quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Morram cedo e não dêem despesa!

Henricartoon

Ainda nos lembramos de Manuela Ferreira Leite e do sociólogo António Barreto, agora empregado do grande merceeiro do Pingo Doce, terem questionado se valeria a pena pagar os tratamentos mais caros a quem tivesse mais de 70 anos, o que gerou de imediato a maior das indignações no seio da opinião pública. Contudo, o governo não desiste da sua política de poupar à custa da vida humana e a saga continua: Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, vem fazer o frete ao governo afirmando que o racionamento de tratamentos é legítimo e deve ser feito, ou seja, “não é possível, em termos de cuidados de saúde, todos terem acesso a tudo", e mais disse: "Será que mais dois meses de vida, independentemente dessa qualidade de vida, justificam uma terapêutica de 50 mil, 100 mil ou 200 mil euros?”

Miguel Oliveira da Silva, que se intitula médico, perante o coro de protesto, sentiu a necessidade explicar melhor as suas palavras, esclarecendo sobre o significado palavra “racionamento”, no entanto, nem se demitiu, nem explicou como se faria a selecção dos doentes, se pela simpatia pessoal, se pelo cartão do partido, pelo credo religioso, ou pela etnia, etc.. Sabe-se que este tipo de medicina curativa, ou modelo biomédico, assenta na utilização intensiva dos medicamentos e dos exames complementares de diagnóstico e no acto médico, e que estes procedimentos são fonte de chorudos lucros e para que estes se mantenham e cresçam deve haver sempre doentes, só que há um limiar e esse limiar é quando as pessoas começam a dar prejuízo aos diversos comerciantes da saúde e ao estado. Quando isto acontece, então é melhor morrerem. Pois, é exactamente esta a política prosseguida por este governo, tendo como protagonista um ministro que só vê cifrões, aliás esta política já vem do tempo dos governos de Cavaco Silva, foi mantida pelos governos do PS e agora rematada por este governo cripto-fascista.

Transcreve-se a missiva de indignação endereçada ao blog “a educação do meu umbigo” por um cidadão que soube o que foi estar doente; é demasiado eloquente:

Visitei hoje o seu “blog”, e ocorre transmitir-lhe algumas considerações. Fui doente de cancro (não sei o motivo de alguns se desviarem desta nomenclatura) e lá me safei. Da minha boca, nada se ouviu durante aquele largo (muito largo, o tempo muda relativisticamente nessas ocasiões) período. A muitas coisas assisti, que mesmo certos fulanos (até médicos) nunca perceberam (aqueles, recém-chegados que eram aos serviços). Estes pareceres (se assim se podem chamar…) são muito lindos, por parte desse “Conselho” de qualquer “coisa”… mas a razão última a ponderar, diria sarcasticamente e de forma filosófica, é que tal parecer enferma e tresanda a razões para a prática da eutanásia. No caso de, por exemplo, uma deflagação de um engenho nuclear, é dos livros, que se marque (na testa) e atente, aos passíveis de sobrevivência e aos não passíveis de sobrevivência. Tecer tais considerações, dentro de situações de vivência “normal”, sem nenhum cataclismo eminente, ressuma a práticas de eutanásia, dignos do Castelo de Hartheim. Nunca pedi para viver, e tudo aceitei. Aceitei e aceito morrer, mas não aceito que se condene à morte, os “colegas” que lutaram e lutam pela vida. Para este assunto, minha muito pobre verborreia em pouco pode contribuir, mas, mais não sendo, sempre tenho a esperança que esses “senhores”, venham igualmente a serem “colegas” de “infortúnio”. (sempre vamos dizendo, enganados, que já ouvimos tudo…afinal, não, ainda temos mais para ouvir). Que a sorte que eu tive, lhes sorria igualmente. Mas podem sempre, segundo a opinião expressa agora, optar por fazerem a “passagem” mais cedo, ou perderem, de forma simples, a esperança. Isto para não comentar que não mencionam a qualidade “da passagem”, isto é, a “passagem” com o menor sofrimento possível. Encontrar-nos-emos no outro lado. Ou não.

L. C.

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