segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

A propósito do "Conselho de Administração do Hospital de S. João pede demissão"

 

No "JN"

O que aconteceu no H. S. João, independentemente dos contornos específicos do acidente, revela um problema de fundo muito mais grave: a degradação do SNS em termos de falta de pessoal, de falta de investimento em novos equipamentos e instalações, muitas das quais em estado avançado de degradação.

Morrerem doentes ou ficarem feridos devido a um incêndio num hospital central de um país da União Europeia - não estamos na Índia! - é completamente inconcebível e inaceitável. Esta morte, que todos nós lamentamos, deve ser colocada na conta corrente das mortes que aconteceram durante o governo do PS e do senhor Costa.

Sabemos antecipadamente que a culpa vai morrer solteira ou então o peixe-miúdo servirá de bode-expiatório, quando é na CP ou na auto-estrada com algum acidente que envolva mortes, ou foi o maquinista ou o trabalhador que anda nas obras da via. Aqui vai ser um doente que possivelmente não estaria na posse de todas as sua faculdades mentais.

Quanto à questão de se fumar dentro dos serviços, tirando os doentes de psiquiatria que possuem espaços próprios para o efeito, os doentes sabem perfeitamente, e geralmente cumprem, que é proibido. Quem anda pelos hospitais do SNS sabe que quem fuma dentro das instalações, ou são os médicos (alguns) nos bar do serviço ou outro pessoal em cargo de chefia que, aproveitando o privilégio de possuir gabinete, comete o "crime" recatadamente, não se preocupando em eliminar os vestígios. Conhecemos uma enfermeira chefe que passava o tempo a fumar dentro do gabinete e quando se entrava, era cá um pivete.

Devemos lembrar um acontecimento semelhante, ocorrido nos HUC há alguns anos, onde morreu uma doente por se encontrar imobilizada e ter incendiado a cama com o cigarro. A questão foi rapidamente encoberta e a família foi indemnizada em 20 mil contos. O director do serviço tratou do assunto corporativa e amigavelmente e uma das enfermeiras envolvidas no incidente, que ocorreu durante a noite, ainda pôde chegar a chefe.

O Conselho de Administração do Hospital de S. João do Porto pediu a demissão, só pecará por tardia, na medida em que já há algum tempo houve chefes de serviço que colocaram o lugar à disposição por considerarem que não havia as condições necessárias para a oferta de cuidados de saúde de qualidade, querendo com isso responsabilizar o governo.

Sabemos também que alguns elementos dos CA's se comportam como comissários políticos, fazendo jus ao facto de terem sido nomeados pelo governo, mas nem todos. E, aproveitando o nefasto acontecimento, todos os CA's dos hospitais públicos deveriam fazer o mesmo, pedirem a demissão.

Os enfermeiros, que geralmente se encontram na primeira linha do atendimento aos doentes e quase por norma são os que mais sofrem quando acontece acidentes deste género, ou, como é notícia com enfermeiro que foi agredido no Hospital de Aveiro, são quem dá a cara pela instituição, embora sejam muito mal remunerados para o efeito, e todo o seu trabalho nunca é devidamente reconhecido, deverão tomar uma atitude de repúdio de mais uma prova da degradação do SNS.

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