sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

A luta dos professores é a mesma dos enfermeiros

 

Os professores voltaram de novo à luta contra um governo que, dizendo-se de “esquerda”, tem conduzido uma política aberta e inequivocamente de direita, quando se trata de resolver ou, quanto muito, minorar problemas, alguns deles já crónicos, dos trabalhadores. O governo PS, apesar da sua linguagem conciliadora, coloca sempre e bem à vista a agenda dos empresários e das grandes empresas económicas à frente de tudo, mesmo quando escolhe a via do “nim”, ou seja, tenta agradar a gregos e a troianos – os gregos ganham sempre.

Este ressurgimento só foi possível por duas ordens de razões: a situação tornou-se insustentável e surgiram novas organizações e dirigentes sindicais. O que existia esclerosou-se pela conciliação e pelo colaboracionismo, por força de cumprimento de agendas que não eram as dos professores – situação que abrange todo o campo sindical. O aparecimento repentino de greves consideradas pelo governo e pelo establishment como “radicais” e “imprevisíveis”, isto é, não dirigidas pelos sindicatos do regime, assusta o poder instituído; são consideradas atentatórias da estabilidade governativa, esta geralmente feita no interesse da elite económica, e os trabalhadores que as protagonizam são rapidamente apodados de “arruaceiros”.

Estes colaboradores pouco colaborativos, na douta opinião dos governantes e dos seus agentes de propaganda, toda a imprensa corporativa, devem ser tratados como tal, razão pela qual o governo decretou os serviços mínimos (?!) só para as greves do sindicato S.TO.P, considerado já pelo governo PS como inimigo público nº1. A maneira como estas greves são tratados, bem como os seus dirigentes, por todos os medias mainstream, justifica por si só a repressão que se abate, e irá intensificar-se dentro em breve, sobre os professores. Novidades, que o não são se conhecermos a história do movimento sindical, de fundos de greve e de unidade entre as diversas classes de trabalhadores explorados, irritam e enervam a elite política e não só.

A difamação dos professores faz lembrar outras ocorridas no passado recente e igualmente de autoria do governo do partido dito “socialista” e do seu chefe, que gosta muito de ser arvorar em caceteiro, sói dizer-se que quem quer conhecer um vilão, é colocar-lhe um pau na mão! Aconteceu com os enfermeiros, nas greves cirúrgicas, e com os motoristas de matérias perigosas e dos estivadores, que viram não só a repressão como a tentativa de rachar a greve através de fura-greves. Todos estes trabalhadores levaram com a requisição civil em cima, não demorará a que aos professores lhes aconteça o mesmo. Se não desmobilizarem por força da contra-propaganda governamental e das divisões criadas pela colaboracionista Fenprof, é certo e sabido que os professores serão os senhores que se seguem – o PS poderá então ufanar-se de que usou a requisição civil mais vezes que o Salazar.

Esta sanha contra os professores é a mesma da que o governo manifestou contra os enfermeiros ou outros trabalhadores que ousem lutar contra a política imposta cujo o objectivo é o de proletarizar todos os trabalhadores dos serviços, incluindo técnicos licenciados, a fim de os transformar em mão-de-obra barata e facilmente descartável. A ideia é oferecer uns serviços públicos de baixa qualidade e não concorrenciais com os privados que paulatinamente se vão substituindo ao estado, como já acontece na saúde; em suma, uma mão-de-obra barata e dócil para a maximização dos lucros dos capitalistas que operam na área. Gerir o público como empresa capitalista, o objectivo é o lucro, e desse modo a lógica discursiva é a de que não há dinheiro.

Esta política imposta por Bruxelas – é importante não o esquecer – é levada a cabo seja por PS ou PSD, ou qualquer outro partido que catapultado para o governo, e ficou bem patente quando o ministro das Finanças veio à praça pública dizer que a contagem de todo o tempo dos professores “custaria ao país” 331 milhões de euros por ano. Ficamos esclarecidos que investir na Educação é um “custo” e não um investimento, custo que é do “país” e não do Orçamento de Estado, cujos dinheiros resultam dos impostos arrancados aos trabalhadores.  Esta arrogância proveniente de um néscio, que ocupa o cargo por pagamento da derrota nas eleições para a Câmara de Lisboa, mostra bem que a função de ministro é cumprir as ordens superiores, e estas vêm de Bruxelas.

A lenga-lenga de que “não há dinheiro” só é debitada quando se trata de aumentar os salários de quem trabalha, de quem na realidade produz a riqueza do dito “país”, ou de melhoria das suas condições de trabalho e de vida. Quando se trata de recapitalizar os bancos, de perdoar as dívidas fiscais de grandes grupos económicos, conceder benefícios fiscais a empresas estrangeiras, facilitar negócios com os privados (exemplo, comprar serviços de saúde a privados em vez de investir no SNS), contratar serviços a empresas privadas, escritórios de advogados, arquitectos, etc., quando existem esses mesmos serviços no estado, e na maior parte da vezes por ajuste directo (o caso do altar é mais que escandaloso), ou financiar a Igreja Católica, a maior proprietária imobiliária privada do país, a lenga-lenga como que desaparece por milagre ou artes mágicas. Nestes casos, as comissões são mais que generosas, assim se percebe como os políticos de profissão vão enriquecendo.

As lutas dos trabalhadores, sejam do sector público ou do privado, só terão sucesso se os trabalhadores se unirem na base de uma política correcta que os defenda e identifique o real inimigo de classe dos trabalhadores. O governo PS e a classe possidente que serve é que são os inimigos, para além de alguma quinta coluna no seio dos próprios trabalhadores. Uma das condições para que a luta termine, só e quando os objectivos a que se propõe sejam satisfeitos, é a  determinação e a coragem dos próprios trabalhadores; uma outra é também a determinação e a seriedade dos seus dirigentes de se disporem a levar a luta até ao fim, independentemente dos custos pessoais. Cada vez mais um sindicalismo de luta é necessário, forçosamente um sindicalismo independente, mas independente dos partidos do poder e do sistema, e não dos trabalhadores. A consigna de que o sindicalismo é “apartidário” e “apolítico” só interessa aos patrões e ao governo que lhes gere os negócios. Aos trabalhadores importa um sindicalismo revolucionário e se, por ventura, surgir um partido revolucionário anti-establishment melhor ainda.

Os trabalhadores e o povo português estão fortemente solidários com a luta dos professores. O investimento na educação e na saúde é a melhor aposta no futuro dos nossos filhos, e para isso não há dinheiro que chegue!

Sem comentários: