quarta-feira, 25 de abril de 2012

"... Abriram os privados, têm de fechar os públicos...”



Numa das suas missas, o reverendo Marcelo (Rebelo de Sousa) não deixou de lançar mais uma das “inconfidências”, que geralmente intervalam com intriga (sem aspas), revelando conversas com “entidades privadas” (geralmente amigas do peito género Ricardo Salgado, patrão do BES) que lhe teriam sussurrado: “… Abriram os privados, têm de fechar os públicos…”.

Vem este introito a propósito do encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) em Lisboa por que acabou de abrir o Hospital de Loures, entregue à gestão privada do grupo BES Saúde, como seria de esperar, e cujo contrato prevê a realização de 1800 partos por ano. Ora, sabendo-se que, na área de Lisboa, há cerca de 13 mil partos por ano, a MAC realizou cerca de 5 mil em 2011, existem 4 grande unidades hospitalares públicas para realizar esses partos e que desde 2009 funcionam cinco hospitais privados dotados de serviços de obstetrícia e ginecologia, depressa se conclui que: para os privados abrirem, os públicos têm de fechar!

Mas não é apenas em Lisboa que este governo, pela mão do gestor-tecnocrata Macedo, pretende fechar importantes unidades do SNS. Em Coimbra, prepara-se o encerramento das duas Maternidades do Estado, M. Dr. Daniel de Matos (ex-HUC) e M. Byssaia Barreto (ex-CHC), com o argumento de “excesso de oferta” e aproveitando a junção dos dois centros hospitalares da cidade no recém CHUC (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra), operação decretada ainda no tempo do governo PS. A pressa é grande, não se sabe bem aonde abrirá a “nova Maternidade” - se chegar abrir! - embora tudo indique que seja nas instalações, devidamente remodeladas para esse fim, do Bloco Central do Hospital Novo, e, ao que parece, onde presentemente funciona o Serviço de Psiquiatria Homens. No entanto, toda a gente se cala escudando-se na alegada falta de verbas, o que não impede que a comissão, formada para estudar o assunto, se tenha comprometido a apresentar o relatório final e respectiva proposta no próximo mês de Maio. Se não há dinheiro, como dizem, então qual a razão da pressa? A resposta é simples: vai abrir já para o princípio do mês, e a pouco metros do Hospital Novo, o novo e grande hospital privado Ideal Med – Unidade Hospitalar de Coimbra (será o maior de toda a região centro), dotado de todas as valências, incluindo – como não poderia deixar de ser! – a de… maternidade. Ou seja: "Abriram os privados, têm de fechar os públicos”!

Quanto à questão da junção dos serviços de Psiquiatria, também um “excesso de oferta” em Coimbra – existindo estes serviços no Hospital Novo, H. Sobral Cid e ainda no H. do Lorvão, cujo encerramento já foi decretado –, a dúvida prende-se agora como e onde alojar todos os doentes: se no Bloco Central ou no Bloco de Celas do Hospital Novo; ou, ainda, se o H. Sobral Cid fecha já ou fechará aos poucos? Mas, tudo leva a crer que a receita, já prescrita e a aviar dentro em breve para o Serviço de Urgências do H. dos Covões, será a mesma para a dita “reestruturação” dos serviços de Psiquiatria. A diferença é que os doentes desta especialidade são geralmente pessoas de menores recursos económicos, e o negócio, pelo menos quanto a internamentos, será menos apetitoso…

Ainda quanto ao negócio das maternidades, parece que muita gente se “esquece” que foi graças aos serviços públicos (SNS) e aos diferentes profissionais que aí trabalharam e trabalham, que, na sua maioria, colocaram o interesse da população acima das contas bancárias pessoais, e fizeram com que Portugal passasse, em 30 anos, de uma das mais elevadas taxas de mortalidade infantil para uma das menores (2,5 por mil), apresentando também dos mais elevados índices de qualidade em saúde na área materno-infantil da Europa e até do mundo, área onde os privados nunca conseguiram fazer concorrência. A não ser agora com a prestimosa política dos governos PS e PSD/PP, com este último a querer cortar 600 milhões de euros no financiamento do SNS.

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