Os professores voltaram de novo à luta contra um
governo que, dizendo-se de “esquerda”, tem conduzido uma política aberta e
inequivocamente de direita, quando se trata de resolver ou, quanto muito,
minorar problemas, alguns deles já crónicos, dos trabalhadores. O governo PS, apesar
da sua linguagem conciliadora, coloca sempre e bem à vista a agenda dos
empresários e das grandes empresas económicas à frente de tudo, mesmo quando
escolhe a via do “nim”, ou seja, tenta agradar a gregos e a troianos – os gregos
ganham sempre.
Este ressurgimento só foi possível por duas ordens
de razões: a situação tornou-se insustentável e surgiram novas organizações e
dirigentes sindicais. O que existia esclerosou-se pela conciliação e pelo
colaboracionismo, por força de cumprimento de agendas que não eram as dos
professores – situação que abrange todo o campo sindical. O aparecimento
repentino de greves consideradas pelo governo e pelo establishment como “radicais”
e “imprevisíveis”, isto é, não dirigidas pelos sindicatos do regime, assusta o poder instituído; são consideradas atentatórias da estabilidade governativa, esta geralmente feita no
interesse da elite económica, e os trabalhadores que as protagonizam são rapidamente apodados de “arruaceiros”.
Estes colaboradores pouco colaborativos, na
douta opinião dos governantes e dos seus agentes de propaganda, toda a imprensa
corporativa, devem ser tratados como tal, razão pela qual o governo decretou os
serviços mínimos (?!) só para as greves do sindicato S.TO.P, considerado já pelo
governo PS como inimigo público nº1. A maneira como estas greves são tratados, bem
como os seus dirigentes, por todos os medias mainstream, justifica por si só a
repressão que se abate, e irá intensificar-se dentro em breve, sobre os
professores. Novidades, que o não são se conhecermos a história do movimento
sindical, de fundos de greve e de unidade entre as diversas classes de
trabalhadores explorados, irritam e enervam a elite política e não só.
A difamação dos professores faz lembrar outras
ocorridas no passado recente e igualmente de autoria do governo do partido dito
“socialista” e do seu chefe, que gosta muito de ser arvorar em caceteiro, sói
dizer-se que quem quer conhecer um vilão, é colocar-lhe um pau na mão! Aconteceu
com os enfermeiros, nas greves cirúrgicas, e com os motoristas de matérias
perigosas e dos estivadores, que viram não só a repressão como a tentativa de
rachar a greve através de fura-greves. Todos estes trabalhadores levaram com a
requisição civil em cima, não demorará a que aos professores lhes aconteça o
mesmo. Se não desmobilizarem por força da contra-propaganda governamental e das
divisões criadas pela colaboracionista Fenprof, é certo e sabido que os
professores serão os senhores que se seguem – o PS poderá então ufanar-se de
que usou a requisição civil mais vezes que o Salazar.
Esta sanha contra os professores é a mesma da
que o governo manifestou contra os enfermeiros ou outros trabalhadores que ousem
lutar contra a política imposta cujo o objectivo é o de proletarizar todos os
trabalhadores dos serviços, incluindo técnicos licenciados, a fim de os transformar
em mão-de-obra barata e facilmente descartável. A ideia é oferecer uns serviços
públicos de baixa qualidade e não concorrenciais com os privados que paulatinamente
se vão substituindo ao estado, como já acontece na saúde; em suma, uma
mão-de-obra barata e dócil para a maximização dos lucros dos capitalistas que
operam na área. Gerir o público como empresa capitalista, o objectivo é o
lucro, e desse modo a lógica discursiva é a de que não há dinheiro.
Esta política imposta por Bruxelas – é
importante não o esquecer – é levada a cabo seja por PS ou PSD, ou qualquer outro
partido que catapultado para o governo, e ficou bem patente quando o ministro
das Finanças veio à praça pública dizer que a contagem de todo o tempo dos
professores “custaria ao país” 331 milhões de euros por ano. Ficamos esclarecidos
que investir na Educação é um “custo” e não um investimento, custo que é do “país”
e não do Orçamento de Estado, cujos dinheiros resultam dos impostos arrancados
aos trabalhadores. Esta arrogância proveniente
de um néscio, que ocupa o cargo por pagamento da derrota nas eleições para a
Câmara de Lisboa, mostra bem que a função de ministro é cumprir as ordens
superiores, e estas vêm de Bruxelas.
A lenga-lenga de que “não há dinheiro” só é
debitada quando se trata de aumentar os salários de quem trabalha, de quem na
realidade produz a riqueza do dito “país”, ou de melhoria das suas condições de
trabalho e de vida. Quando se trata de recapitalizar os bancos, de perdoar as
dívidas fiscais de grandes grupos económicos, conceder benefícios fiscais a
empresas estrangeiras, facilitar negócios com os privados (exemplo, comprar
serviços de saúde a privados em vez de investir no SNS), contratar serviços a
empresas privadas, escritórios de advogados, arquitectos, etc., quando existem
esses mesmos serviços no estado, e na maior parte da vezes por ajuste directo (o
caso do altar é mais que escandaloso), ou financiar a Igreja Católica, a maior
proprietária imobiliária privada do país, a lenga-lenga como que desaparece por
milagre ou artes mágicas. Nestes casos, as comissões são mais que generosas,
assim se percebe como os políticos de profissão vão enriquecendo.
As lutas dos trabalhadores, sejam do sector
público ou do privado, só terão sucesso se os trabalhadores se unirem na base
de uma política correcta que os defenda e identifique o real inimigo de classe
dos trabalhadores. O governo PS e a classe possidente que serve é que são os
inimigos, para além de alguma quinta coluna no seio dos próprios trabalhadores.
Uma das condições para que a luta termine, só e quando os objectivos a que se
propõe sejam satisfeitos, é a
determinação e a coragem dos próprios trabalhadores; uma outra é também
a determinação e a seriedade dos seus dirigentes de se disporem a levar a luta
até ao fim, independentemente dos custos pessoais. Cada vez mais um sindicalismo
de luta é necessário, forçosamente um sindicalismo independente, mas independente
dos partidos do poder e do sistema, e não dos trabalhadores. A consigna de que
o sindicalismo é “apartidário” e “apolítico” só interessa aos patrões e ao
governo que lhes gere os negócios. Aos trabalhadores importa um sindicalismo
revolucionário e se, por ventura, surgir um partido revolucionário anti-establishment
melhor ainda.
Os trabalhadores e o povo português estão
fortemente solidários com a luta dos professores. O investimento na educação e
na saúde é a melhor aposta no futuro dos nossos filhos, e para isso não há dinheiro
que chegue!
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