Teles de Araújo
De facto temos
anualmente um número de casos de pneumonia que ultrapassa os 150.000 e que
motivam mais de 40.000 internamentos, dos quais resultam mais de 400.000 dias
de internamento (dados da ACSS e da DGS).
A gravidade da
situação é ainda sublinhada pelos dados divulgados pela Comunidade Europeia,
onde se constata que nos 28 países a mortalidade média por pneumonia é de 13,0
por 100.000 habitantes, ao passo que em Portugal é de 26,6 por 100.000 (só
ultrapassada pelo Reino Unido e Eslováquia). Dito doutra forma: por dia morrem cerca de 15 portugueses
com pneumonia.
As formas mais graves
de pneumonia ocorrem em doentes internados e entre eles 1 em cada 5 morrem por
esta causa.
Mais, nem o número de
internamentos por pneumonia, nem o número de óbitos têm diminuído. Antes pelo
contrário os números mostram, em 10 anos, uma tendência para se agravarem: os
óbitos aumentaram 16,7% e os internamentos 14,1%.
Esta situação terá
certamente múltiplas causas, para além do envelhecimento da população. É uma
realidade gritante que não pode ser negada e que impõe a definição de novas
estratégias de combate a esta situação.
A maioria das
pneumonias são causadas pelo pneumococo, bactéria contra a qual existe vacina
eficaz, que ainda não faz parte do Plano Nacional de Vacinação. Estudos noutros
países demonstraram que a vacinação contra o pneumococo não só impede a doença
pneumocócica na criança como reduz esse reservatório da bactéria, diminuindo, a
prazo, a doença no adulto. A Fundação tem defendido junto das entidades de
saúde e da Assembleia da República a inclusão da vacina no Plano Nacional de
Vacinação e a comparticipação alargada, ou mesmo gratuitidade, para os
indivíduos com mais de 50 anos ou sofrendo de doenças crónicas ou que
condicionem depressão da imunidade.
Certamente que a
existência de resistências aos antibióticos será importante para esta situação.
Será necessário que todos se convençam que o uso destes importantes fármacos
deve ser reservado às infecções por bactérias e que devem ser usados correctamente.
As pneumonias são um
problema grave nos doentes internados. Há que reforçar as medidas de controle
da infecção dentro dos hospitais, com o empenhamento de todos os profissionais
de saúde.
Tão elevada mortalidade
intra-hospitalar por pneumonia sugere que muitos casos poderão chegar
tardiamente aos hospitais. Contudo existem critérios clínicos que permitem
aferir a potencial gravidade da doença e que todos os médicos devem utilizar.
Para os doentes com esses critérios poderá haver vantagens na criação duma
linha prioritária de acesso a cuidados hospitalares, em serviços habilitados
para os tratarem.
É pois urgente definir
um conjunto de medidas e de estratégias que permitam minimizar o problema das
pneumonias em Portugal.
Original em Fundação Portuguesa do Pulmão
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