sábado, 22 de novembro de 2014

As lamentações do ministro



O ministro da Saúde, ou melhor, o comissário para a liquidação do SNS, classificou de “lamentável” a greve nacional dos enfermeiros que, neste segundo dia, teve uma adesão superior, 80% contra 70% do primeiro dia (14 de Novembro), salientando a ideia da “banalização da greve” como se esta não tivesse razão de ser e não fosse a resposta à banalização das medidas de austeridade lançadas contra a classe dos enfermeiros. Esta demagogia, difundida amplamente pelos órgãos de informação corporativos do regime, engloba o “combate” travado pelo governo contra o surto de pneumonia por legionella, como se também o governo não fosse, em última estância, o primeiro responsável pelo considerado terceiro surto mais grave a nível mundial daquela doença infecto-contagiosa, combate que teria sido prejudicado pela greve dos enfermeiros. O surto epidémico foi mais um pretexto para atacar a greve dos enfermeiros e para auto-desculpabilização do não atendimento das reivindicações, mais que sentidas e justas, dos enfermeiros.

A revogação da medida que levou ao aumento do horário das 35 horas para as 40 horas semanais não é – nas palavras do ministro das lamentações – da competência do ministério da Saúde, mas por esta lógica, atendendo à posição de indiferença ministerial, pouco ou nada das questões apresentadas no caderno reivindicativo apresentado pelos sindicatos será da competência do ministério. A arrogância é indisfarçável apesar dos factos ocorridos ultimamente que implicam altos quadros da administração pública de nomeação governamental, e até o próprio ministro da Administração Interna que foi obrigado a demitir-se, no maior caso de corrupção visto até agora em Portugal (os Vistos Gold tão queridos ao vice-primeiro-ministro).

O governo mais corrupto que o país teve depois do 25 de Abril, e até antes do 25 de Abril, e que se vai desfazendo aos poucos ainda tem força para mostrar os dentes pela simples razão de que os partidos da oposição e as lutas travadas pelos trabalhadores são demasiado complacentes. A culpa da sobrevivência deste odiado governo não deve ser atribuída unicamente à múmia que se encontra instalada no Palácio de Belém. Nós também somos responsáveis, porque conciliamos e não nos dispomos a travar um combate prolongado e tenaz até extirpar a causa dos nossos problemas.

Não podemos ter ilusões quanto a este governo venha a satisfazer a menor das nossas reivindicações e, ainda por cima, com os sindicatos em teimar ir beber chá ao nº 9 da Avenida João Crisóstomo, em Lisboa, como no tempo da anterior ministra do governo PS. É continuar a enganar a classe quanto a alguma hipotética virtualidade do governo. E, mais, os sindicatos acabarão por dar razão ao ministro das lamentações porque greves de dois dias, um em cada semana, serão completamente ineficazes.

Este governo só tem atacado os direitos dos trabalhadores, a sua política é cortar, cortar e cortar ainda mais salários e reformas, é aumentar os impostos e, agora, como está previsto no Orçamento de 2015, despedir sob a falsa capa da “requalificação profissional”; desemprego que – quem diria! – atingirá os próprios médicos, classe tida tradicionalmente como privilegiada. Gostaríamos de perguntar aos sindicatos o que de bom o governo PSD/CDS-PP deu aos trabalhadores e, em particular, aos enfermeiros? Que saibamos, NADA!

Este governo não vai lá com panos quentes e só conhece uma linguagem: luta dura e prolongada, onde se inclui a greve geral pelo tempo e pelas vezes necessárias até ao seu derrube. Tudo o mais será andar a entreter, o que, diga-se de passagem, o governo agradece, porque entretanto vai lançando mais austeridade.

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