Pedimos
justiça para romper o silêncio, porque queremos Luta e Luto.
O
assassinato do jovem cabo-verdiano Giovani Rodrigues no dia 21 de
dezembro de 2019 e a indiferença das forças policiais, dos media e
do Estado português em relação à morte do estudante evidencia o
que já não podemos mais calar: vidas negras não importam neste
país, e por isso queremos saber Quem Matou Giovani?
Alcindo
Monteiro (assassinado no “dia da raça”, 1995); Kuku (assassinado
pela PSP, 2009); Guto Pires (agredido pela PSP, 2013); Nelson Évora
(discriminado pela cor da pele por seguranças numa discoteca em
Lisboa, 2014); Bruno Lopes, Celso Lopes, Flávio Almada, Miguel Reis,
Paulo Veiga e Rui Moniz (todos agredidos, sequestrados e torturados
pela PSP em 2015); Matamba Joaquim (agredido pela PSP, 2016); Mário
Mendes (agredido pela PSP, 2016); Francisca Lopes (agredida pela PSP,
2017); Fernando Coxi e Julieta Jóia (agredidos pela PSP, 2019)...
Quantas
mais vidas negras precisarão ser violentadas/ceifadas para
assumirmos de uma vez por todas que Portugal não tem sido um país
seguro para negros e negras? Relatos de abuso policial quotidiano
(nas ruas, estações de comboio, autocarros, casas privadas), de
discriminação nas escolas, de estigmatização territorial (e
classificação de diversas zonas habitadas por negros como “bairros
sensíveis” e que recebem um tratamento “especial” das forças
de segurança) não podem mais ser considerados incidentes. São sim,
parte do quotidiano da vida de milhares de cidadãos e cidadãs
negras que têm de provar diariamente que merecem ser tratados com
dignidade, respeito e que não são cidadãos de segunda classe nem
de segunda geração neste país.
O
tal estado português “intercultural”, “acolhedor” e que em
situações convenientes conclama todos a declarar
#JamaicaSomosTodosNós, tem listado entre os estados membros da União
Europeia como o país da Europa Ocidental com maior número de casos
de violência policial, segundo dados do Comité Anti-tortura do
Conselho da Europa de 2018.
A
perda de mais um irmão não pode gerar apenas dor, tristeza e
silêncio despolitizado. Que o assassinato de Giovani se torne força
inspiradora e mobilizadora para seguirmos na LUTA.
NÃO à
impunidade racista em Portugal!
SIM à
justiça e memória de todas as vítimas do racismo!
E
porque temos a obrigação de estar presentes e organizados,
conscientes sobre como o racismo opera em Portugal, antecipando actos
grotescos como este, convidamos todas as pessoas interessadas em se
juntar e contribuir para a luta anti-racista, a fazer parte de um
núcleo a parir de Coimbra, em articulação com outras cidades do
país e do mundo, para que casos de racismo quotidiano possam ser
acompanhados, e para que os nossos discursos e os nossos silêncios
não sejam apropriados por um sistema que nos oprime, onde nos
possamos cuidar e orientar, porque somos muitos e O RACISMO NÃO
PASSARÁ!
(Comunicado
que circulou na manifestação em Coimbra, no dia 11 de Janeiro)
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