quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Justiça por Giovani Rodrigues



Pedimos justiça para romper o silêncio, porque queremos Luta e Luto.
O assassinato do jovem cabo-verdiano Giovani Rodrigues no dia 21 de dezembro de 2019 e a indiferença das forças policiais, dos media e do Estado português em relação à morte do estudante evidencia o que já não podemos mais calar: vidas negras não importam neste país, e por isso queremos saber Quem Matou Giovani?
Alcindo Monteiro (assassinado no “dia da raça”, 1995); Kuku (assassinado pela PSP, 2009); Guto Pires (agredido pela PSP, 2013); Nelson Évora (discriminado pela cor da pele por seguranças numa discoteca em Lisboa, 2014); Bruno Lopes, Celso Lopes, Flávio Almada, Miguel Reis, Paulo Veiga e Rui Moniz (todos agredidos, sequestrados e torturados pela PSP em 2015); Matamba Joaquim (agredido pela PSP, 2016); Mário Mendes (agredido pela PSP, 2016); Francisca Lopes (agredida pela PSP, 2017); Fernando Coxi e Julieta Jóia (agredidos pela PSP, 2019)...
Quantas mais vidas negras precisarão ser violentadas/ceifadas para assumirmos de uma vez por todas que Portugal não tem sido um país seguro para negros e negras? Relatos de abuso policial quotidiano (nas ruas, estações de comboio, autocarros, casas privadas), de discriminação nas escolas, de estigmatização territorial (e classificação de diversas zonas habitadas por negros como “bairros sensíveis” e que recebem um tratamento “especial” das forças de segurança) não podem mais ser considerados incidentes. São sim, parte do quotidiano da vida de milhares de cidadãos e cidadãs negras que têm de provar diariamente que merecem ser tratados com dignidade, respeito e que não são cidadãos de segunda classe nem de segunda geração neste país.
O tal estado português “intercultural”, “acolhedor” e que em situações convenientes conclama todos a declarar #JamaicaSomosTodosNós, tem listado entre os estados membros da União Europeia como o país da Europa Ocidental com maior número de casos de violência policial, segundo dados do Comité Anti-tortura do Conselho da Europa de 2018.
A perda de mais um irmão não pode gerar apenas dor, tristeza e silêncio despolitizado. Que o assassinato de Giovani se torne força inspiradora e mobilizadora para seguirmos na LUTA.
NÃO à impunidade racista em Portugal!
SIM à justiça e memória de todas as vítimas do racismo!
E porque temos a obrigação de estar presentes e organizados, conscientes sobre como o racismo opera em Portugal, antecipando actos grotescos como este, convidamos todas as pessoas interessadas em se juntar e contribuir para a luta anti-racista, a fazer parte de um núcleo a parir de Coimbra, em articulação com outras cidades do país e do mundo, para que casos de racismo quotidiano possam ser acompanhados, e para que os nossos discursos e os nossos silêncios não sejam apropriados por um sistema que nos oprime, onde nos possamos cuidar e orientar, porque somos muitos e O RACISMO NÃO PASSARÁ!
(Comunicado que circulou na manifestação em Coimbra, no dia 11 de Janeiro)

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