terça-feira, 22 de maio de 2012

Sistema de saúde “estagnado” para os privados prosperarem



Na putativa “cidade da saúde”, abriu as portas o maior hospital privado da região centro e, por mera coincidência, foi anunciado o encerramento do serviço de urgências do público Hospital dos Covões durante o período noturno, das 20 horas às 9, para o próximo dia 28 de Maio (uma data querida para as forças fascistas deste país), cujos utentes passarão a ser encaminhados para o Hospital Novo (HUC dos CHUC). E, também, por simples coincidência, encontra-se situado nas proximidades dos HUC e será conhecido por uma sigla muito semelhante: UHC (Unidade Hospitalar de Coimbra-Idealmed).

No entanto, a Health Consumer Powerhouse, no seu relatório recente, situa Portugal em 25º lugar, lançando-o para quatro posições abaixo de 2009, quanto ao seu Sistema Nacional de Saúde, devido às longas esperas para consultas e cirurgias, redução da comparticipação de medicamentos, dificuldade em marcar consulta no próprio dia e dificuldade no acesso a fármacos inovadores. Ou seja, “Portugal estagnou enquanto outros países melhoraram – é assim que se perdem posições em qualquer classificação comparativa”, lê-se na parte do relatório dedicada ao nosso país.

A título de curiosidade, deve dizer-se que a edição deste ano o índice é liderado pela Holanda, que conseguiu reunir 872 pontos de um total de 1000, num somatório de 42 indicadores. Segue-se a Dinamarca (822), a Islândia (799) Luxemburgo (791) e Bélgica (783). Na cauda da lista, depois de Portugal, que conseguiu 589 pontos, surge a Lituânia, Polónia, Hungria, Albânia, Macedónia, Letónia, Roménia, Bulgária e Sérvia, o que faz com que, ao nível da União Europeia, Portugal seja o sétimo com pior prestação. É natural que assim seja, para dar mercado aos grupos económicos privados que decidiram investir no negócio do século, o SNS tem mesmo que estagnar ou, melhor ainda, de fechar portas. No caso, será reduzido a um serviço residual de caracter assistencialista, como praticamente acontecia antes do 25 de Abril.

O aumento das taxas moderadoras para montantes proibitivos para a bolsa de muitos portugueses – nomeadamente idosos que são os cidadãos com rendimentos mais baixos – facilitou o caminho para cada vez mais os cidadãos ocorram ao serviços oferecidos pelos hospitais privados que, para poderem oferecer preços mais baixos, já estão a ser financiados pelo Estado. E como, em tempo de vacas magras, será completamente impossível ao Estado poder financiar dois sistemas saúde, claro que a opção é privilegiar o privado em detrimento do SNS. É o que está a acontecer. Em Coimbra, a seguir às urgências serão as maternidades que, ou fecharão as duas, ou ficará só uma arrumada a um canto do Hospital Novo.

Estamos a assistir ao culminar da execução de um plano que foi iniciado no tempo dos governos do PSD/Cavaco Silva, mais exactamente com a Lei de Gestão Hospitalar de 1988, que permitiu a prestação de cuidados médicos em termos de gestão privada dentro do próprio SNS e se deu carta branca aos directores de serviço e a outros negociantes da saúde para parasitarem o serviço público, deixando que acumulassem tachos no privado ao mesmo tempo que o sabotavam com absentismo e criação de longas listas de espera para consultas e cirurgias. Não se trabalhava no público para se trabalhar no privado, levando os doentes de uma lado para o outro. Tem sido o fartar vilanagem e o resultado final está a à vista!

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