sexta-feira, 31 de julho de 2020

O Estado deve pagar aos trabalhadores do SNS o real valor da sua força de trabalho


Henricartoon

Em França o governo prometeu, e após uma dura luta por parte dos trabalhadores, um aumento médio de 183 euros por mês a todos os profissionais de saúde, num montante de 8,1 mil milhões de euros. Em Portugal, a Assembleia da República aprovou o pagamento de um prémio de desempenho correspondente a meio salário mensal e mais um dia de férias por cada 80 horas de trabalho extraordinário a todos os trabalhadores que estiveram na linha da frente ao combate à pandemia do coronavirus. A medida foi orçamentada no Orçamento Suplementar, espera-se regulamentação, como se espera que a medida abranja todos os trabalhadores e não somente os médicos e os enfermeiros.
Perante a pandemia e a sobrecarga que acarretou a todos os trabalhadores do SNS, em particular os enfermeiros, os sindicatos poderiam ter avançado com propostas de melhoria substancial das remunerações que na dita “nova carreira” ficaram bem aquém do desejado. Mas devido à anquilosidade mental continuam a bater em questões que colhem pouca receptividade, pelo menos na opinião pública, como seja o prémio de “risco e de penosidade”, difícil de ser explicado numa classe onde campeia o pluri-emprego, situação esta que seria resolvida, por sua vez, com o regime de exclusividade. Mas esta reivindicação queima as mãos dos nossos sindicalistas, muitos deles peritos em acumular o público com o privado e entendendo o cargo sindical como mais um “tacho”.
Não deixa de ser patético e lamentável ver um sindicato como o SEP a fazer coreografias de rua com o objectivo de “sensibilizar a população” para os problemas da enfermagem quando ele é um dos principais responsáveis pela existência e agravamento desses mesmos problemas, estamos todos bem lembrados de quando atacou e furou a greve dos enfermeiros no ano passado, não repudiou a requisição civil imposta pelo Governo do PS, ficou de fora da grande manifestação de 8 de Março e chegou a recusar participar em reuniões com outros sindicatos, com a arrogância de ele, SEP, seria o único ou o principal interlocutor com o Governo.
É este Governo e é esta ministra que em Fevereiro de 2019 atacaram os enfermeiros, porque através do tipo greve que estavam a fazer, a “greve cirúrgica”, estariam a fazer o jogo dos interesses privados da saúde e a querer “matar os doentes”, com o adiamento de cerca de 1500 cirurgias, que iriam, pela lógica governamental, para o sector privado. Agora, com 3.9 milhões de consultas e 93 mil cirurgias canceladas (números apresentados pela Ordem dos Médicos), devido a se ter alocado quase todo o SNS para o combate exclusivo à covid-19, o Governo e a ministra assobiam para o lado, como fosse uma coisa normal, e os sindicatos não devolvem as acusações abjectas de que a enfermagem foi alvo. Afinal, os assassinos são o Governo e a ministra!
Nada de bom se pode esperar deste governo que tem reduzido o investimento em equipamentos (capital fixo) desde 2016, menos 7,5 mil milhões de euros do que seria necessário para substituir todo o equipamento obsoleto de toda a administração pública (consumo de capital fixo), e mesmo no Orçamento Suplementar, aprovado há cerca de um mês, esse investimento até diminui em 45 milhões de euros. Não se espere grandes investimentos no SNS apesar da pipa de massa que foi prometida pela União Europeia, no quadro do combate à crise económica, 45 mil milhões de euros de empréstimos e 15,3 mil milhões de euros a fundo perdido (segundo dizem), porque esse dinheiro será sempre com a contrapartida de se privatizar tudo o que ainda não foi, desde Saúde e Educação à Segurança Social, diminuição salarial e das reformas, num quadro bem pior do que aquele que foi imposto ao povo português no tempo da troika.
Não é com petições à Assembleia da República, agora mais dificultadas pelo maior número de assinaturas necessárias (10 mil), nem com audiências aos grupos parlamentares, que os enfermeiros verão os seus problemas resolvidos. A luta terá de prosseguir, mas não liderada por dirigentes sindicais que, por impotência de encetar lutas mais radicais e medo de perder as mordomias sindicais, se refugiam nas coreografias já estafadas e desacreditadas. 
Exige-se: acabar com os enfermeiros precários e com os CIT's, todos devem ser trabalhadores em funções públicas; aumentar o número de vagas dos enfermeiros especialistas de molde a que nenhum fique de fora e permita a subida na carreira a quem o pretenda, sem quotas e com a contagem de todo o tempo de carreira a todos os enfermeiros, coisa que o SEP vai iludindo com a história dos pontos e da diferenciação dos CIT's, porque, na prática, todos os enfermeiros são contrato de trabalho em funções públicas (CTFP) estabelecimento do regime de exclusividade no SNS, com o acréscimo de 50% sobre o salário base, e valorização salarial de toda a carreira; contratação de mais enfermeiros até preenchimento das necessidades reais do SNS e acabar com as contratação a empresas de trabalho temporário, que deverão ser ilegalizadas. Não é nada que a enfermagem não mereça. Não basta bater-lhe palmas, há que a considerar!

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