quinta-feira, 29 de março de 2012

Ainda a adesão à Greve Geral do dia 22 de Março

Piquete de Greve no Hospital de Kilkis, ocupado pelos trabalhadores, na Grécia (claro!)

Pode dizer-se, sem margem para demagogia, que a adesão à Greve Geral do dia 22 de Março foi grande e os trabalhadores que aderiram expressaram um excelente espírito de luta.

A prova de que a Greve Geral teve repercussão mede-se pela sanha repressiva sobre os manifestantes, ocultação de taxa de adesão nas empresas e sectores onde se esperava que haveria uma maior participação, ataques aos poucos piquetes a fim de permitir o trabalho aos fura-greves e campanha de desinformação e de alarmismo levada a cabo pelos órgãos de informação (mais correctamente de propaganda) mais próximos do governo, que previam a subversão e o caos para este dia.

Natural que a taxa de adesão não tivesse sido igual em todos os sectores de actividade: maior entre os trabalhadores da administração e empresarial do estado e menor entre os do privado, mas que irão em breve demonstrar a sua revolta em consequência da alteração do Código do Trabalho a ser aprovado, neste momento, na Assembleia da Republica. É natural que, no sector do estado, a adesão à Greve Geral fosse menor nos sectores da saúde e nas escolas, e por razões óbvias.

Os médicos irão ver aprovada, ao contrário dos enfermeiros, uma melhoria substancial dos seus vencimentos, e, devido à sua situação de classe próxima da base social de apoio do governo, não iriam sentir grande entusiasmo para uma forte adesão. Os enfermeiros, que já deveriam ter mais motivação para a greve, encontram-se ainda na ressaca da derrota da luta que travaram recentemente pela nova carreira e por uma grelha salarial digna e correspondente às suas funções e formação profissional e académica. Esta derrota, e é aqui que se deve encontrar as verdadeiras razões da sua desmotivação, deveu-se não só à intransigência do anterior governo PS/Sócrates, mas essencialmente à desistência e traição das direcções sindicais (que, por sua vez, explicam aquela intransigência) que ficaram presas às agendas dos partidos que as controlam. O mesmo sucedeu com os professores que, com mais razões de queixa, entenderam que esta não era a altura da sua luta. Este cálculo errado dos tempos de luta por parte de cada sector profissional específico deve-se, de igual modo, à forma como as lutas foram encaradas por esses sectores em relação ao restante movimento sindical: um tradicional isolamento e um cobarde apoliticismo.

Em relação aos enfermeiros não deixa de ser curioso observar alguém, que fez o mal e agora pretender fazer a caramunha, responsabilizar os enfermeiros pela fraca adesão (menos de 40%, isto é, menos de metade das grandes greves de 2010), considerando-os uns ingratos pelo “bem” conquistado pelos sindicatos e, por esse facto, não merecedores de beneficiar dessas “conquistas alcançadas”.

Ora, deve-se relembrar ao bloguista do SEP, que defende estas alarvidades, que essas “conquistas” foram uma carreira pior do que a anterior e uma grelha salarial que coloca os enfermeiros a ganhar ainda menos, do que ganhariam caso a antiga carreira fosse descongelada, e muito aquém de um normal licenciado na Função Pública, e que as únicas “conquistas” de que se pode gabar são os subsídios para as chefias (200 euros para os chefes e 300 euros para os supervisores), dando a impressão de que estes sindicatos são apenas sindicatos dos chefes e dos reformados.

Para medir bem da política destas direcções sindicais, deve-se esclarecer que o SEP, o maior de todos, já teve mais de 20 mil enfermeiros e agora pouco mais de 17 mil. Nas últimas eleições para os ditos “corpos gerentes dos órgãos nacionais” votaram 2524 enfermeiros e destes 2350 votaram na lista única. Votação semelhante aconteceu para as direcções regionais, que se realizaram ao mesmo tempo, depois da direcção nacional ter prorrogado o mandato por mais um ano e ter alterado os estatutos em assembleia fantoche realizada na sede nacional em Lisboa. Não será preciso dizer que a lista A é a perpetuação da anterior direcção.

Não é novidade para ninguém que, para não ser ilegalizado após o 25 de Novembro de 1975, o PCP teve que assumir o seu papel de polícia do movimento sindical, papel de que pretende ter a exclusividade, razão por que dirigentes dos “Precários Inflexíveis” levaram no toutiço às portas de S. Bento quando quiseram juntar-se à manifestação da CGTP. A própria convocação da Greve Geral foi feita porque houve pressões nesse sentido pelas lutas dos trabalhadores (transportes) e outras organizações que estão a ter um protagonismo cada vez maior e concorrencial àquela central sindical. E antes que a panela de pressão do descontentamento social estoirasse, houve que aliviar a válvula, é assim que se pode entender as atitudes da CGTP – contra quem o BE não dirige as suas críticas mas somente contra alguns dos seus militantes (funcionários) mais exaltados e zelosos.

Para além das agendas políticas das direcções sindicais e das reais motivações que fazem correr e praguejar alguns dos nossos queridos dirigentes sindicais, novas Greves Gerais se realizarão e lutas mais duras se encontram na calha, como resposta à política de maior austeridade, previsível pelo próximo Orçamento Rectificativo e inevitável recessão económica, com o objectivo principal de derrubamento do actual governo PSD/CDS-Comité de Negócios da Troika (única forma de mudarmos de política).

Nota: deitar abaixo governos anti-populares, verdadeiros inimigos dos trabalhadores, é coisa que sempre desagradou aos nossos queridos dirigentes sindicais, por que será?

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