sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Só 20% dos enfermeiros têm especialidade e não são contratados como tal



Segundo o responsável, os enfermeiros especialistas são os primeiros a emigrar à procura de uma melhor situação profissional, pois recebem “condições de excelência noutros países”

Apenas 20% dos enfermeiros portugueses são especialistas e destes a maioria emigra, porque as instituições de saúde em Portugal não valorizam a formação e contratam-nos com categoria e rendimento igual aos não especializados.

A informação foi dada à Lusa pelo coordenador da Unidade de Ensino de Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa, Sérgio Deodato, a propósito do encontro de um grupo de peritos que decorre hoje para debater o futuro das especialidades de enfermagem em Portugal.

Segundo o responsável, os enfermeiros especialistas são os primeiros a emigrar à procura de uma melhor situação profissional, pois recebem “condições de excelência noutros países”.

“Não temos o número de especialistas necessário. Temos conhecimento científico e tecnológico avançado em muitas áreas, como os cuidados intensivos e a oncologia, mas depois não existem enfermeiros formados para os usar”, afirmou, acrescentando que estes meios ficam subaproveitados porque são utilizados por enfermeiros de cuidados gerais, sem especialização.

Citando dados da Ordem dos Enfermeiros, Sérgio Deodato afirmou que 80% dos enfermeiros não têm especialidade.

“Com a crise, os enfermeiros ficam com formação, com grau académico de mestre, e depois chegam às instituições de saúde e não são contratados como tal, mas como eram (cuidados gerais). O principal empregador é o Estado e as razões são económicas e financeiras. É profundamente injusto, enfermeiros a prestar cuidados especializados com a categoria e o rendimento igual ao que tinham”, considerou.

A este problema acresce outro que é o fim das dispensas no Serviço Nacional de Saúde para fazer formação.

Hoje os enfermeiros não são dispensados para fazer a especialidade, situação agravada pelo alargamento do horário de trabalho para as 40 horas semanais, que os deixa com pouco tempo livre e extremo cansaço para ainda fazerem formação.

“Se este esforço não é reconhecido posteriormente, os enfermeiros acabam por achar que não vale a pena o investimento, de tempo e financeiro”, lamentou o responsável, sublinhando que quem perde são os utentes, que têm tecnologia e conhecimento científico ao seu dispor, mas que não é utilizado por falta de profissionais especializados.

Retirado daqui

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