Em plena campanha de
vacinação em massa ouve-se agora organizações sindicais (SEP, em particular) a
queixar-se de os enfermeiros estarem a ser ignobilmente explorados,
aproveitando-se o governo de uma situação dramática (pelo menos, pretensamente)
vivida pelo país.
Os enfermeiros estão a
ser contratados avulso a empresas de trabalho temporário e a ser pagos à hora e
por valores muito díspares entre as diferentes câmaras e as ARS que os
contratam, e todos eles em situação mais do que precária.
O governo prometeu,
segundo as mesmas organizações sindicais, contratar 4200 enfermeiros para este
ano de 2021, sendo metade efectivada até 30 de Junho, e 630 enfermeiros seriam
destinados para os cuidados de saúde primários. Ora, nada disto aconteceu até
agora, faltando o governo à palavra, como já nos tem habituado.
Deve-se acrescentar
que dos cerca de 5000 mil profissionais da saúde contratados para o combate à
coivid-19, cerca de metade já foi despedida. Não passa semana que não é notícia
o despedimento de enfermeiros e de outros trabalhadores da saúde logo que
termina o contrato dos 4 meses, alegando as administrações a falta de autorização
do ministro das Finanças.
Os sindicatos
queixam-se da precariedade, da falta de tabelas remuneratórias dos enfermeiros contratados
às empresas de trabalho escravo e da exaustação dos mesmos, mas não deixaria de
ser despiciendo questionar: o que têm feito para pôr fim a este estado
calamitoso? Resumindo, nada!
Já anteriormente,
outra organização sindical se lamentara que “o processo
de vacinação está a ser muito cansativo e desgastante e a provocar problemas no
funcionamento dos serviços”, na medida em que os enfermeiros são retirados dos
serviços, onde normalmente são insuficientes, e por se aproximar o período de
férias, correndo assim o risco de ficarem prejudicados.
Ora, todos sabem que o
SNS se encontrava no “osso” muito antes do aparecimento da milagrosa pandemia;
milagrosa por disfarçar os défices profundos e crónicos do SNS, explicar a contratação
de privados e dar azo ao enriquecimento de muito boa gente, cuja vida é a de
parasitação do SNS.
Os sindicatos preocupam-se
com o impedimento de carreira aos contratos individuais de trabalho e a algumas
injustiças na progressão a alguns enfermeiros, nomeadamente chefes, na falácia
de carreira aprovada pelo governo, mas não dizem que foi graças á colaboração
de uns (SEP/CGTP) e a complacência de outros (UGT) que a putativa carreira foi
aprovada e os enfermeiros ficaram mais uma vez estagnados.
Mas não são apenas os
sindicatos os prestáveis colaboradores do governo, a ordem dos enfermeiros,
capitaneada por uma pretensa aguerrida enfermeira (lembremo-nos das “greves
cirúrgicas”!), velho quadro do PSD/cavaquismo e amiga dos chegas, logo se
disponibilizou para oferecer mão-de-obra ainda mais barata do que a oferecida
pelas empresas de trabalho temporário (negreiro). Se em Janeiro colocou alguma
reticência ao trabalho à borla, em Abril, no dia 1 (nem sempre é dia das
mentiras!), já era firme na opinião: os enfermeiros “estão sempre disponíveis
para o país”! E mais, “muitos elementos ligados à instituição se mostraram
receptivos a integrar o processo de vacinação em regime de pro bono”.
Como estávamos a dizer,
no início do ano, o governo preparou o caminho, apalpando terreno aqui e ali, tendo
logo obtido a garantia de poder recorrer ao corpo de enfermeiros criado em regime pro bono
pela Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), para… ajudar na vacinação contra a
covid-19. Disponibilidade a que não será estranho o negócio
de milhões de euros dos testes rápidos da covid-19 contratado pelo governo
àquela organização dita “humanitária”, cujo presidente é um “aposentado” com uma
reforma de perto de 7 mil euros e que não deverá rejeitar alguma possível e descuidada
comissão pelas negociatas.
E a
nossa bastonária que, ao princípio tão esquisita (o que, entretanto, se terá passado
para mudar tão radicalmente de opinião?) e agora tão solícita, chegando ao
ponto de lançar um inquérito on-line que de imediato angariou 9.366 enfermeiros
voluntários, 8.956 para trabalhar extra-horário e 410 desempregados. E ainda fez
questão de ressalvar que no Verão sairiam das escolas mais 3.000 enfermeiros dispostos,
eventualmente, a serem escravos. Como se constata, as empresas de trabalho
temporário (que as administrações das instituições do SNS gostam muito de
contratar, lá saberão porquê!) nem serão os piores no meio disto tudo.
Com
sindicatos, ordens profissionais (a dos médicos foi a primeira a dar o tom) e
partidos da oposição, tanto à direita como à esquerda (o último foi o bronco dirigente
do PCP a exortar a maior rapidez da vacinação devido à nega da Grã-Bretanha à
livre circulação de turistas para Portugal), o governo do senhor Costa não pode
alegar dificuldades no processo de ensaio de vacinas que ainda se encontram em
fase de teste, e nem as grandes farmacêuticas se poderão queixar do chorudo
negócio que estão a fazer à custa do incauto e crédulo Zé Povinho.
Claro
que, é tudo a bem da saúde dos portugueses; antigamente, era a bem da Nação!
PS:
Uma
pergunta: por que é que os profissionais do SNS não são testados em massa, à
semelhança da população em geral?
Uma informação:
tem acontecido reacções adversas graves em profissionais do SNS em consequência
da vacinação, incluindo enfermeiros, como aconteceu ainda há pouco com uma
enfermeira do CHUC (e ao marido), sem que haja divulgação por parte da DGS ou
dos media domesticados por 15 milhões de euros.
Uma sugestão: Os enfermeiros, nomeadamente os precários, têm agora uma excelente oportunidade para mostrar a sua força, fazendo greve para melhor e uniformizada remuneração e imediata efectivação, contando para isso com organização autónoma de comissões de greve, livremente eleitas e livremente revogáveis.
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