domingo, 6 de junho de 2021

Enfermeiros, mão de obra barata e pau para toda a colher

 

Imagem in "Público"

Em plena campanha de vacinação em massa ouve-se agora organizações sindicais (SEP, em particular) a queixar-se de os enfermeiros estarem a ser ignobilmente explorados, aproveitando-se o governo de uma situação dramática (pelo menos, pretensamente) vivida pelo país.

Os enfermeiros estão a ser contratados avulso a empresas de trabalho temporário e a ser pagos à hora e por valores muito díspares entre as diferentes câmaras e as ARS que os contratam, e todos eles em situação mais do que precária.

O governo prometeu, segundo as mesmas organizações sindicais, contratar 4200 enfermeiros para este ano de 2021, sendo metade efectivada até 30 de Junho, e 630 enfermeiros seriam destinados para os cuidados de saúde primários. Ora, nada disto aconteceu até agora, faltando o governo à palavra, como já nos tem habituado.

Deve-se acrescentar que dos cerca de 5000 mil profissionais da saúde contratados para o combate à coivid-19, cerca de metade já foi despedida. Não passa semana que não é notícia o despedimento de enfermeiros e de outros trabalhadores da saúde logo que termina o contrato dos 4 meses, alegando as administrações a falta de autorização do ministro das Finanças.

Os sindicatos queixam-se da precariedade, da falta de tabelas remuneratórias dos enfermeiros contratados às empresas de trabalho escravo e da exaustação dos mesmos, mas não deixaria de ser despiciendo questionar: o que têm feito para pôr fim a este estado calamitoso? Resumindo, nada!

Já anteriormente, outra organização sindical se lamentara que “o processo de vacinação está a ser muito cansativo e desgastante e a provocar problemas no funcionamento dos serviços”, na medida em que os enfermeiros são retirados dos serviços, onde normalmente são insuficientes, e por se aproximar o período de férias, correndo assim o risco de ficarem prejudicados.

Ora, todos sabem que o SNS se encontrava no “osso” muito antes do aparecimento da milagrosa pandemia; milagrosa por disfarçar os défices profundos e crónicos do SNS, explicar a contratação de privados e dar azo ao enriquecimento de muito boa gente, cuja vida é a de parasitação do SNS.

Os sindicatos preocupam-se com o impedimento de carreira aos contratos individuais de trabalho e a algumas injustiças na progressão a alguns enfermeiros, nomeadamente chefes, na falácia de carreira aprovada pelo governo, mas não dizem que foi graças á colaboração de uns (SEP/CGTP) e a complacência de outros (UGT) que a putativa carreira foi aprovada e os enfermeiros ficaram mais uma vez estagnados.

Mas não são apenas os sindicatos os prestáveis colaboradores do governo, a ordem dos enfermeiros, capitaneada por uma pretensa aguerrida enfermeira (lembremo-nos das “greves cirúrgicas”!), velho quadro do PSD/cavaquismo e amiga dos chegas, logo se disponibilizou para oferecer mão-de-obra ainda mais barata do que a oferecida pelas empresas de trabalho temporário (negreiro). Se em Janeiro colocou alguma reticência ao trabalho à borla, em Abril, no dia 1 (nem sempre é dia das mentiras!), já era firme na opinião: os enfermeiros “estão sempre disponíveis para o país”! E mais, “muitos elementos ligados à instituição se mostraram receptivos a integrar o processo de vacinação em regime de pro bono”.

Como estávamos a dizer, no início do ano, o governo preparou o caminho, apalpando terreno aqui e ali, tendo logo obtido a garantia de poder recorrer ao corpo de enfermeiros criado em regime pro bono pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), para… ajudar na vacinação contra a covid-19. Disponibilidade a que não será estranho o negócio de milhões de euros dos testes rápidos da covid-19 contratado pelo governo àquela organização dita “humanitária”, cujo presidente é um “aposentado” com uma reforma de perto de 7 mil euros e que não deverá rejeitar alguma possível e descuidada comissão pelas negociatas.

E a nossa bastonária que, ao princípio tão esquisita (o que, entretanto, se terá passado para mudar tão radicalmente de opinião?) e agora tão solícita, chegando ao ponto de lançar um inquérito on-line que de imediato angariou 9.366 enfermeiros voluntários, 8.956 para trabalhar extra-horário e 410 desempregados. E ainda fez questão de ressalvar que no Verão sairiam das escolas mais 3.000 enfermeiros dispostos, eventualmente, a serem escravos. Como se constata, as empresas de trabalho temporário (que as administrações das instituições do SNS gostam muito de contratar, lá saberão porquê!) nem serão os piores no meio disto tudo.

Com sindicatos, ordens profissionais (a dos médicos foi a primeira a dar o tom) e partidos da oposição, tanto à direita como à esquerda (o último foi o bronco dirigente do PCP a exortar a maior rapidez da vacinação devido à nega da Grã-Bretanha à livre circulação de turistas para Portugal), o governo do senhor Costa não pode alegar dificuldades no processo de ensaio de vacinas que ainda se encontram em fase de teste, e nem as grandes farmacêuticas se poderão queixar do chorudo negócio que estão a fazer à custa do incauto e crédulo Zé Povinho.

Claro que, é tudo a bem da saúde dos portugueses; antigamente, era a bem da Nação!

PS:

Uma pergunta: por que é que os profissionais do SNS não são testados em massa, à semelhança da população em geral?

Uma informação: tem acontecido reacções adversas graves em profissionais do SNS em consequência da vacinação, incluindo enfermeiros, como aconteceu ainda há pouco com uma enfermeira do CHUC (e ao marido), sem que haja divulgação por parte da DGS ou dos media domesticados por 15 milhões de euros.

Uma sugestão: Os enfermeiros, nomeadamente os precários, têm agora uma excelente oportunidade para mostrar a sua força, fazendo greve para melhor e uniformizada remuneração e imediata efectivação, contando para isso com organização autónoma de comissões de greve, livremente eleitas e livremente revogáveis.

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