quinta-feira, 3 de março de 2016

As boutades da bastonária Rita Cavaco



Pode parecer mentira mas é verdade, muitos enfermeiros só ficaram a saber quem era e como se chamava a bastonária da ordem que controla a profissão e a classe depois de estoirar a polémica devido às palavras sobre a presumível realização de eutanásia nos hospitais públicos portugueses. A mulher dá pelo nome de Rita Cavaco, não sabemos se é alguma coisa ao ainda ocupante do Palácio de Belém, que irá ficar como o presidente mais impopular e odiado da democracia pós 25 de Abril, de certeza que quanto às ideias serão mais que próximos. O facto de pertencer ao conselho nacional do PSD, o partido que mais tem atacado o SNS, e de ter sido adjunta do ex-secretário de Estado da Saúde Carlos Martins no Governo de Durão Barroso fala por si.

Quanto às palavras da bastonária, foram interpretadas como tivesse dito que a eutanásia era prática comum no SNS, levaram às mais veementes reacções, desde o bastonário da Ordem dos Médicos, Governo, Assembleia da República, que por sua vez levaram à intervenção da Inspecção Geral das Actividades em Saúde e Ministério Público, aos comentários diversos de toda a sorte de comentadores políticos da nossa praça. Ora, a mulher disse apenas que ouviu a médicos "sugerir" a prática da eutanásia e, posteriormente, facilmente lhe foi possível "esclarecer" as palavras mal interpretadas por nunca "ter visto", parecendo que estamos perante uma encenação previamente montada para levar à notoriedade. Terá sido isto que aconteceu, atendendo aos antecedentes da dita, para além do ataque ao médicos e enfermeiros do SNS, que o incontornável Miguel de Sousa Tavares não deixou de aproveitar para dizer que, enquanto a vida é encurtada no SNS, se procede ao contrário no privado, isto é, prolongar a vida de forma artificial e por vezes eventualmente indesejável.

Se a intenção era ser conhecida e comentada, a bastonária conseguiu os seus intentos, como parece levar a melhor nas suas contrariedades em subir na vida. Após ter sido condenada a um mês de suspensão por alegada falsificação da folha de ponto do centro de saúde onde trabalhava (terá faltado durante três semanas e terá assinado a folha, tendo sido acusada por uma colega), recorreu do castigo e avançou com pedido de indemnização de 20 mil euros conta o Estado com base no argumento de que estava a ser vítima de perseguição por parte do presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, companheiro de partido e do mesmo órgão dirigente. Se levar a dela avante, teremos de reconhecer que habilidade não lhe falta.

Para se perceber bem o que se passa pela ordem, deve-se salientar que esta bastonária foi eleita por 4509 votos à 2ª volta, tendo obtido 6330 na primeira, enquanto a direcção nacional obteve 6183, num universo de 67916 enfermeiros, ou seja, 9%; daí a razão pela qual muitos enfermeiros, antes de rebentar a polémica, desconhecerem a bastonária. Claro que houve várias listas concorrentes às eleições de Dezembro passado, 7 (!) ao todo, mais que muitas, parece que o lugar é particular apetecível. Contudo, poderá dizer-se que não votou quem não quis, mas as razões são outras. A grande maioria dos enfermeiros não se reconhece na ordem, e mais ainda, não acha que tal órgão tenha alguma utilidade de monta para a classe; a ordem é vista como mais uma empresa que movimenta muito dinheiro e local para destaque para quem não aprecia muito as agruras do trabalho do dia a dia da enfermaria, e um instrumento de controlo da classe. Não se percebe que um enfermeiro desempregado tenha que pagar as quotas e, acima de tudo, seja obrigado a estar inscrito, especialmente os enfermeir@s que já o eram antes da ordem surgir. Antes, era o Estado, agora, são uns quantos que se arvoram em polícias dos colegas, o Estado agradece, fica-lhe mais barato e livra-se do ónus da tarefa.

Mais que gafes, as tiradas de Rita Cavaco, membro do conselho nacional do PSD, são autênticas boutades para auto-promoção, a mulher tem futuro, já antes de ter tomado posse foi convidada para o programa dos Prós & Contras (melhor dizendo, Prós & Prós), não se sabendo em que qualidade, não podia ser outra senão como dirigente do PSD, e a única coisa que disse era que havia falta de enfermeiros (realidade que qualquer cidadão conhece, por vezes por experiência própria quando se depara com a degradação do SNS!); frase repetida agora aquando da sua inquirição pela Inspecção, fugindo, como não podia deixar de ser, ao tema que gerou toda a polémica. É mesmo para se dizer (como o outro): a tia de Cascais está a bombar!

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