem não lhes dizia nem diz, com estes dirigentes, absolutamente nada. A ordem, em termos de interesses da classe, é uma absoluta inutilidade e nem vale a pena fazer comparações com a ordem dos médicos porque são duas classes com realidades diferentes e com passado histórico bem diverso. Para defender os interesses da classe de enfermagem bastam os sindicatos existentes, que bem vistas as coisas até são demais, e os partidos como órgãos de cidadania. A ordem serve para policiar os enfermeiros e para também dar protagonismo a quem não gosta de estar a trabalhar junto dos doentes e da comunidade… porque faz calos. A ordem, à semelhança do governo, serve para cobrar impostos, embora com outro nome.

Os enfermeiros não pagam as quotas porque também não têm dinheiro, já que estamos a ser empobrecidos rapidamente pelas políticas de austeridade impostas pela troika e por este governo. E em tempos de crise a sobrevivência está em primeiro lugar, e é natural que os enfermeiros continuem com quotas em atraso.

E se ninguém pagasse quotas, estamos em crise?!

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