«A
Estação Primeira de Mangueira conquistou, nesta quarta-feira (6), o
vigésimo título de sua história no carnaval do Rio de Janeiro.
Fundada em abril de 1928, no Morro da Mangueira, próximo à região
do Maracanã, a escola levou à Sapucaí o samba-enredo “História
pra ninar gente grande” na última segunda-feira (4). A ideia era
contar a trajetória de heróis negros e índios esquecidos dos
livros e não mencionados na história oficial do Brasil.
O
enredo foi assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira e contado em 24
alas e cinco alegorias. Na primeira entrevista depois da vitória,
Vieira mandou um recado a Jair Bolsonaro (PSL), que tentou
desqualificar o carnaval 2019 com um vídeo publicado no Twitter na
última terça-feira (5): “Essa vitória é um recado para o
presidente. Carnaval não é o que ele acha que é. Carnaval é isso
aqui, é a festa do povo, da cultura”.
Com
3,5 mil integrantes, a escola apresentou heróis como o guerreiro
Sepé Tiaraju, que tentou evitar o massacre dos guaranis pelas tropas
portuguesas e espanholas. A Mangueira também homenageou a trajetória
de líderes como Luis Gama, advogado abolicionista, Luisa Mahin,
ativista participante da revolta dos Malês, e Dandara, líder
quilombola esposa de Zumbi dos Palmares, além de tratar de temas
como as revoltas indígenas.
Ao
longo do desfile, os carros trouxeram frases como “Ditadura
Assassina”, mostraram ex-presidentes como Floriano Peixoto pisando
em cadáveres e apresentaram os bandeirantes como gananciosos que
mataram e escravizaram índios em busca de ouro (em vez da imagem de
desbravadores que consta nos livros escolares).
Em
seguida, a Mangueira lembrou a vereadora Marielle Franco (PSOL),
assassinada há cerca de um ano, cujas investigações seguem sem
solução. Além de citar o nome dela no samba, uma das últimas alas
trouxe diversas bandeiras com o rosto da vereadora em verde e rosa. A
arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, esteve presente na
passarela, usando uma camiseta com os dizeres “Lute como Marielle”.
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador Tarcísio Motta
(PSOL) também participaram do desfile.
Um
dos destaques da escola foi a bateria que levantou o público ao
utilizar instrumentos característicos de religiões de matriz
africana. A ação foi pensada não apenas pela sonoridade, mas para
explicitar, mais uma vez, o tom político e social do desfile de
2019, buscando valorizar a cultura afro e criticar o preconceito
contra as religiões afrodescendentes.
Viradouro,
Vila Isabel, Portela, Salgueiro e Mocidade se unem à Mangueira no
próximo sábado (9) para o Desfile das Campeãs. As escolas
Imperatriz Leopoldinense e Império Serrano foram rebaixadas e
tentarão retornar ao grupo especial no ano que vem.
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