sábado, 29 de setembro de 2018

Burnout: um terço dos inquiridos em risco


Deco-proteste, Fátima Ramos

«Um inquérito a 1146 portugueses revela que três em cada 10 estão em risco de burnout, expressão normalmente traduzida por esgotamento profissional.


Quem está muito insatisfeito com o seu trabalho, os que, não estando satisfeitos nem insatisfeitos, sentem pouco ou nenhum apoio dos superiores hierárquicos em situações de stresse laboral e, em particular, as mulheres são os grupos em maior risco de burnout, segundo o nosso inquérito a 1146 trabalhadores portugueses, realizado entre janeiro e fevereiro de 2018. Os resultados respeitam maioritariamente a trabalhadores por conta de outrem, com contrato de trabalho a termo certo ou incerto. 

burnout, que pode ser traduzido por esgotamento físico e mental, resulta do stresse crónico mal gerido associado ao trabalho. Caracteriza-se por uma grande falta de energia ou exaustão, distanciamento mental face à atividade profissional e sentimentos negativos ou de cinismo relativamente ao próprio trabalho, bem como perda de eficiência no trabalho.
As respostas ao nosso inquérito revelam que os profissionais em maior risco de desenvolver a chamada síndrome de burnout são empregados de lojas e supermercados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o stresse profissional poderá surgir quando as exigências profissionais são desajustadas dos conhecimentos e capacidades do trabalhador. Em geral, a situação piora quando o profissional julga não controlar o processo de trabalho e quando sente pouco apoio dos superiores hierárquicos ou dos colegas. No nosso estudo, cerca de metade dos inquiridos queixou-se precisamente da falta de apoio dos supervisores em situações de stresse e um quarto, dos colegas. Atividades monótonas, ambientes de trabalho caóticos, falta de apoio social e desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional são outros fatores que potenciam o stresse laboral, muitas vezes, associado a absentismo e à mudança de emprego.

Dos inquiridos, 8% faltaram ao trabalho em média 12 dias no último ano, devido ao stresse. A percentagem de mulheres nesta situação (10%) é quase o dobro da dos homens e a dos trabalhadores do setor público (15%), três vezes superior à dos empregados do privado. 

Estas faltas prejudicam a carreira, no entender de cerca de dois terços dos que nos responderam. Mas permanecer no local de trabalho pode não ser mais vantajoso: o indivíduo tende a tornar-se menos produtivo e menos eficaz, e a satisfação com o trabalho, bem como o envolvimento com a organização, diminuem.


De insatisfeitos a exaustos


Com a atual organização da sociedade, é praticamente impossível imaginar um local de trabalho sem pressão. Esta entra na grande maioria dos ambientes profissionais, podendo variar de intensidade, consoante a função. Em níveis aceitáveis, pode contribuir para manter os trabalhadores em alerta, motivados e com vontade de aprender. Contudo, quando a pressão se torna excessiva, difícil de gerir e se prolonga no tempo, pode transformar-se em stresse crónico, e afetar a vida pessoal e familiar, a saúde e, claro, o desempenho profissional. Se a pessoa não gostar do que faz, sentir que tem demasiado trabalho, é mal recompensada (financeiramente ou não) ou injustiçada, a pressão aumenta e o burnout surge no horizonte.

A maioria dos inquiridos que indiciaram estar em risco de desenvolver esta síndrome confessa-se globalmente muito insatisfeita com o trabalho. De entre as explicações para o descontentamento, destacam-se o conteúdo das próprias funções, que os trabalhadores vislumbram como (im)possibilidades de progressão na carreira, e a (má) relação com os superiores hierárquicos.

Em 77% dos casos, os inquiridos são trabalhadores ditos efetivos, isto é, com contrato a termo incerto, e três quartos trabalham total ou parcialmente na área em que se especializaram em termos profissionais ou académicos. Dos que têm formação superior, 81% exercem funções na sua área de especialização. Contudo, no geral, só 37% de todos os que nos responderam estão muito satisfeitos com aquilo que fazem. Neste caso, 15% manifestam sinais de esgotamento (no grupo dos muito insatisfeitos, são 64 por cento).

A diferença entre trabalhar ou não na área de especialização parece não se refletir nos números do burnout: 30% dos que exercem funções na sua área estão em risco, contra 33% dos que não o fazem.»

Imagens e Texto completo em Deco Proteste

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