Deco-proteste, Fátima Ramos
«Um
inquérito a 1146 portugueses revela que três em cada 10 estão em
risco de burnout, expressão normalmente traduzida por esgotamento
profissional.
Quem
está muito insatisfeito com o seu trabalho, os que, não estando
satisfeitos nem insatisfeitos, sentem pouco ou nenhum apoio dos
superiores hierárquicos em situações de stresse
laboral e,
em particular, as mulheres são os grupos em maior risco de burnout,
segundo o nosso inquérito a 1146 trabalhadores portugueses,
realizado entre janeiro e fevereiro de 2018. Os resultados respeitam
maioritariamente a trabalhadores por conta de outrem, com contrato de
trabalho a termo certo ou incerto.
O burnout,
que pode ser traduzido por esgotamento
físico e mental,
resulta do stresse crónico mal gerido associado ao trabalho.
Caracteriza-se por uma grande falta de energia ou exaustão,
distanciamento mental face à atividade profissional e sentimentos
negativos ou de cinismo relativamente ao próprio trabalho, bem como
perda de eficiência no trabalho.
As
respostas ao nosso inquérito revelam que os profissionais em maior
risco de desenvolver a chamada síndrome de burnout são
empregados de lojas e supermercados.
Segundo
a Organização Mundial da Saúde, o stresse
profissional poderá
surgir quando as exigências profissionais são desajustadas dos
conhecimentos e capacidades do trabalhador. Em geral, a situação
piora quando o profissional julga não controlar o processo de
trabalho e quando sente pouco apoio dos superiores hierárquicos ou
dos colegas. No nosso estudo, cerca de metade dos inquiridos
queixou-se precisamente da falta de apoio dos supervisores em
situações de stresse e um quarto, dos colegas. Atividades
monótonas, ambientes de trabalho caóticos, falta de apoio social e
desequilíbrio entre a vida
pessoal e profissional são
outros fatores que potenciam o stresse laboral, muitas vezes,
associado a absentismo e à mudança de emprego.
Dos
inquiridos, 8% faltaram ao trabalho em média 12 dias no último ano,
devido ao stresse. A percentagem de mulheres nesta situação (10%) é
quase o dobro da dos homens e a dos trabalhadores do setor público
(15%), três vezes superior à dos empregados do privado.
Estas
faltas prejudicam a carreira, no entender de cerca de dois terços
dos que nos responderam. Mas permanecer no local de trabalho pode não
ser mais vantajoso: o indivíduo tende a tornar-se menos
produtivo e menos eficaz, e a satisfação com o trabalho, bem como o
envolvimento com a organização, diminuem.
De insatisfeitos a exaustos
Com
a atual organização da sociedade, é praticamente impossível
imaginar um local de trabalho sem pressão. Esta entra na grande
maioria dos ambientes profissionais, podendo variar de intensidade,
consoante a função. Em níveis aceitáveis, pode contribuir para
manter os trabalhadores em alerta, motivados e com vontade de
aprender. Contudo, quando a pressão se torna excessiva, difícil de
gerir e se prolonga no tempo, pode transformar-se em stresse crónico,
e afetar a vida pessoal e familiar, a saúde e, claro, o desempenho
profissional.
Se a pessoa não gostar do que faz, sentir que tem demasiado
trabalho, é mal recompensada (financeiramente ou não) ou
injustiçada, a pressão aumenta e o burnout surge
no horizonte.
A
maioria dos inquiridos que indiciaram estar em risco de desenvolver
esta síndrome confessa-se globalmente muito insatisfeita com o
trabalho. De entre as explicações para o descontentamento,
destacam-se o conteúdo das próprias funções, que os trabalhadores
vislumbram como (im)possibilidades de progressão na carreira, e a
(má) relação com os superiores hierárquicos.
Em 77% dos casos, os inquiridos são trabalhadores ditos efetivos, isto é, com contrato a termo incerto, e três quartos trabalham total ou parcialmente na área em que se especializaram em termos profissionais ou académicos. Dos que têm formação superior, 81% exercem funções na sua área de especialização. Contudo, no geral, só 37% de todos os que nos responderam estão muito satisfeitos com aquilo que fazem. Neste caso, 15% manifestam sinais de esgotamento (no grupo dos muito insatisfeitos, são 64 por cento).
A
diferença entre trabalhar ou não na área de especialização
parece não se refletir nos números do burnout: 30% dos que exercem
funções na sua área estão em risco, contra 33% dos que não o
fazem.»
Sem comentários:
Enviar um comentário